artes visuais
A ponte japonesa (1900)
Monet
Museu de Belas Artes de Boston
Boston, E.U.A
domingo, 20 de fevereiro de 2022
Bez Batti e as Picassianas: um amadurecimento
Conhecemos o trabalho de Bez Batti há cercad de vinte anos; uma arte singular, contextualizada na Estética do Frio, esta conceituada por Vitor Ramil. O manuseio do basalto, pedra que caracteriza a Região de Colonização Italiana na Serra Gaúcha, o torna um artista peculiar: Bez Batti a transformava em formas "sem forma", ora lapidadas, lisas, ora porosas, por vezes numa mesma peça. Uma representação dos que aqui vivem: transição entre brutos e "polidos", buscando modernização ao mesmo tempo que tradição e conservadorismo transparecem em cada ato. Algumas obras de Bez simbolizam muito o angular e o circular, remetendo também a estes intermezzos, transições.
Foi uma surpresa a última exposição de Bez Batti, da série Picassianas. Percebe-se uma maturidade no trabalho do artista bento-gonçalvense, advinda da experiência, da construção poético-conceitual e do aprimoramento técnico que coincidiram com o olhar de investidores, empresários que acreditam na arte como fator civilizatório, valorizando a singularidade de Bez Batti.
Picassianas não é uma releitura de Picasso, mas uma ode à obra do espanhol, à revolução que aquele provocou na história da arte ocidental, especialmente quando valoriza o primitivismo, às máscaras de povos tradicionais, talvez ao originário da arte. Os cavalos, os ângulos, os traços cubistas em rostos que, em um diálogo com Picasso, Bez Batti transfigura seu estilo particular: a expertise com a pedra, o lido polido e brilhante, em contraste com os rascunhos e os sulcos opacos, espinhosos. Bez Batti, com a série Picassianas, se mostra uma referência para a escultura e para a arte, não apenas brasileira, mas internacional.
Imagens de divulgação do Atelier do Artista
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
Mtb 15.241
terça-feira, 28 de abril de 2020
CURADORIA!
Curador é cuidar, zelar pela obra do artista, dar visibilidade ao trabalho dele. Cuida do negócio da arte, em contraposição à criação em arte.
Curadoria é um campo interdisciplinar (valor da obra, patrocínio, logística, aluguel de espaço, iluminação, contacto com imprensa, contextualização (histórica, cultural e teórica) do trabalho ). De onde e para onde a obra quer ir. Levantar características que dêem visibilidade à obra.
Trabalho do curador abre um acontecimento, apresenta o trabalho como matrizes para novas seqüências: raízes e ramos que podem surgir da obra. Acrescenta marketing e outras linguagens à obra. Abre um sentido, dá sentido ou dá um espaço para que outros sentidos possam surgir. O curador deve ter sensibilidade para apresentar o objeto curado para que não haja prejuízo de percepção. Não deformar o trabalho nem para mais, nem para menos. Tem uma função social e de educação não formal. – a partir de texto de Cauê Alves, intitulado Curadoria como historicidade viva.
A exposição fotográfico-performática A fotografia como corpo performatizado: a autoridade de imagem construída, que está acontecendo no Espaço Cultural ESPM-SUL, sob curadoria de Niura Legramante Ribeiro, certamente atinge os objetivos de uma curadoria como o autor propõe.
A curadora apresenta a idéia de fotografias com corpos-modelos, apresentando movimentos, vinculados ou não à natureza, aos objetos, à vida que se desenvolve e se desenrola no decorrer do tempo fotografado.
A curadora apresenta as fotografias, como momento do modelo fotografado – o performer, o fotógrafo está aí para registrar este momento.
Diversos são os fotógrafos, como diversos são também os modelos fotografados, os ambientes, as nuances de cor, sugestão de movimentos, luz, imagem.
Segundo a curadoria a fotografia selou um pacto com a representatividade, para formar uma noção de imagem.
Para mim, a fotografia, em seu início, buscava registrar e reter um momento, uma imagem que se quisesse perpetuar na lembrança. Esta era a função da fotografia.
Em nossos dias, a manipulação das imagens, em todos os contextos, mesmo para retocar uma fotografia mal-feita, ou sem os resultados esperados, para manipular a imagem de uma modelo com distorções, imperfeições, tudo se tornou uma outra busca, uma busca performática que faz, tanto do modelo retratado, quanto do fotógrafo, um possível “artista”.
Esta acaba sendo a idéia proposta pela curadoria no caso, penso eu, com os artistas presentes na apresentação (fotógrafos e modelos).
A curadoria preparou fotografias performáticas, aliando movimentos, simulados ou não, a manipulações das imagens, propondo novas (ou velhas leituras).
Em fotografias de inserções de modelos na natureza, a cor, a luz, a sombra, o aparecer-desaparecer.
Registros de sombras, de movimentos, a sombra => seqüências de fotos e/ou manipulação de imagens, seqüências como cinema, dando a sensação do movimento através do tempo.
Selecionamos, de início, duas fotografias da mesma fotógrafa, Danny Bittencourt.
1
DANNY BITTENCOURT
Superfície
Impressão em papel Fine Art
A fotografia mostra uma modelo deitada sobre a água com perna e braço esquerdo erguidos. Aqui o movimento é o correr da água, a modelo está imóvel no momento da tomada, mantendo um braço e uma perna fora da água. Estes membros não estariam sob o efeito do movimento da água?
2
DANNY BITTENCOURT
Resistência
Impressão em papel Fine Art
A fotografia retrata uma modelo na beira do rio, prestes a cair (ou dá a idéia de que está a cair dentro do rio) e o fotógrafo registra este ínterim anterior à queda.
Aqui o movimento é o da modelo. Ela está em movimento no ar, na “cena”.
3
CLÓVIS DARIANO
Do sagrado ao profano, 2014
Fotografia digital, 60x80
Uma imagem, circundada por diversas imagens, se contrapõe àquelas. A primeira, centralizada, em tamanho maior, parece estática. As demais, menores, por estarem “desfocadas”, remetem ao movimento. Mas a diferença é enganosa. O conjunto lembra uma obra fílmica, na qual se desenrola uma ação: o estar no quarto, o despir-se, culminando no ato masturbatório. A agilidade das primeiras ações parece quebrar-se num momento quase estático do último ato, representado na imagem central. O estático do êxtase remete à idéia metafísica de que o orgasmo é um “breve morrer” – aqui poderíamos dizer que há um paralelo do conjunto de imagens com a escultura “O êxtase de Santa Tresa “ de Bernini: um movimento estático, um êxtase em ação. E “do sagrado ao profano” pode, neste sentido, també configurar-se em “do profano ao sagrado”. Basta uma outra perspectiva hermenêutica.
4
NATÁLIA SCHULL
Movimento, 2015
Fotografia em papel fotográfico, 90x60
Uma série de imagens, colocadas lado-a-lado, enfileiradas, pode muito bem ser “lida” como um texto: da esquerda para a direita, de cima para baixo, tal como uma narrativa. Mas imagens correspondem a palavras? Há uma sintaxe que ligaria uma imagem a outra, formando um texto? Diversas imagens formam um conjunto narrativo? O cinema afirmará que sim. Mas a dúvida permanece. A artista-fotógrafa parece concordar, ao nomear sua obra “Movimento”. O conjunto de “Movimento”, assim, parece uma dança, uma obra coreográfica, uma “escrita de movimento”. A obra em questão, fotográfica, transfigura-se, neste sentido, em uma partitura de dança. Muito bem elaborada.
Fundação Iberê Camargo
A curadoria preparou uma exposição da obra de Iberê, denominada Diálogos no Tempo.
Curadora: Angélica de Moraes
A proposta é apresentar ao público uma investigação sobre o “DNA” da obra de Iberê. A curadora estabeleceu o período em que conheceu o artista, por volta de 1980, momento em que Iberê empreendeu um movimento de retorno ao corpo humano, à figura humana, aos reflexos que deformam o que espelham, com fartas camadas de tinta, as linhas em seu elemento natural.
5
IBERÊ CAMARGO
Estudos para a pintura Fantasmagoria IV, 1987
Tinta de esferográfica sobre papel, 32x17cm, 31,8x21,2cm
Col. Maria Coussirat Camargo/Fun dação Iberê Camargo, Porto Alegre.
Tracejados em preparação para uma possível pintura, um corpo feminino, um corpo masculino, anotações. O traçado dos corpos e a provável idéia de uso em serigrafias, sua mostra das obras nesta modalidade evidencia o uso do corpos e riscos coloridos sobre estes, como o proposto neste esboço (os riscos sobre os corpos!).
6
IBERÊ CAMARGO
Iberê, 1987
Óleo sobre tela/78x55cm
Col. Maria Coussirat Camargo/Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
Auto-retrato do artista. Tela escura, uso de cores escuras, excessos de tinta. O “retrato” se faz com sulcos profundos realizados com algum objeto pontiagudo que determina o traçado.
Esta tela, aparentemente, remete a outra do começo do artista em um auto-retrato, lá bem mais delineado e claro, quase uma fotografia mesmo, de sua juventude. Digo que a tela proposta remete à segunda (que é anterior) pois ambas foram expostas juntas.
Na proposta da curadora as telas realmente foram colocadas, na exposição, lado a lado para que o visitante possa compará-las em momentos distintos da obra do artista.
Importante dizer que Iberê nasceu em 1914, em 18.11, em Restinga Seca (RS) e morreu em 09 de agosto de 1994, em Porto Alegre (RS).
7
IBERÊ CAMARGO
Diálogo, 1987
Óleo sobre tela
42x30cm
col. Maria Coussirat Camargo / Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
A figuração, retomada por Iberê na década de 1980, está presente, com traçados e pinceladas que remetem ao cubismo, com noção de perspectiva modificada, ora parecendo figuras “chapadas”, como nas pinturas bizantinas. O uso das cores escuras dominantes é contrastado com o branco que preenche os corpos. O estilo de Iberê se faz presente. Quanto ao conteúdo: o “diálogo” que dá nome à obra parece não-dialógico, muito mais impositivo, com um dos retratados com “dedo em riste”. O outro retratado, no entanto, ri. Que diálogo resta quando as línguas (os idiomas/as intenções) não conversam? Figura-se a “diferença” na obra, mas os diferentes, impondo-se, excluem-se. Fica a intolerância.
Exposição de Sérgio Camargo – Fundação Iberê Camargo
Exposição sob o título: Luz e Matéria
Curadoria Paulo Sérgio Dutra e Cauê Alves
Segundo os curadores a obra do artista se confunde com seu método de trabalho.Sérgio Camargo (1930-1990). Criação como processo íntimo da forma. São obras que se confundem “tela” com escultura, trabalhos em granito branco (mármore) e preto , além de peças em madeira (colagens).
8
Sem título, edição 82, 1965
Relevo, madeira pintada
42x62,4cm
Coleção particular
A “tela” está exposta como um quadro. São “caninhos” – “tocos”, como os chamou o artista – aparentemente “colados” a uma superfície de madeira e pintados por cima com uma cor ocre. Deixou um vão entre os “tocos”, como um “caminho” , entre pedras?.
Na verdade observar um trabalho em exposição, ou uma obra de arte em qualquer lugar é de uma fruição absolutamente individual, particular e da subjetividade de cada um. O observador dá valor à peça, que pode ou não ser igual a que o artista se propôs quando da elaboração da obra.
Bibliografia
ALVES, Cauê. Curadoria como Historicidade Viva.
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
Mtb 15.241
Domingo, 24 de março de 2019
MARGS e a função dos museus!
Van Gogh era um artista genial, mas como ninguém sabia disso (ou só o sabiam os poucos que o exploravam!) pintava para viver, literalmente.
Modigliani, em épocas de endeusamento de Picasso, como o grande nome da vanguarda daquele tempo, não era reconhecido e vivia de bebedeiras com sua pintura sendo usada, inclusive, para pagar seus "tragos".
E, assim, poder-se-ia enumerar tantos gênios não reconhecidos em suas épocas, explorados e que ficariam desconhecidos não fossem os museus a " conservá-los".
Claro que, no mundo da arte, ninguém é totalmente "santo", digamos assim, mas os museus de hoje são a forma de vermos e nos extasiamos com a beleza da arte pelo que ela é: a manifestação do belo. Caso contrário ficariam expostos com colecionadores e vistos por poucos.
Nem todos pensam assim nos dias de hoje, tempos sombrios, em que a arte também se mostra a manifestação dos horrores vivenciados, mas isso é para outros escritos.
O que vem aqui é que o MARGS resolveu, através de seu novo diretor/curador lançar mão de uma ideia: Acervo em Movimento. Cada departamento/núcleo do museu responsabiliza-se, mês a mês, de mostrar ao público uma curadoria com as obras do acervo. Nomearam a isso Acervo em Movimento. Assim, as obras adquiridas/doadas, em guarda do museu, podem ser vistas/conhecidas pelo público que ascende ao museu, o que, parece, ser uma grande ideia, já que sempre ficamos a nos questionar: para que um museu ficar c om obras "engavetadas", sem que o público as conheça e reconheça?.
A primeira mostra é uma curadoria do novo administrador do museu, um conjunto de peças de valor inestimável, de artistas como Volpi, Tarsila, entre outros. Fica até abril de 2019.
O encerramento da grande exposição, dos diferentes núcleos será em 21 de julho de 2019.
Vale a pena conferir!!!
Acervo em Movimento => "experimento de curadoria compartilhada"
Acervo do MARGS é de mais de 5000 obras do século 19 até a atualidade.
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
Caro IBS, neste mês completas 13 anos de atividades. Aliás, foi com tua instauração que pensei (acho que outros também pensaram) que Caxias estava mudando: passando de um estado de letargia cultural para um patamar de reconhecimento dos seus artistas, dando visibilidade às produções locais. Será que me enganei, e continuamos a reconhecer e premiar apenas empresários e seus feitos monetários?
Eu sei, tu nasceste de um esforço grande de teus fundadores. Está lá, em tua ata de fundação de 27 de setembro de 2005. No aniversário de teus 10 anos, toda a equipe comemorou, afinal tu estavas contribuindo com a comunidade, sendo um agente de transformação e inclusão cultural, o que só foi possível com a perseverança e persistência de alguns, o apoio e a colaboração de outros para a realização de projetos e ações educativas. Tu estavas em uma nova casa – e isso, eu acho, parecia maravilhoso, afinal uma universidade estava te acolhendo (mas acolher é um ato de extrema e infindável responsabilidade, não concordas?).
A tua existência é de uma importância sem igual, pois divulgas a obra de um artista, marcada por sua posição política, que contribuiu para a construção de nossa identidade. O Bruno Segalla (1922-2001) foi gravador da Maesa (aquela empresa cujo complexo predial está abandonado, sabe?), desenvolveu milhares de medalhas comemorativas e religiosas, além de condecorações. Meu avô, Genuíno Guilherme Reolon (outro “esquecido” pela cidade), estava bem perto dele, trabalhavam juntos no mesmo setor – um setor que era considerado o artístico da Eberle. Além disso, Bruno deixou uma obra extensa (foram seis décadas de produção) de centenas de esculturas em cerâmica, madeira e bronze, escreveu frases com até 135 letras em cabeças de alfinetes e importantes monumentos públicos em Caxias são de sua autoria. Sabe, as pessoas nem sabem, mas no saguão da Casa da Cultura tem obra dele, assim como bem em frente a ela, na praça Dante. Claro, até no Palácio Piratini. Mas a que considero sua obra-prima é essa mesma que eu disse estar na praça: é um monumento à Gigia Bandeira, uma mulher funileira, à frente de seu tempo. Com conceito e expressividade únicos, Bruno a intitulou de Instinto Primeiro, o que por si só já é belo e singular. Essa escultura talvez seja símbolo de nossas mães – as matronas? – que com um amoroso Olhar nos constituem sujeitos.
Em 2015, tu estavas “a todo vapor”: com processo de documentação museológica se modernizando para a salvaguarda do acervo de Bruno, aliado a um programa educativo transformador das novas gerações. Mas outro dia, aquele em que fui te visitar, me decepcionei. Aquelas pessoas que cuidavam de ti e nos recebiam não estavam lá, a exposição era a mesma de um ano atrás. A Prefeitura chamou funcionários cedidos e a universidade te deixou meio abandonado, afinal tu não mereces um corredor como espaço expositivo. As empresas também te abandonaram? A cidade te abandonou? Que este teu aniversário sirva para pensarmos no que fizemos contigo – isso reflete uma Caxias que trabalha muito, constrói prédios e valoriza o que e quem é de fora. Sabe, eu sonho com um dia em que estarás numa casa de destaque – sabe aquela em que os Eberle residiam, na Sinimbu? – e que serás fonte de turismo. Será que é possível?
AINDA: que tal dar uma iluminada em uma de suas principais obras??. Bem que o Cristo Terceiro Milênio merece umas lâmpadas que o iluminem à noite e o vejam de longe, não é mesmo???
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
E a Bienal da Fotografia????????????......
Caxias sedia a Bienal da Fotografia Nacional em Preto e Branco.............lindas fotos...........
eu, particularmente, gostei mais de duas......das 150 apresentadas.............que nem menção honrosa...........receberam................mas, para mim.............são bárbaras........... com tudo o que o termo quer dizer..........e diz.............
mas..............como a festa e apresentação era nacional.............foi digna do termo............
fizeram até uma grande apresentação com "gaudérios" e danças e canções...........que há muito não se via por estas plagas................M A R A V I L H O S O!!!!!!!......
excelente o video institucional apresentado..............digno do momento imagético...........
e o "buffet".........cruzes!!!!!!..............maravilha............
só uma coisa.............
quando um secretário de governo fala................ele não fala apenas por si...........ele fala por seu séquito de colaboradores..............e mais...............ele fala em nome daquele que o nomeou................ou assim deveria ser...........
de mesma forma um representante...........(esta é a palavra!)..........do legislativo, das instituições.......etc..............
claro...........num mundo em que vige o egoismo...........na verdade, egocentrismo...........que, psicanaliticamente, é um termo vinculado a doença............e não apenas a personalidade..............se tem o que se tem.............não é mesmo???????
Vera Marta Reolon
MTb 16.069
Terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Transformação: palavra-chave em duas exposições abertas no MARGS
Duas exposições recém-abertas no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (com visitação até o dia 11 de março) discorrem e trazem à tona o tempo e a mudança sob enfoques controversos. O embate Heráclito x Parmênides parece aqui retornar com outras facetas: o ser é estático, sempre mesmo, ou é devir, sempre mudança? Lembrando que Platão demonstrara que trata-se de um meio-termo. Vejamos as exposições.
Em “Mudanças: este é o nosso lugar”, exposição de fotografias, o enfoque (ou o objeto) é o tapume, que serve para delimitar uma reforma ou uma construção. Essa forma urbana que provoca uma descontinuidade no olhar sobre a paisagem, que esconde e que não permite ver, e que atiça a curiosidade (“que estão fazendo?”) talvez denuncie, para o artista, que o ser é mudança.
Já em “Destempo”, exposição de fotografias e duas vídeo-performances, o enfoque acontece pelo que está e pelo que não está (ou pelo que se vê e pelo que não se vê), ausência e presença, vazios, o que restou, a lembrança – ou o que gostaria que ali estivesse (uma vez tendo estado ou nunca) e não está. A relação com os objetos são substitutos da relação com as pessoas: são referências destas ou por si? Para a artista, talvez, o ser é estático.
Os “talvez” empregados aqui merecem atenção. Nem em “Mudanças”, nem em “Destempo”, as coisas são tão pós-modernas, se assim podemos dizer. A lógica empregada em ambos é a lógica que compreendemos desde Platão: somos um pouco o mesmo, sempre, e um pouco mudança, porque temporalizados – não só presente, mas frutos de uma conjugação histórica, o que foi, o que está sendo e o que ainda pode ser, logo ninguém é sem ter sido e sem ter uma perspectiva (de amanhã).
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
Além da exposição “Bruno Segalla: Estudos e processos”, referente às obras de Bruno Segalla (veja crítica abaixo), estão acontecendo mais quatro relevantes mostras em Caxias. No Centro Municipal de Cultura Ordovás, abriram nesta semana: “Percursos e percalços”, que homenageia a trajetória de Odilza Michelon, artista sócia do Núcleo de Artes Visuais (NAVI) de Caxias do Sul; e “Sala de Fotografia: 10 anos”, que reúne diversas obras de uma multiplicidade de temas e olhares dos fotógrafos integrantes do grupo Sala de Fotografia.
No Campus 8 da UCS, por sua vez, duas outras exposições valem a pena ser conferidas: a dos alunos do curso de Design de Moda, que recriaram as criações de Galliano para a Maison Dior, evidenciando a arte na moda pela diversidade de formas e texturas (e ressaltando a importância do tecido para a finalização de obras desse tipo”; e a de um frei (está assim mesmo, sem nomeação, nem curadoria, nada que se possa identificar! - descobrimos por acaso que é de um frade), que reúne também obras de diferentes matizes, materiais, técnicas e temas.
Descobriu-se, enfim (depois de muita procura!) - mostra "Itinerarium Meaum", de Celso Bordignon.
No papel de crítico, não posso deixar de ressaltar que determinadas curadorias poderiam ter sido melhor exploradas: em algumas, esqueceram de expor as fichas técnicas das obras; em outras, um texto conceitual que abre sentidos ao expectador, possibilitando leituras e novas interpretações. Vide texto sobre Curadoria, que já publicamos nestes espaços.
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
Quinta-feira, 12 de outubro de 2017
O percurso de Bruno Segalla
A exposição “Bruno Segalla: Estudos e processos”, que acontece na sede do Instituto Bruno Segalla, no Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul, marca trajetórias: não só do artista, mas do instituto que leva seu nome.
Depois do lançamento do livro “Dossiê de percurso”, que visou divulgar a história do IBS, chegou a vez de Bruno ser homenageado com uma exposição cujo objetivo é expor seu processo criativo por meio das próprias obras.
Interessante observar que esse processo, esse percurso, não se evidencia apenas em esboços e obra final, mas também em obras que figuram ora como esboço, ora como projeto, ora como produto final. Ainda que, contemporaneamente, a historiografia da arte se baseie em esboços e os coloque em pé de igualdade às obras finais (lembremos dos esboços de Da Vinci, p.ex.), em Segalla não se trata disso: alguns esboços não podem ser assim nomeados, já que, em si, não são apenas “testes”, mas mesmo obras finais que, se expostas sozinhas, não podem ser vistas como projetos. Isso se evidencia em obras/estudos do Jesus Terceiro Milênio e do monumento ao padre Eugênio Giordani, bem como na diversidade de materiais e suportes para um mesmo tema.
A exposição é uma oportunidade única para conhecer a arte de Segalla, seus percursos e seus processos. Mas não só: dá visibilidade à vida e obra de um artista que estão intimamente ligados à história de Caxias do Sul.
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
Fui convidado, como crítico de arte, para a abertura da exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na arte brasileira, apresentada no Santander Cultural, em Porto Alegre. A mostra que, segundo seu curador, pretendia dar espaço a obras que não seriam expostas, conjuntamente, em outros museus, daí seu nome Queermuseu, museu-estranho. Pude, como espectador, avaliar a exposição inédita de cerca de 270 obras de mais de 80 artistas com processos criativos diversos e dissonantes, e de variados anos de criação. Uma das obras, por exemplo, de 1925, intitulada “Mulher tomando chimarrão”, chamou minha atenção, por ser um marco contestatório, no meu entender, ao status quo da cultura gaúcha, tão marcada pelo machismo e pelo patriarcalismo, alicerçada no tradicionalismo e, ao mesmo tempo, ignorante da tradição em que o gaucho era o homem da lida e da caça e dependente da mulher, responsável pela terra, pelo plantio.
A mostra, entretanto, foi interditada nesta semana, depois de fortes denúncias, protagonizadas pelo Movimento Brasil Livre, por supostos incentivos à pedofilia, zoofilia e ao vilipêndio de elementos religiosos. Tais incentivos, se configurados como tais, são crimes, previstos na lei.
Contudo, o espaço aqui sendo curto, pretendo apenas levantar algumas questões para reflexão e para o debate, cernes da atividade artística. Uma obra de arte, nesse sentido, por si , pode incentivar algo ou apenas propiciar que potenciais sentimentos venham à tona? Interessante a exposição trazer em sua nomeação o termo Queer, traduzível do inglês por Estranho, hoje associado, inclusive teoricamente, à comunidade LGBT e à diversidade sexual. O Estranho (Unheimliche), entretanto, já salientara Freud, está intimamente relacionado ao Familiar: aquilo que nos causa repulsa, por vezes, está em nós. A noção de estranho também penso associada a de Estrangeiro, aquele que não pertence ao nosso grupo, por nós ignorado ou execrado ou, em outros termos, o Outro, a Alteridade, tão necessários para a constituição da subjetividade e para essa coisa tão humana que é a sociedade. Aliás, nada mais humano que a arte, a dimensão simbólica, que metaforiza e transfigura a realidade, tão cruel e violenta, em sua aspereza diária do noticiário político e policial. Já que simbolizada, a realidade de uma obra de arte não é a própria realidade. Imagem não é a própria coisa. Depende da subjetividade de quem a cria e da subjetividade de quem a olha, que, não necessariamente, resultam num mesmo ponto: diversos olhares resultam em diversas conclusões.
Questões mais importantes ficaram de fora das discussões acaloradas (e nem me refiro às das redes sociais, das quais me mantenho afastado). Questões como: interditar uma exposição não configura censura (calar a liberdade de expressão) ou mesmo totalitarismo (lembremos até mesmo do EI ao Charlie Hebdo)?.
Quais os limites éticos da atitude artística? A classificação etária se impõe em determinados casos? Há diferença entre atitude artística e arte? Sem mencionar a problemática da ontologia da arte ou da valoração da obra (o que é uma obra de arte?).
Fica o questionamento: afrouxamos nossos valores (éticos e estéticos) ou progredimos/regredimos em seus juízos?
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
Sexta-feira, 12 de setembro de 2017
"QUEER" MUSEU!!
O Assunto do DIA!
O fechamento da Mostra Queer Museu, no Santander Museu, em Porto Alegre!!
Pois é.....Nós Fomos na Abertura da Mostra.....que aliás teve um serviço IMPECÁVEL!!!!
A Curadoria da Mostra se esmerou e nada deixou a desejar!
Eu, particularmente, tenho gosto pela Arte Moderna e algumas raras obras de Contemporânea.
Penso que a Arte Contemporânea, assim como quase tudo o que vemos e vivemos em cultura neste nosso mundo contemporâneo deixa a desejar, em roteiro, em musicalidade, em perfeição de movimentos, em cor e vivacidade,..., em ARTE...........mas....sempre há exceções..
A Mostra Queer se propunha a mostrar a DIVERSIDADE. Creio que este objetivo foi atingido.
Vimos lá obras extremamente interessantes, por exemplo, pintura de 1925, com uma mulher a tomar chimarrão e sendo retratada no ato.
Primeiro que, mesmo no Rio Grande do Sul, onde hoje mulheres andam com cuias de chimarrão para cá e para lá....mas, à época, isso era prerrogativa do "fazendeiro". Ser retratada , então?
Achei bárbara!!!!!
Assim como diversas obras que lá estavam....
Óbvio que algumas achei muito " contemporâneas"........outras apelativas.....outras de mau gosto....
Mas como disse ....É o MEU gosto!!!...........e gostos não se discute.....é a minha OPINIÃO!!.....e isso também não se discute.........
AGORA.....fechar o museu, fechar a mostra????
As discussões que ouvimos hoje na imprensa????
Voltamos a um tempo de CENSURA e HIPOCRISIA!!
Explico:
Censura sim.....porque muitos falaram e nem foram ao Museu ver as obras e o seu conjunto, a proposta da curadoria. E, pelo que pude ouvir, não queriam nem atentar ao que o curador tinha a dizer.....nem entendem de ARTE (verbalizaram isso - e poder-se-ia constatar que realmente não entendiam!).
Levar crianças para uma mostra.....qualquer mostra.....de escola ou não.......e eu sou da EDUCAÇÂO.....além de outras "cossitas".............deve "forçar" o professor ou educador a antes ver a mostra para sentir o que trabalhar aí, com crianças, adolescentes, adultos, o que for..........e depois levá-los!!!.............
Penso, quanto a isso, que o Museu poderia ter mantido algumas obras em um espaço reservado, com classificação etária............mas isso não isenta o que está dito no parágrafo anterior.....
Quando o Jornal francês Charlie Hebdo publicou charges sobre o mundo muçulmano...e todos só ficaram sabendo que tal jornal existia naquele momento, devido a morte do jornalista pelo grupo Estado Islâmico, todos se posicionaram contra os terroristas, porque devemos respeitar a opinião e a liberdade de imprensa de escrever, desenhar, criticar, o que for.
Interessante a Hipocrisia existente já que lá, os jornalistas criticavam abertamente uma religião que não era a sua.............e ninguém falou de que deveríamos respeitar o culto religioso de cada um......
Aqui...........outro peso, outra medida.........
E olha que uma das peças que criticam.........tem mais a ver com Leonardo Da Vinci, e sua figura de homem, em estudo, talvez de sua sexualidade (conforme, inclusive, Freud e seu estudo sobre Leonardo - Obras Completas - Imago - volume XI).
Geeeeeeeente! que é isso?????
Estamos no Século XXI.............ou voltamos à Idade da Pedra Lascada??????
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
Quatro exposições mobilizam o MARGS.
Talvez a, não mais importante porque tem melhores obras e/ou projeta mais a arte, mas porque se propõe a ser/abordar a arte contemporânea e seu início (?).
A Fonte: 100 anos de Arte Contemporânea pensa determinar o marco de fundação da arte contemporânea com a apresentação d’A Fonte, de Duchamp.
Melhor contextualizar: em 1917 Duchamp apresenta um trabalho seu (cubista- segundo minha opinião) para ser exposto no Museu. O quadro é negado. Na comissão julgadora está seu irmão. Sua família tinha grande envolvimento com a arte. Duchamp então obtém um urinol, em loja de departamentos especializados no objeto, e sob o pseudônimo R.Mutt, nomeia como A Fonte e apresenta na 1ª Exposição de Artistas Independentes. A crítica especializada entra em alvoroço, como era de se esperar. Ele questiona a arte, o que pode ou não ser nomeado arte, qual a importância de obras que devem estar em museus, etc...
Muitos urinóis/Fontes depois, em 1960, após um “boom” inicial na Inglaterra, a Arte POP, Andy Warhol e sua POP ART, retomam os questionamentos e imprimem novos conceitos e olhares à arte.
Para mim aqui, verdadeiramente, a arte contemporânea inicia, reciclando a pergunta “duchampiana”. Os trabalhos do acervo do MARGS, atestam isso.
A segunda mostra, A Inquietude do Olhar, de V. Reichert, é um mergulho nas cores e formas do fundo dos mares.
Uma Possível História da Arte do Rio Grande do Sul, nos envolve em trabalho de artistas que fizeram a história deste estado na arte. Belas obras e escritos a reivindicar um olhar apurado à estética tão esquecida por aqui.
Quanto à exposição METAMORPHOSIS de G.Johnson, creio que deva tentar se reportar a obra de Kafka. E aí o perigo, conforme nos atesta um texto inédito de Heidegger.
Primeiro, Metamorfose de Kafka aborda uma transformação completa de um ser humano em um animal. Não há mais humano, há animal. Aí chegamos ao grande equívoco da atualidade, quando confundem híbrido com mistura. Se híbrido, não há mais um e dois, há o três resultante, com novas características - mistura é um e dois misturados, nem um, nem dois, nem nada novo. Exemplo: água e azeite não se misturam....são imiscíveis....cada um permanece com suas propriedades (deu prá entender????).
“[..] da cultura grega, estabeleço o conceito de hybris – o que ligo à mistura. Jaeger indica que a hybris grega estava associada ao ultraje e à desmedida – fundamento das perversões – quando os homens, visando o além-limite, não pensavam humanamente. Inscrita nos terrenos do direito e do religioso a hybris seria a maior ofensa a physys, a natureza : aspirar à elevação exclusiva das divindades. [..] deixar-se seduzir pela hybris rapidamente se transforma na mais profunda dor e corrosão. [..] isto posto é por tal definição que renego a hybris, defendo a híbrida – que correlaciono ao híbrido, também ligada a conexão de saberes, de culturas, a miscigenação (oposto à eugenia). Neste sentido, a híbrida inscreve-se na estrutura neurótica, que aceita a diferença e não busca aniquilá-la.”. OLIVEIRA, Guilherme Reolon de, in ARTE PÓS NON-SENSE – (texto inédito no prelo).
As obras de G. Johnson são isso: misturas de materiais, mas metamorfose, híbrido não.
Arte – o que é ARTE? - que é ESTÈTICA?
Fico com os gregos (sempre!!!!!!): ESTÉTICA sem ÉTICA não é ESTÉTICA. ARTE deve abarcar ÉTICA.
Godard, citando Lênin, diz que a “ética é a estética do futuro”. Se é “fake news” ou não, pouco se me dá. O que importa é que é absolutamente atual!!!!!
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
CURADORIA!
Qualquer um pode ser Curador?
O que é curadoria?
Pois bem!
Curador é cuidar, zelar pela obra do artista, dar visibilidade ao trabalho dele. Cuida do negócio da arte, em contraposição à criação em arte.
Curadoria é um campo interdisciplinar (valor da obra, patrocínio, logística, aluguel de espaço, iluminação, contacto com imprensa, contextualização (histórica, cultural e teórica) do trabalho ). De onde e para onde a obra quer ir. Levantar características que dêem visibilidade à obra.
Trabalho do curador abre um acontecimento, apresenta o trabalho como matrizes para novas seqüências: raízes e ramos que podem surgir da obra. Acrescenta marketing e outras linguagens à obra. Abre um sentido, dá sentido ou dá um espaço para que outros sentido possam surgir. O curador deve ter sensibilidade para apresentar o objeto curado para que não haja prejuízo de percepção. Não deformar o trabalho nem para mais, nem para menos. Tem uma função social e de educação não formal. – a partir de texto de Cauê Alves, intitulado Curadoria como historicidade viva.
A exposição fotográfica-performática A FOTOGRAFIA COMO CORPO PERFOMATIZADO: A autoridade de imagem construída, que está acontecendo no Espaço Cultural ESPM-SUL, sob curadoria de Niura Legramante Ribeiro, certamente atinge os objetivos de uma curadoria como o autor propõe.
A curadora apresenta a idéia de fotografias com corpos , apresentando movimentos, vinculados ou não à natureza, aos objetos, à vida que se desenvolve e se desenrola no decorrer do tempo fotografado.
A curadora apresenta as fotografias , como momento do modelo fotografado – o performer- o fotógrafo está aí para registrar este momento.
Diversos são os fotógrafos, como diversos são também os modelos fotografados, os ambientes, as nuances de cor, sugestão de movimentos, luz, imagem.
São modelos parados sobre a água, esta em movimento, ou na foto da modelo captada em um interstício para cair lateralmente na água – aqui o movimento é sugerido.
Na apresentação fotográfica de uma modelo nua sobre a cama, a sugerir masturbação, mas o fotógrafo faz inserções de sombras com roupa, na cama, saindo da cama.
Em fotografias de inserções de modelos na natureza, a cor, a luz, a sombra, o aparecer-desaparecer.
Registros de sombras, de movimentos, a sombra => seqüências de fotos e/ou manipulação de imagens, seqüências como cinema, dando a sensação do movimento através do tempo.
Vale a pena ver!
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069