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dança

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La valse (1900)

Camille Claudel

Museu Rodin

Paris, França.

domingo, 10 de novembro de 2019

EXCELÊNCIA DO GRUPO CORPO NÃO SURPREENDE

  

Conhecer trabalhos anteriores de uma companhia de dança, considerada por muitos a melhor do país, tendo em vista sua excelência é um perigo. Criamos muitas expectativas, projetamos surpresas que, raramente são atendidas. Foi o caso com o Grupo Corpo, que já conhecíamos, mas não em apresentações ao vivo - e aí estávamos muito a fim de ver ao espetáculo GIL, apresentado no último fim-de-semana, no Teatro do SESI, FIERGS. Até porque juntar a CIA e o cantor tropicalista pode ser um estouro de tão bom. Mas não foi o caso. Vejamos.

 

O grupo optou por apresentar não só GIL, mas "Sete ou Oito Peças para um Ballet", coreografia de 1994 - ambas de 40 minutos, com intervalo entre elas. Sabe-se que o ideal de um espetáculo de dança é que não dure mais de 60 minutos - causa certo desconforto - e não estamos falando daqueles que não "curtem" dança. Isso foi um ponto negativo forte, já que a maioria estava desmotivada para GIL após o intervalo.  Outras questões: as canções, que foram compostas por Gil especialmente para o espetáculo, ou seja não eram as da carreira do músico, pouco representavam sua expressividade conhecida: as letras estavam ausentes (sabe-se da excelência do músico em poesia), e as composições, ainda que trouxessem muito da identidade afro - principalmente a percussão - característica de Gil estavam inundadas de batida eletrônica, uma decepção. Além disso, tendo em vista que já conhecíamos trabalhos anteriores, fica evidente a repetição de movimentos integrados pelo coreógrafo aos espetáculos apresentados - o que pode figurar como estilo - mas nem sempre.

 

Apesar disso, e é bom frisar, apesar disso a excelência do Grupo Corpo é evidente. As coreografias que flertam com diferentes técnicas de dança, do clássico ao contemporâneo, requerem agilidade, flexibilidade inigualáveis. A sincronia - muitas vezes - dividida em duplas - é ótima. E, o maior destaque é para a tradução da música nos movimentos e no uso de todo o corpo, com movimentos de amplitude, de cabeça, mãos e pés, projeções de tronco pouco vistos em outras companhias.

 

Quanto aos argumentos dos espetáculos, abertos a múltiplos sentidos, fica evidente a mudança de visão entre as peças, afinal são vinte e cinco anos que as separam. Ambas refletem suas épocas: a de 1994, com forte sentimento de coletividade, de sociedade, que ora acontece como um todo, ora como grupos, que se aglutinam e se separam; a de 2019, com indícios de  individualismo, apenas com "fundo", ou seja, aparência de grupo. Isso se evidencia nos figurinos: na última peça, por exemplo, são malhas pretas, com desenhos exclusivos - remetendo a pinturas corporais ("tatoos") de negros e indígenas. Aliás, o figurino do grupo  é sempre muito característico, aliado à iluminação, que valorizam os corpos e,  consequentemente, os movimentos. 

 

Fica clara a superioridade do grupo em detrimento de outras companhias, mas esperava-se mais, já que alguns bailarinos, mesmo com excelência técnica, pareciam mecânicos e transmitiam pouca alegria, algo não coerente com a obra de Gil.


GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15. 241 

VERA MARTA REOLON
MTb 16.069

 

.Quarta-feira, 07 de agosto de 2019

Foco no Sapateado

 

Pouco, quase nada, se vê de sapateado por estas bandas. Surpreendente assistir ao espetáculo "Tímpano", na última sexta (02), no Teatro Renascença, em Porto Alegre, apresentado pela Cia de Dança Karin Ruschel. Surpreende não só por ser um  espetáculo de sapateado - o que é raro - mas pela excelência de performance das bailarinas. Também, e cabe ressaltar, por apresentar sentido numa época em que só a presença acontece, e que potencial de sentido é confundido com sem sentido.

 

O mote foi o "trajeto das ondas sonoras no nosso ouvido". E a direção foi muito inteligente no uso da luz e do som - música aliada à percussão produzida pelo próprio  sapateado. Destaque para a coreografia, especialmente nos momentos em que três ou quatro bailarinas estavam reunidas numa interconexão entre o sapateado, dança urbana e balé moderno.

 

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

Sábado, 06 de julho de 2019

Ney Moraes comemora trinta anos de trabalho coreográfico

 

Em comemoração aos trinta anos de trabalho coreográfico de Ney Moraes, o Grupo de Dança da Universidade de Caxias do Sul apresentou, no último domingo (30), no Teatro Pedro Parenti, "Um Olhar Outro".  Espetáculo de dança contemporânea, o trabalho lembrou início e ápice de carreira, processo de formação em dança.

 

Cenário minimalista, com uma rampa ao fundo, remetendo a início e fim, gestação e nascimento, progresso. De início, um único bailarino com movimentos ao chão, contorcionismos, quase a fazer desenhos  com as pontas dos dedos- seria um nascer?. Em seguida, um menino assiste a duas bailarinas com movimentos mais mecânicos, porém sem  maquiagem - pista de dança ou ballet clássico?. O menino tenta imitar tais movimentos. Assiste a  dois bailarinos homens,  cujos movimentos lembraram ora uma relação sexual, ora capoeira ou judô. Surgem dois bailarinos homens em um canto, duas bailarinas, em outro, todos  com maquiagens excessivas em borrões de batom: movimentos executados pelo primeiro grupo eram repetidos com pequenas modificações pelo outro. Por fim, o palco é dividido e três casais o ocupam: de um lado, homens, de outro, mulheres - movimentos que pareciam em espelho. O bailarino que iniciou  no alto da rampa, agora descera e, uma senhora na cadeira de balanço entoa uma cantiga. 

 

A partitura coreográfica apresentou fragmentos e cortes, pouca fluidez: o entre-movimentos era duro, feito de vazios. Seria intenção de ex por uma realidade também de fragmentos, em que os fatos, as pessoas, os acontecimentos parecem desconexos e ilógicos?.

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

domingo, 23 de junho de 2019

Energia do Flamenco é contagiante

Caxias é diversa, não se resume à italianidade, é não há dúvidas. Temos certeza disso diante de espetáculos que chamam a atenção como o TABLAS PÁ TI, da La Cueva, apresentado no último 21, no Teatro Pedro Parenti. Não há como não se encantar com os movimentos sinuosos, a dialética da sinuosidade que caracteriza o entre-movimentos do Flamenco, ora leve e etéreo (com mãos dançantes, o leque, o lenço), ora duro, pesado, marcado (com sapateados, giros precisos) - tanto sensual, como desafiador, quase um tango. Há semelhanças até mesmo com a chula e as boleadeiras gaudérias.

 

Tablas Pá Ti, aliás, transformou o palco em roda de Flamenco, como se estivéssemos nas ruas da Catalunha, em que uns dançam, outros cantam e dão o ritmo com palmas e instrumentos: homens e mulheres se mostram e deixam mostrar, numa harmonia  contagiante como se nós, espectadores, fizéssemos parte de tudo aquilo.


GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

domingo, 16 de junho de 2019

Segunda Edição consolida FIDPOA

 

Não era sem tempo: Porto Alegre precisava de um festival competitivo de dança. E parece que o Festival Internacional de Dança de Porto Alegre veio para ficar. Em sua segunda edição, se consolida como um importante evento num estado cujo potencial em dança é grande, tendo em vista tradição e contemporaneidade de escolas, companhias municipais e particulares, cursos de graduação que se espalham por aqui.

 

À medida que se consolida, o FIDPOA vai crescendo. Como a organização bem frisou no libreto de programação: "há novos sonhos a sonhar" (sic). Com um juri composto de artistas dos EUA, Rússia,  China, Alemanha, Itália, França, Paraguai e Uruguai, o FIDPOA contou com uma programação extensa de  experiência e competição.

 

No que tange à mostra competitiva, o nível técnico é surpreendente, emociona. Há ballet clássico, jazz, dança contemporânea. Vem gente do Rio de Janeiro, de Florianópolis, de Belo Horizonte, de Buenos Aires,..., sem contar os daqui.

 

Qualidade técnica aliada à assinatura e estilo próprios, obviamente, sempre contrastam com performances mais mecânicas, mas isso se reflete no aplauso tanto daqueles que só torcem pelos seus, quanto por aqueles que apreciam a dança.

 

Que venha a terceira edição, ainda maior, ainda melhor!

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

segunda-feira, 22 de abril de 2019

SOBRE A DANÇA

Dia 29 de abril é dia internacional da dança. Arte do corpo, arte no corpo, arte do movimento, da linguagem e da presença, produtora de sentido. Do culto aos deuses pagãos aos palcos italianos, da ópera aos guetos americanos, das pistas ao show business .

Talvez a dança não seja a arte do movimento, mas a arte da Palavra em Movimento, do discurso em ação, discursa(ção)dança(ção): um texto composto de vocábulos (signos, gestos), espaços e pontuações (pausas, paradas). Significantes em movimento, abertos a significações (interpretações, sentidos), inscritos pelo espectador: dança como arte de um espaço, um lugar entre bailarino e plateia, dançante e dançado, danç(andante) e dançan(parado).

Arte do encontro: com o EU, com o Outro, abertura para a alteridade–Outro e para a alteridade-Mesmo (aquela perdida ou presa no pensamento ou no andar-útil, o movimento cotidiano). A dança é o oposto da imagem, ou melhor, da cultura da imagem, porque É, não representa, não ilusiona, mas presentifica. Dança é Palavra em estado bruto, ainda não lapidado (ou super-lapidado!).

Dançar é encontrar, é desvelamento de uma relação, contra a fuga do movimento cotidiano; e só por isso é originário, matriz do Ser da Arte, já que união de pensamento e movimento, ação e aparição, ética e estética.

Se a dança é gênese do ser artístico, então matriz do Belo. Se o Belo é claritas, esplendor do Ser, dançando há um encontro também com o divino, e a dança nunca se afastou desse festejo às divindades, que a caracterizou na antiguidade. A dança é Ideia, e estabelece para a Verdade, para o acontecer-poético das artes em geral, uma conjugação entre música-Ideia (ideia-tempo) e abstracionismo na pintura-ideia (ideia-espaço). É neste Encontro que a dança emerge como arte-unário, Um que engendra e dá materialidade a todas as artes.

 

Esses e outros argumentos estão em livro que lançarei em breve, “Arte pós-nonsense”, editado pela EDUCS, uma teoria da arte e da dança.

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

Segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Profissionalismo e argumento marcam espetáculo da Endança

Marcante foi o espetáculo “Terra” da Endança – Jazz e Cia, que aconteceu nos dias 20 e 21 de dezembro, no UCS Teatro. Era para ser só (só?) a mostra de trabalhos anuais de uma escola de dança. Sabe, daquelas que se vê muito, com aquela cara de amadorismo, em que nada parece sequer ter sido ensaiado, com erros crassos, em que cada convidado só parece interessado em ver o seu amigo e ir embora? Pois é, “Terra” não foi nada disso. O espetáculo foi marcado pelo profissionalismo e pelo argumento (conceito empregado, à semelhança de uma narrativa) que costurou todas as coreografias. E a Endança se mostrou uma Companhia.

 

Sobre o argumento, “Terra: a casa que habitamos”, importante destacar que foi escolhido numa época de valorização da sustentabilidade ambiental, o que o torna bem contextualizado e atento às preocupações contemporâneas. Houve uma pesquisa bem fundamentada do tema, o que ficou claro pelo texto contido no programa (o mesmo narrado durante o espetáculo) e pelas imagens projetadas ao fundo do palco, que funcionavam como cenário. O texto e as imagens, associados, só engrandeceram  e favoreceram as partituras de movimentos, e se constituíram: desde a origem do universo, há 15 bilhões de anos, até a sociedade humana atual. A direção, nesse sentido, optou por um caminho mais seguro, não atento a fatos históricos – o que seria um trabalho gigantesco ou superficial – e trouxe a formação dos planetas, da Terra, dos primeiros seres, dos seres com organismos mais complexos (da água, do solo e do ar), do homem. Posteriormente, destacou as grandes civilizações – os sumérios, os egípcios, os chineses, os núbios, os gregos, os romanos, os maias, os incas, os astecas, os vikings, os atlantes. Por fim, a sociedade atual (nesta, uma mostra excessiva de celulares, embora esses, de fato, sejam um elemento da atualidade).

 

Embora um pouco cansativo, pela duração de duas horas e vinte minutos, o espetáculo soube dosar bem a integração de quase duzentos bailarinos, de todas as idades e todos os tipos de corpos, o que também merece destaque, já que a apresentação não se fragmentou, ou compartimentou, em turmas. Obviamente que se percebeu certa divisão, mas não como comumente se observa, em que pequenos se apresentam e vão embora, depois adolescentes, depois adultos.

 

Quanto ao figurino: a Cia soube cria-lo e usa-lo de forma muito eficiente, contribuindo para o espetáculo, assim como a iluminação (ora com foco, ora em contraste). Roupas muito bem elaboradas, dando Sentido com todo, principalmente no tocante aos seres vivos (com destaque às águas-vivas, cobras, onças e macacos – destaque cênico-interpretativo desses últimos, assim como do grupo dos vikings).

 

Em relação à partira de movimentos: embora bem  executados, com sincronia grupal e sem erros evidentes, ressalta-se que a Presença se constituiu em determinados bailarinos que, percebe-se, gostavam muito de ali estar, outros, no entanto, embora executando com precisão as coreografias, o faziam mais mecanicamente, sem assinatura. Claro, sempre há isso. Cabe também uma crítica quanto à variedade de movimentos, que poderiam ter sido mais explorados. Sabe-se que a Endança é uma companhia de jazz e danças urbanas, mas outros movimentos poderiam ter sido incorporados, de modo a não reprisar tanto alguns deles – quem sabe usando espaços alternativos, horizontalizando mais.

 

O espetáculo, sem dúvida, merece ser exportado, apresentado em outros espaços, talvez com duração menor. Tem tudo para ter mais sucesso. O que falta à Endança é divulgação e um bom trabalho de assessoria de imprensa e marketing.

 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Michael Jackson e Frida Kahlo: entre a dança e a performance

Aconteceu nesta semana o Caxias em Movimento. Embora a cidade seja uma das únicas no país a ter uma companhia municipal de dança, muito há por fazer em relação a esta arte por aqui – claro, não só em Caxias, o público de dança é escasso. Mas em alguns momentos, há o que comemorar. Já falamos neste espaço sobre o espetáculo Contos de Falta, por exemplo, da companhia municipal – apresentado novamente neste fim-de-semana, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

 

O Caxias em Movimento, contudo, trouxe um pouco de tudo. O primeiro dia de apresentações, no Teatro Valentim Lazzarotto, foi um mix de diversos grupos: desde folclóricos e religiosos até grupos “amadores” de Organizações Não-Governamentais. O destaque foi o núcleo artístico do Ballet Margô, especialmente a última apresentação deste.

 

Na sexta-feira, dia 09, no Teatro Pedro Parenti, foi a vez da Geda Companhia de Dança Contemporânea apresentar “Às vezes eu Kahlo”, um espetáculo mais próximo da performance que da dança contemporânea,  embora talvez a Cia questione esta avaliação. Com movimentos diferenciados, se comparados ao que se vê comumente, a performance soube usar bem os elementos cênicos para construir uma narrativa em que a Presença trouxe sentido, sendo esse talvez o seu maior mérito: símbolos que remetiam à biografia da pintora Frida Kahlo estavam lá, como a cadeira de rodas, a flor no cabelo e outros que lembravam seus traumas cirúrgicos – o serrote, a tesoura, os inúmeros cortes. O mote era a imobilidade de Kahlo, e isso se fez presente, inclusive nos movimentos “trancados”,  cortados, suprimidos, difíceis; cabos que prendiam a cabeça, no início, poderiam ser interpretados como a imobilidade de pensamento, a dependência no início da vida. Quando estes são cortados, a imobilidade acontece no corpo sofrido. Cabe destacar o uso de figurino adequado à personagem, bem como o uso da cor preta, em contraposição ao colorido explosivo,  característico das obras de Frida – o que lembrou um eterno luto pelo impossível das relações afetivas, pela imobilidade causada por acidentes e procedimentos médicos erráticos.

 

Fora do Caxias em Movimento,  cabe destacar o espetáculo promovido pelo Projeto Terça Cult, do Recreio da Juventude, apresentado na Sede Social do Clube no dia 06. O espetáculo foi um Tributo a Michael Jackson: a primeira constituindo a apresentação musical; a segunda, dança. Cabe um destaque para essa última, que ficou a cargo de um excelente Corpo de Baile, da Endança, conhecida Escola de Jazz. Comparando-se esse espetáculo com o anteriormente comentado, fica claro que esse se configurou como dança (uma mescla de dança moderna com contemporânea), ao passo que aquele foi uma performance. Embora sem cenário e elementos  cênicos, mas com figurino adequado (simples, porém exato na moderação), a Endança soube agradar ao público com o que tem de melhor: o movimento e o corpo. Destaco a ligação entre uma coreografia e outra, os pontos de conexão (nunca o palco ficando vazio, dando a sensação de unidade) e a excelência de movimentos (mesclando, com mestria, partes sincrônicas, em que um grupo com mais bailarinos se apresentava, e outras em que c ada bailarino executava com singularidade sua coreografia – Pina Bausch?). Outro ponto alto da apresentação foi o uso de iluminação – ora focando os singulares, ora dando visibilidade à sincronia grupal. Realmente um tributo justo ao Rei do Pop, com bailarinos muito bem preparados. Aqui o Sentido, já conhecido (imortalizado nos clipes de Michael) foi transfigurado em Presença (bailarinos que poderiam integrar os shows do astro).

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

 

 

Quarta-feira, 16 de maio de 2018

Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul abre temporada de comemoração de seus 20 anos

Estreado em 28 de abril, o espetáculo Contos de Falta marca o início da temporada 2018 da Cia Municipal de Dança de Caxias do  Sul, ano de comemoração de seu 20º aniversário. A produção, com trilha sonora de Thiago Ramil (quase a totalidade das músicas de seu disco “Leve embora”), apresentou qualidade de excelência, principalmente se comparada a outros espetáculos de dança contemporânea. Claramente com referência metodológica em Pina Bausch – os bailarinos são também os coreógrafos –, Contos de Falta materializou a música em movimentos singulares: cada canção com uma “pegada” diferenciada, algumas vezes parecendo um quase improviso, uma dança na pista, outras com uma precisão à semelhança dos movimentos em sincronia grupal do Grupo Corpo, referência nacional.

 

O espetáculo não se restringiu à dança contemporânea: teve marcações que lembraram o ballet moderno e mesmo o clássico. Cabe destacar a permanência de todos os bailarinos em cena, em todo o espetáculo: alguns em destaque em certos momentos. Outro destaque foi a qualidade do figurino, suas cores e tecidos, confeccionados de tal forma a valorizar o movimento e a construção das ligações entre eles. Um cuidado maior, contudo, poderia ter acontecido na iluminação, focando certos pontos do palco que merecessem realce. Pequeno deslize também aconteceu em momento que seria ponto alto do espetáculo, quando Thiago subiu ao palco para cantar ao vivo a última canção: o microfone ficou desligado, embora o violão estivesse com volume mais alto, abafando sua voz.

 

Alguns bailarinos apresentaram qualidade superior, principalmente em momentos cuja proposta era de descontração: estes materializavam as músicas de maneira mais completa, em diferentes timbres, instrumentos, movimentos. Destaque também para a abertura da espetáculo, apresentação interpretada pela diretora artística da Cia, e partner que já foi bailarino do já citado Grupo Corpo, em performance que lembra encontros e desencontros, união e solidão, enlaces e afastamentos.

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

 

 

domingo, 1 de outubro de 2017

 Bizet na República Riograndense

                                         

O espetáculo Carmem Gaúcha, produzido e encenado pela Cadica Cia de Dança, na última quarta (27), no Theatro São Pedro, ofereceu ao público multiplicidade e pluralidade artística, na contramão de inúmeras obras que se autodeclaram híbridas, mas que, no máximo, se constituem como misturas de técnicas. O espetáculo em questão, ao contrário, soube fusionar de forma totalmente harmônica, e sem corrompê-los, elementos que quase nunca aparecem juntos e são entendidos, por vezes, como diversos, mesmo antagônicos.

A cultura gaúcha, mais especificamente a rio-grandense, esteve presente com a cultura espanhola, a flamenca, ambas sem sobreposição de características, valorizando o que têm de singularidade e até remetendo o espectador a origens em comum (lembremos das influências entre as culturas espanhola, platina e gaúcha). Isso se evidenciou não apenas na partitura coreográfica, como também no figurino muito bem elaborado. Aliás, quanto ao quesito da escrita de movimentos, a CIA soube também agregar elementos extras às culturas valorizadas, como os de balé clássico. Toda a forma em plena harmonia enfatizando o conteúdo  proposto: a reflexão sobre liberdade, autonomia e os direitos das mulheres presente na história de Carmem, do compositor Georges Bizet.

A iluminação, que dava evidência a elementos específicos, em cada ato (foram 18), aliada ao cenário (que trocou em número suficiente de vezes, 3, de modo a fazer marcações de espaço, com a introdução ou supressão de elementos cênicos, como mesas e cadeiras, leques, capas e lenços) só favoreceu os movimentos, alinhados às músicas subjacentes , em boa seleção, que foi do repertório original de Carmem à Semeadura (de Vitor Ramil e José Fogaça), passando por Prenda Minha, MerceditasSevillana, dentre outros. Também a tourada esteve presente, dando um “tapa na cara” de todos, inseridos na cultura machista, inclusive e principalmente os gaúchos, que fazem da mulher um touro a ser manipulado, servindo de circo, não bastasse o próprio tratamento degradante em relação aos animais (embora grupos internos do MTG estejam mudando de atitudes – não sei no que tange à Espanha). Ainda que a crítica tenha se evidenciado, a valorização da tradição (ou tradicionalismo?) gaúcha e flamenca se fez protagonista. E assim ficou ótimo!

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

Segunda-feira, 03 de abril de 2017

Todos Nós Acuados

Não só acuadas aquelas que violentadas domesticamente se sentem sem saída, mas acuados aqueles que as violentam – afinal, por quê o fazem, senão por um sentimento de inferioridade diante daquelas (precisam mostrar poder!)? – e todos nós diante deles, que nada fazemos e até os criticamos da boca para fora.

 

A violência doméstica foi a poética escolhida pela Anima Companhia de Dança em seu belo (ainda que dramático e provocante) espetáculo Acuados, apresentado na última sexta-feira, na programação SESC Mulher, em comemoração ao mês da Mulher. Perigosa poética, pois facilmente pode levar a uma obra coreográfica panfletária, a violência doméstica se apresenta como tema imprescindível na contemporaneidade. Acuados, neste sentido, produziu um manifesto artístico e politizado, sem resvalar no político, que não caberia ao discurso da arte. Eva Schul e seu grupo de  intérpretes criadores foram certeiros na montagem: atingem  o público, provocando asco diante da situação-problema-questão, sem deixar de produzir um espetáculo belo e cativante, porque bem executado, com excelente técnica e presença e produtor de múltiplos sentidos, bem articulados em movimentos de dança contemporânea.

 

Iluminação (em foco ou aberta), cenário( móvel, a partir de placas deslocáveis) e música (harmonizada com o tema: óperas dramáticas) contribuíram para o bom andamento de

Acuados.

 

E.T.: Continuamos a nos espantar com a falta de público em espetáculos de dança. Será INVEJA?

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Quando a aparência pode ser fútil ou substancial

Três eventos que aconteceram na última semana podem ser avaliados de maneira integrada se os pensarmos como “acontecimentos do corpo”, ou, ainda, a partir de suas temáticas, que remetem à aparência – ou o que se entende por ela.

 

No sábado (05), apresentaram-se, na Sala Álvaro Moreyra, cinco bailarinos – e um músico – na montagem “Barbie Fuck Forever”, com forte apelo crítico à questão das cirurgias plásticas, da superficialidade das relações, das máscaras, da futilidade do mundo das celebridades instantâneas, dos espelhos quebrados, dos corpos produzidos. Ainda que a poética tenha sua relevância – cada vez mais – e permite inúmeras e importantes aberturas para o pensar, o grupo deixou muito a desejar: muitas lacunas, pouca dança (alguns movimentos soltos, aqui e ali) e uma apresentação reduzida à “performance”, com apelo, porém caída na vala que pretendia criticar: a superficialidade.

 

Num caminho inverso – aliás, ansiando pouco e atingindo além – a exposição “Caderno de Roupas, Memórias e Croquis”, de Ronaldo Fraga, leva à Casa de Cultura Mário Quintana, até 11 de dezembro, o universo do estilista, em todas as suas nuances, possibilitando o entendimento que moda é arte. E mais: que a aparência, quando substancial e aliada a um estilo, se mostra essência – e as barreiras entre forma e conteúdo se rompem. Uma linha do tempo, com os croquis de suas 42 coleções em ordem cronológica, associada a roupas em exposição, com um gostinho do que Fraga criou desde 1996, vitrines, malas com objetos pessoais do estilista, projeções de vídeos, painel de fotos e páginas dos cadernos de croquis estão presentes e expondo um pouco – mas muito – do artista que sempre investigou o Brasil em suas obras.

 

O terceiro evento, reunião de duas coreografias da Malma Companhia de Dança, acontecido no último dia 09, no Theatro São Pedro, mostrou como ainda – ainda bem! – a dança pode ser associar à música, para enriquecer-se como arte. Por meio dos espetáculos “Incertas Razões” (com musica de José Miguel Wisnik) e “Muito prazer... Piaf” (com músicas de Edith Piaf), a Companhia resgatou o que vem se perdendo há algum tempo nas apresentações de dança: esquecem-se que a dança é materialização corporal (ou seja, espacialização) do ritmo e do compasso da música temporalizados. Dança, quando grafia de som em movimento, se torna mais dança, acontece de maneira mais efetiva. Embora as coreografias tenham utilizado técnicas de balé moderno (a primeira) e dança contemporânea e dança-teatro (a segunda), muitos movimentos se repetiram, comprometendo o sentido que a presença impunha. Cabe destacar, no entanto, a escolha do figurino, do cenário (clean, mas no ponto) e da iluminação (bem adequadas às poéticas implícitas), coisa que muitas apresentações de dança também tem ignorado.  

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

 

 

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Saudade de mim e Romeu & Julieta: dois convites à arte da dança

Em poucos dias, dois presentes à cidade de Porto Alegre, em forma (e conteúdo) de dança: “Saudade de mim”, da Neoral Garcias Produções Artísticas, e “Romeu e Julieta”, do Balé Teatro Guaíra (Paraná). Coreografias, gêneros e inspirações diferentes, com produções singulares e aquela sensação de “quero mais”. Presentes foram ambas as apresentações porque, com tal entusiasmo, tão pouco se vê por aqui.

 

O primeiro espetáculo, “Saudade de mim”, apresentado no Teatro Renascença, durante o 23º Porto Alegre em Cena, teve como poética as músicas de Chico Buarque (presentes na totalidade da trilha sonora) e as pinturas de Cândido Portinari (no cenário, construído com galhos secos suspensos, lembrando claramente os retirantes nordestinos e a seca daquela região do país). Ambos artistas figurando nas coreografias e movimentos (de dança contemporânea) que traduziam em literalidade ou metaforização as letras de Chico (com destaque para a primeira canção e seu “morreu na contramão atrapalhando o tráfego... o sábado”, e para as clássicas que culminaram em um medley final) e a questão dos retirantes migrantes e suas relações e sentimentos.

 

Os destaques citados o foram efetivamente pela presença e pelo sentido impressos na precisão de movimentos sincrônicos do grupo, na expressividade corporal e de rosto, e no figurino (neste espetáculo, muito fluidos e leves, quase etéreos).

 

Características que também destacaram o segundo espetáculo, “Romeu e Julieta”, apresentado no Theatro São Pedro (não o poderia ser feito em outra casa), cuja poética foi a obra homônima do dramaturgo William Shakespeare e música de Sergei Prokofiev. Com um trabalho de edição da obra, reduzida às cenas mais específicas do casal de famílias inimigas, o espetáculo de balé moderno deu vivacidade à história de amor mais conhecida da literatura. “Romeu e Julieta” também se destacou em praticamente todos os quesitos. O cenário móvel possibilitou a mudança de contornos do desenrolar da narrativa: o baile, o casamento, a consumação do compromisso, o sofrimento da morte. O figurino, embora com tecidos mais pesados e duros, foi rico em detalhes, com texturas e cromatismos muito significativos.

 

“Saudade de mim” e “Romeu e Julieta”, sem dúvida, foram espetaculares, embora sempre possam melhorar em determinados pontos.

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

 

 

domingo, 24 de julho de 2016

Casa de Caríi homenageia o Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro, que em 2016 será palco das Olimpíadas, evento mais “globalizante” sem homogeneizar as culturas, foi a poética escolhida pela Companhia de Ballet da Cidade de Niterói para a construção do espetáculo “Casa de Carií”. Revisitando os ritmos, especialmente o samba, o funk e o hip hop, que caracterizam e identificam os cariocas, a Companhia os mesclou com a dança contemporânea, através da fusão com a música eletrônica. De acordo com a direção, o desafio foi “entender a contemporaneidade sem rejeitar sua brasilidade, prestando uma homenagem traduzida em movimento a Cidade do Rio de Janeiro”.

 

Embora com técnica precisa e sincronia excelente entre os bailarinos, observou-se que à música presente não correspondia movimentação ritmada e harmônica. Os movimentos não prescindiam da música, o que vai contra a proposta expressa em libreto. Em um dos poucos, senão o único, momentos em que música e dança eram um só, complementares e indissociáveis, o bailarino representa estar dormindo e acorda com o despertador musical. O resultado é o corpo não conseguindo parar e “seguindo” o ritmo que tocava no aparelho. É claro: inquestionável a precisão dos movimentos, executados com maestria pelos bailarinos, bem acima da média, que se observa na maioria dos espetáculos que se apresentam por aqui.

 

Destaque para figurinos, que remetiam ora ao malandro carioca, ora aos esportistas (que chegarão em breve ao Rio); para os elementos cênicos (uso de cadeiras, quando todos os bailarinos estavam em cena, e do lixo, para caracterizar e chamar a atenção do público para o grave problema de saneamento ambiental); e para iluminação, utilizada em focos em partes do palco, quando um ou dois bailarinos estão em cena, retirando aquela sensação desagradável de vazio.

 

Espetáculo bonito e bem executado. Faltou aquele “algo mais” para dizermos “que espetáculo!”.  

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Lenda das Cataratas do Iguaçu é materializada em Movimentos Belos e Precisos

A paranaense Cia Eliane Fetzer de Dança Contemporânea trouxe a Porto Alegre, no último domingo (12), o espetáculo “Naipi e Tarobá : A Lenda das Cataratas do Iguaçu”, prova de que forma e conteúdo, quando equilibrados, mostram-se indissociáveis. Sem exageros, com precisão de movimentos executados por belos corpos, a peça também comprovou que Dança Contemporânea não é sinônimo de “qualquer coisa” e não pode ser igualada ao que se convencionou chamar de “performance”.

 

Uma lenda, em formato mítico, das origens das cataratas do Iguaçu, foi a poética escolhida pela Cia. Poética essa de amor entre mortais, castigados por um deus. A lenda caingangue trata da paixão de Naipi, filha do cacique da tribo, que seria consagrada ao deus MBoi, pelo jovem guerreiro Tarobá. No dia da festa de consagração da índia, os dois fogem. Ao saber da fuga, MBoi ficou furioso e produziu uma enorme fenda no rio pelo qual os dois andavam, formando as cataratas. Envolvidos pelas águas da imensa cachoeira, os fugitivos desapareceram para sempre: ela transformada em rocha e ele convertido em palmeira.

 

Com figurinos simples, porém significativos – o uso de pequenas “capas” em franjas de lã remetiam ao universo indígena – a Cia levou ao palco um belíssimo conjunto de cenas de movimentos sincrônicos e bem estruturados de Dança Contemporânea, caracterizados pelo uso mais consciente do corpo em sua totalidade, em diferentes níveis e direções espaciais. O cenário também contribuiu para a excelência da peça por sua singeleza e simplicidade: galhos suspensos, com frutos, que lembravam a floresta, e uma pequena rocha. Pouco, mas de tamanha essencialidade materializada, que se mostrou muito, ou melhor, “no ponto”.Num mesmo sentido, a iluminação, expandida ou focalizada, em variação, conforme a narrativa o exigia. A música, embora soando em uníssono, com pouca variação de tonalidade e ritmo, em alguns momentos, complementou sutilmente a movimentação. Por fim, o conjunto de doze bailarinos se mostrou coeso em uma coreografia sem exageros, equilibrada e precisa tecnicamente.

 

Um espetáculo praticamente perfeito, que não esqueceu dos elementos básicos que compõem uma obra de dança, numa encenação sem pretensões grandiloquentes e com sensatez em suas escolhas técnicas e estilísticas.

 

Cabe destacar que o espetáculo teve entrada franca. Uma pena que o público foi extremamente reduzido, prova que a formação de público em dança é tarefa, ainda, árdua e necessita de maior apoio, principalmente no que concerne à divulgação.

 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Uma viagem à poesia do tango

Buenos Aires aterrissou em Porto Alegre, no último 25, por meio do emblemático espetáculo “Tango, viaje al sentimiento”, realizado no Theatro São Pedro. Em homenagem ao bicentenário de independência da Argentina e produzido pelo Consulado daquele país, o show mesclou história, música e dança de forma magistral.

 

Com uma Presença marcante de todos os que pisaram no palco – os instrumentistas de bandoneon, cello, violino e piano; a voz do tango argentino de Guillermo Galvé (Prêmio Platino 2015); os bailarinos – o espetáculo Aconteceu: há muito não se vê algo tão sublime.

 

Ali, pudemos assistir às diversas facetas do tango, inclusive suas confluências com a milonga platina, e saber um pouco até da influência brasileira em sua história, por meio de um vídeo esclarecedor sobre Alfredo La Pera, o brasileiro autor das letras imortalizadas na voz de Gardel.

 

Não bastasse a emoção transmitida em todas as músicas pelos instrumentistas, exatos na execução, e pelo cantor, cabe o destaque dos excelentes bailarinos, com perfeição de movimentos, sincronia grupal e figurino impecável. Foi um show mesmo! Notável a dança de dois cavalheiros, gêmeos, que remeteu ao início do tango em Buenos Aires, numa mistura até mesmo com salsa, e a posterior “disputa” destes, pela dança e em dança, por uma bailarina, encenada com maestria, como se fossem eles dois apenas um, tamanha sincronia.

 

Uma pena que o público, mesmo tendo visivelmente adorado o espetáculo, não pediu o “bis” – ainda que, percebido, os bailarinos e os músicos aguardassem nas coxias a reentrada para mais uma experiência estética.

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

quarta-feira, 25 de maio de 2016

TANGO!!!!!!!!!!!!!!!!....sempre!!!!

Então....fomos ao Theatro São Pedro ...meio que desaminados .....os últimos espetáculos deixaram muito a desejar............


Por quê um de Tango seria diferente????


Surpresa!!!!!!

O espetáculo TANGO, VIAJE AL SENTIMIENTO -  homenagem aos 200 anos de independência da Argentina, patrocinado pelo Consulado daquele país..............foi um presente dos arg entinos a Porto Alegre.

 

Diversos consulados presentes........


Música beirando à perfeição...........cello, bandoneon, piano e violino...........intérpretes perfeitos.....

O cantor Guilhermo Galvé, prêmio platino 2015........ótimo cantando Gardel, em composições de Alfredo la Pera...........


e os bailarinos???????????

 

M A R A V I L H O S O S!!!!!!!!!!!
e...não estou exagerando..........


o ruim????


só um "idiota" (ou mal orientado!) querendo chamar atenção dos consulados para o horror político que temos vivido há já algum tempo...........berrando e atrapalhando o início do espetáculo.......
O São Pedro e seu pessoal..........mais que depressa resolveu de forma diplomática...........como requeria a situação!!!!!!!!

 

VERA MARTA REOLON

MTb 16.069

 

 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Israeli e Flamenco: quando o folclore deixa de ser só folclore (ou não)

Na semana que passou, dois espetáculos apresentados em Porto Alegre nos provocaram um questionamento relativo às danças folclóricas: quando deixam de ser apenas “folclóricas”, se isso é possível, e passam a figurar no escopo de danças “em geral”?

Vejam bem, tratam-se de duas apresentações: uma de dança israeli, do grupo Kadima (agraciado com o Prêmio Açorianos de Dança 2015, como Espetáculo do Ano), e outra de flamenco, do grupo de Silvia Canarim.

A pergunta parece ser mais facilmente respondida quando nos referimos ao flamenco, que já figura nas mostras de dança ao lado das danças clássica, moderna e contemporânea, movimento que ocorre também com as danças urbanas e com a dança do ventre, por exemplo.

A mídia desempenhou papel importante nesse sentido, popularizando, quase massificando algo restrito a um grupo. De flamenco, há escolas especializadas ao ensino de sua dança, associada ou não aos costumes que propiciaram seu advento: a música e a cultura de Sevilha, Espanha. O flamenco figura como o samba, o tango, a salsa.

Isso não ocorre com a dança israeli, que se equipara, por exemplo, às danças gaúchas, ao frevo e à tarantela, ainda restritas a grupos específicos ou culturas regionalistas. Pode-se pensar que tais danças ainda não sofreram um processo de transformação do popular ao massivo, mas isso se mostra argumento fraco, uma vez que são identificáveis facilmente por qualquer um. Essas danças, uma vez “confinadas” a determinados grupos, sobrevivem – é o que se observa – pelo esforço (e diríamos pelo patrocínio) de fundações, centros de tradições, governos e institutos públicos, movimentos tradicionalistas, o que não ocorre com outras modalidades de danças.

Por figurarem no escopo das danças folclóricas, por vezes, esses grupos contam com a participação de um número elevado de bailarinos (que desfoca a atenção do público) e, dado seu caráter de folclore, não exigem uma avaliação de precisão de movimentos e ações. Isso se observou no espetáculo Etnias, do grupo Kadima, apresentado dia 17, no Theatro São Pedro. Com um grupo de mais de 30 bailarinos no palco, em diversos momentos, era perceptível que um ou outro não “lembrou” da coreografia, parou a movimentação e aguardou a “deixa” para entrar novamente na escrita combinada. Em grupos menores ou de dança clássica, por exemplo, isso – o erro – não passaria desapercebido e seria facilmente notado, mesmo por grupo não especializado. Ainda assim, o grupo fez uma apresentação muito boa, com Presença (da maioria) e afinação de narrativa (história dos judeus) por meio de figurinos e oito (ou nove) coreografias, com autorias eticamente documentadas – é verdade que facilitada, afinal, qual grupo de dança, hoje, tem um conjunto de mais de dez produtores à sua disposição (aliás, produção inteligente, inclusive de vídeo e libreto), além de uma fundação brasileira de arte e cultura por trás?

Nesse sentido, uma avaliação melhor merece o espetáculo Usina Tablao, do Grupo Flamenco Sílvia Canarim, apresentado dia 18, no Teatro Renascença. No palco: um cantor, dois instrumentistas e seis bailarinas, música flamenca ao vivo e um gostinho de participação naquele grupo que remetia aos tablados espanhóis. Uma precisão de movimentos, uma sensação de pertença grupal e uma Presença marcante dos músicos e das bailarinas, resultou em um ótimo espetáculo, que, por tal caracterização, merecia talvez mais destaque. Os detalhes do figurino, da iluminação e mesmo do cenário (simples, porém significativo – um lenço aberto ao fundo, remetendo a esta “roda de conversa e descontração”, tais como as rodas ciganas e as rodas de chimarrão gaúchas) foram também muito bem pensados. E ali, como programa, estiveram presentes soleáguajirastientosalegriastangos e sevillanas, propiciando um panorama da arte flamenca.

Por essas e por outras, talvez, o Prêmio Açorianos de Dança deva estar em constante mudança, atento a nuances que por vezes passam desapercebidas. E mais: em uma época de falta de verbas na área cultural (extinção e retorno do Ministério da Cultura), os recursos devem ser disponibilizados a quem os utiliza de maneira sábia e proveitosamente, por que o dinheiro é do povo.

O patrocínio foi bem empregado, não há dúvida, em EtniasUsina Tablao merecia um olhar mais atento do público especializado.   

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

 

 

 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Almodóvar em movimento

O universo da obra cinematográfica de Pedro Almodóvar, por si emblemático e singular, se transformou em espetáculo de dança pela Khaos Cênica, encenado no Teatro Renascença, no último 13. Oscilando dança no palco e em vídeo, complementares, com cenas conjugadas (um movimento iniciado num suporte continuava em outro), “Rubro Almodóvar” não se restringiu a apenas um gênero: dança de salão, algo de contemporâneo, e até mesmo hip hop, momento até com funk (contextualizado em crítica ao moralismo da Igreja).

 

“Rubro Almodóvar” trouxe aos palcos diversas cenas que lembravam a filmografia do cineasta: Tudo sobre minha mãe, Volver, Má educação, Corações Partidos, dentre outros. As cores características da fotografia dessas obras também se fez presente, em especial o vermelho. Embora com diferentes gêneros, se pensarmos nos movimentos, a trilha sonora se restringiu a músicas com teor tragicômico, ganhando relevo o bolero. Tecnicamente, os bailarinos homens se destacaram – também porque, talvez, a coreografia o tenha favorecido: merecida menção a cenas de casal, em detrimento dos momentos em que apenas as bailarinas ficaram sós no palco (nestes, faltou um “tempero”, algo que desse mais vida, Presença).

 

O figurino estava condizente com a poética de Almodóvar: cores vibrantes, com tecidos fluidos; algo até mesmo com certo desleixo (proposital?), no que se refere às camisas masculinas que, na realização dos movimentos, acabavam de desprendo do interior das caças, isso acaba comprometendo a obra, com cara de “pouco cuidado”. 

 

Pouco cuidado, contudo, não se observou na unidade da obra. Pelo contrário, o que se percebe é que a direção do espetáculo (responsável também pela concepção) pensou nos detalhes: o casamento entre cinema e dança – e aqui nos dois sentidos (entre a obra de Almodóvar e a coreografia, entre o vídeo e o palco que se mesclavam); a iluminação (também com o uso das cores predominantes em Almodóvar); e a construção de uma “narrativa” (uma liga entre cenas que pudessem parecer desconexas).

 

A Presença talvez tenha sido comprometida porque o cenário não foi idealizado com tal esmero. Quando o uso de elemento cênico na última seqüência de movimentos foi usado, o espaço se completou, articulando melhor a relação entre vazios e a quantidade reduzida de elenco. Nos demais momentos, quando no palco se viu apenas os bailarinos, especialmente quando permaneciam as três bailarinas (os menos delas), um desconforto visual acontecia, uma sensação de vazio mesmo, sem Presença de cena.

 

 

Por fim, cabe destacar que, nos vídeos, a Khaos Cênica ocupou destacados pontos urbanos de Porto Alegre (ruas, centro de cultura, praças); será que querendo mostrar que Almodóvar está não só em cena, como fora dela? Se levarmos em consideração a afirmação da direção, que as questões do cineasta “humanizam figuras normalmente tratadas como parias sociais e resumidas a clichês”, talvez a resposta seja positiva.



Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

 

 

sábado, 9 de abril de 2016

Cadê a dança?

A pergunta pode parecer estranha, mesmo "louca", mas quando um espetáculo que se propõe a ser de dança pode assim ser considerado efetivamente? Em outras palavras, basta designar-se "de dança" para ser considerado "de dança"?

 

O espetáculo "As únicas coisas eternas são as nuvens", apresentado pela Porto Alegre Cia de Dança, no Theatro São Pedro, no último 31, teve muitas qualidades. Aliás, especialmente em elementos constitutivos das artes "da cena" - teatro e dança" - por vezes esquecidos pelas Companhias de dança. O cenário, por exemplo. Quando muito, determinados grupos incluem alguma projeção digital. "As únicas coisas...", ao contrário, apresentou um cenário muito bem construído e, observa-se, planejado com rigor. A começar pela tela/cortina transparente que encobriu o palco antes da entrada dos bailarinos, na qual constava a assinatura do poeta Mário Quintana, cujos versos serviram de inspiração ao coreógrafo João Butoh. Elementos cênicos também tiveram destaque: os cataventos, os leques, os livros, as xícaras, o baú - elementos que remetem diretamente ao poeta.

 

A iluminação, outro elemento raramente pensado nos espetáculos de dança, aqui teve certo destaque. De uma beleza sem-igual, no entanto, foi a inclusão da narração dos poemas de Quintana por ele mesmo, intercalada por músicas diversas, da época do poeta, porém com pouca ligação com a obra do artista.

 

Infelizmente, as qualidades param por aí. E isso se refletiu na reação da plateia, com pessoas saindo na metade do espetáculo, ou mesmo acessando seus aparelhos celulares, parando de olhar o que acontecia no palco.

 

Com uma poética tão expressiva - os poemas de Quintana - "As únicas coisas..." frustrou, e muito, as expectativas. A começar pelo uso da estereotipia. A direção afirmou, no libreto da montagem, "em uma obra que fala de coisas locais e atinge proporções universais, é inegavelmente uma dádiva, que talvez só os anjos possam explica". Ok, mas colocar bailarinos vestidos de anjos, ainda mais com asas, que inclusive atrapalhavam certos movimentos? Algo muito estereotipado, faltou simbolização.

 

Não bastasse, faltou dança. "As únicas coisas..." se resumiu a movimentos simplórios, repetitivos e monótonos, com indícios de dança. Dizer que se trata "da misteriosa arte da dança butoh" não só é insuficiente, como afronta o bom-senso e a capacidade de crítica do público. Aplaudiram antes mesmo do término do espetáculo, prontos para irem embora. Equívocos, obviamente, do coreógrafo, não dos bailarinos. Mário Quintana, sem dúvida, merece uma homenagem melhor.

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

 

 

segunda-feira, 14 de março de 2016

Faltou verde em Verde (in)tenso

Enxertar o adjetivo “contemporâneo” à dança – ou a qualquer outra arte – não autoriza o artista a “qualquer coisa” produzir. A obra de arte é aberta a múltiplas interpretações, ok, mas “não escancarada”, como observara Haroldo de Campos.

 

O espetáculo Verde (in)tenso, apresentado pela GEDA Companhia de Dança Contemporânea, no último dia 11, no Theatro São Pedro, propôs o universo gaúcho como poética de concepção. Elementos da “lida” campeira estiveram presentes, tanto na vestimenta (com indícios de xale, ponchos, bombachas e xilipás), quanto em elementos cênicos, tais como ossadas de bois. Um momento/movimento que teve destaque foi o que metaforizou o tosqueamento de uma ovelha: um bailarino cortava uma espécie de “segunda pele” de uma bailarina. Outro foi a participação de um casal de bailarinos que não pertenciam à Cia: dançaram belissimamente ao som de trechos de música tradicionalista.

 

A iluminação foi pouco explorada, quase sem modificações. O cenário, embora mínimo, essencializou o vento, retomado em passagens de textos declamados de Érico Veríssimo e em movimentos que visivelmente o ilustraram. O elemento cênico das boleadeiras, utilizado por uma das bailarinas, em momento individual, foi associado a uma passagem de Ana Terra (Veríssimo): mas o discurso de Terra remetia ao desejo, e as boleadeiras, por sua vez, à dominação (do animal?).

 

A Cia procurou, parece, fugir ao estereótipo do gaúcho, porém a empreitada, se verdadeira, teve efeito contrário: realçou elementos do folclore (temas como a roda de chimarrão, por exemplo). E se desejou fazê-lo, isso não ficou claro, ou poderia acontecer de forma diferenciada. Óbvio, trata-se de escolhas. Mas o figurino, por exemplo, sem fugir de algumas características do tradicionalismo (universo masculino), as reduziu à cor preta, sem motivação poética evidente, mesmo que indicativa, para tal. O recurso conceitual de reduzir o gaúcho às fazendas e ao universo do campo, também produziu efeito invertido negativo: o Rio Grande do Sul não se constitui só do pampa. Mesmo Vitor Ramil, em sua Estética do Frio, foge disso. Aliás, a belíssima música de Vitor, Loucos de cara, finalizou o espetáculo, embora os créditos não tenham sido dados ao compositor no folder. Essa mesma canção, cuja letra remete à união (“Vem, anda comigo, pelo planeta, vamos fugir”) e ao movimento (“Vem, nada nos prende, ombro no ombro, vamos fugir”), foi reduzida a movimentos lentos e, pior, individualizados (inclusive com os “canhões” de luz/refletores apontados para cada bailarino).

 

Só não ficou pior porque exatamente durante a audição dessa emocionante música, os bailarinos dançaram sobre uma camada verde de erva-mate, derramada segundos antes, o que provocou uma intensidade interessante. Mas o verde só apareceu ali, quase no fim do espetáculo. E o título?

 

Aparentando dança-teatro, inspirado na coreógrafa alemã Pina Bausch, Verde (in)tenso se constituiu mais de uma peça teatral com alguma movimentação que lembra dança. Mas não dança-teatro. Mais Performance, com resquícios de dança. Com exceção, talvez, de um dos bailarinos, que já passou pela Cia Municipal de Dana de Porto Alegre, e que apresentou uma performance mais próxima à dança, a movimentação dos demais foi seca, faltou sincronia em alguns movimentos que a requeriam. Talvez (!), o mérito maior de Verde (in)tenso tenha sido o trecho em que duas bailarinos executam movimentos robóticos, ao som de vozes femininas sobrepostas, e com apetrechos gaudérios, que associaram as bailarinas a bois. Uma clara crítica à objetificação das mulheres (no campo – só?).   

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Mtb 15.241

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Cia Municipal de Porto Alegre amadurece em Adágio

 

Parece que reverberaram no amadurecimento do grupo nossa avaliação de “Salão Grená”, primeira montagem da Cia Municipal de Dança de Porto Alegre. Principalmente em dois quesitos: a busca de uma identidade grupal e a valorização dos intérpretes desse grupo tão heterogêneo, dando espaço à criação e/ou participação individuais, porém não isoladas. O que, em “Salão Grená”, parecia um mix homogeneizante meio caótico de experiências, com música em reprise, em “Adágio” – reunião de quatro novas criações da Cia – tornou-se Obra de um grupo afinado.

    

     Adágio é um conjunto de quatro coreografias que, em princípio, devem ser lidas individualmente, dadas as suas particularidades, bailarinos envolvidos, coreógrafos diferenciados e poéticas singulares. No entanto, a Cia pela apresentação conjunta – em grupos de três coreografias –, o que prejudicou a experiência estética – e mesmo avaliativa – de cada uma. Vendo-as, em conjunto, por exemplo, parece que mereciam um melhor cuidado no que tange às trilhas sonoras. E, também em conjunto, os movimentos que teriam destaque, em sua unicidade, perdem-se numa sensação de deja vu.

 

     Não só a avaliação, mas as outras etapas de uma crítica – descrição, interpretação e contextualização – acabam prejudicadas por essa união de coreografias. E o cansaço também acontece – não só do público, mas dos próprios bailarinos.

 

     Falemos de três – das quatro – coreografias. Em “Narciso”, o mito grego ganha forma de maneira a contemplar a que parece ser a patologia dos tempos atuais: o narcisismo. Tão necessário para a constituição de nossa identidade, o narcisismo precisa superado como individualismo egocêntrico (narcisismo primário, em psicanálise), transformando-se em narcisismo secundário, imprescindível para uma vida desejante. Mas, diante de tantas desconfianças e medos, diante de tantas correrias e insensatos andares sem sentido, perdemo-nos em jogos de espelhos, telas e digitalizações virtualizadas que incitam à agressividade e à violência camuflada e uma inautenticidade frente à alteridade. Ignorando o Outro, ignoramos a nós mesmos – já que nos constituímos a partir de uma relação entre olhares e rostos – e nos perdemos em uma monstruosidade, uma bestialidade auto e hetero-hostil (psicose?). Douglas Jung, coreógrafo de “Narciso”, soube explorar este universo. Talvez o que faltou foi um pouco mais de expressividade por parte de alguns bailarinos e tradução mais precisa em movimento do som da batida eletrônica que uniformiza e ignora o ritmo – Diferença -, bem escolhida, nesse sentido, para ilustrar a poética de um Narciso pós-moderno. Figurino também condizente: roupas claras e escuras, em contraste, com tecidos brilhantes (novamente os reflexos).

 

     Aliás, é no quesito tradução música/movimento que encontramos o ponto alto de “Água Viva”, coreografia de Eva Schul. A celebração da vida, com seus percalços, suas artimanhas, suas pedras, seus caminhos, suas ondulações, encontros e desencontros, baseada em livro homônimo de Clarice Lispector, é o mote da montagem. A escolha da trilha, que destaca o violino como instrumental, logrou bons frutos, afinal, não é ele, o violino, que parece expor desde a imobilidade da tristeza aguda até o fluir de uma liberdade – ou a consciência de sua impossibilidade – grave? Cabe destacar, em “Água Viva”, o figurino (vestimentas semelhantes às dos monges – a questão do desapego material) e a sincronia do grupo no vai-e-vem do som deste instrumento, nos altos e baixos dos corpos dançantes – ir e vir de braços e troncos, ora acompanhantes, ora separados.

 

     Todavia, a sincronia de corpos diacrônicos, diferentes, singulares e com talentos individuais ganhou destaque em “Ilação”, coreografia de Driko Oliveira, bailarino da Cia. Aliás, é nesta coreografia que a identidade do grupo transparece: exatamente na união não uniformizada dos bailarinos com experiências em diversas linguagens da dança. A matriz é dança urbana – linguagem propícia para a união, nascida das batalhas entre grupos (gangues) norte-americanos, violência sublimada em movimentos e ritmo marcado. Mas em “Ilação” estão presentes também passos de sapateado, ballet clássico, dança moderna e contemporânea. A Cia está ali – Presente e em Sentido –, também porque, provavelmente, o coreógrafo soube ouvir, ver, perceber o que o grupo é (como grupo e como indivíduos) e, talvez, o que o grupo quer ser (como Cia). Sem conclusões, em desenvolvimento.

 

     Mais alguns pontos quanto à iluminação e ao cenário. Embora se perceba que estes elementos foram pensados, ainda permanecem algo deficitários. Aqui houve uma “regressão” em relação a “Salão Grená”. Em todas as montagens, faltou um cuidado maior nesses quesitos. São poucos os grupos (talvez por falta de verba ou de pessoal) que lembram que uma boa iluminação (não só alternância de cores, mas o uso de claros e escuros, destaques ou não) e um cenário bem construído (às vezes com elementos suspensos – para melhor uso do espaço) são chaves-mestras para um bom espetáculo. Fica para a próxima. Ah, e para uma melhor apreciação, cabe destacar: coreografias apresentadas sozinhas, uma por sessão, seria uma boa pedida.

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

Mtb 15.241

domingo, 6 de dezembro de 2015

 Ballet da UFRGS cresce em Sentido e Presença

Depois de apresentar, no primeiro semestre de 2015, uma retrospectiva de seus cinco anos de existência, com trabalhos curtos e diversificados, intercalados com a participação da comunidade acadêmica, o Ballet da UFRGS retornou ao palco do Salão de Atos da instituição com cara própria, e muito para afirmar.

 

O grupo está mais coeso, o que propiciou um espetáculo muito acima do que se vê em outras apresentações de dança na cidade. Desta vez, o que se viu foi um espetáculo completo – com cerca de uma hora de duração –, totalmente pensado pelo corpo de bailarinos. A coreografia, por exemplo, é de um dos integrantes do grupo.

 

A qualidade da apresentação foi propiciada também pelo figurino, que diversificou de modo a dar passagem “entre-atos”. Em nenhum momento, o palco ficou naquela escuridão, como se vê constantemente por aí: a montagem foi pensada de tal maneira que bailarinos podiam trocar de figurino sem paradas bruscas e cortes repentinos, o que tira todo o andamento da experiência estética do espectador.

 

Os bailarinos estavam ótimos, muito bem preparados tecnicamente. Mas não só: o espetáculo, uma mescla de ballet clássico e moderno, foi conseqüência da unidade do grupo, cuja diferença e singularidade de cada integrante foi primordial e perceptível em cada movimento. Movimentos que se mostraram mais amadurecidos em relação à apresentação anterior – mais Presentes – e que, assim, possibilitaram uma produção de Sentido excepcional.

 

 

Faltou divulgar o trabalho: a universidade sequer incluiu a apresentação em seu jornal mensal e em sua Agenda Cultural, publicada bimestralmente. Uma apresentação como essa, que divulga o nome da UFRGS, merece mais destaque na cena artística – não só dentro dos muros da instituição.

 

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241 

 

 

 

Domingo, 06 de dezembro de 2015

Sem fronteiras na música e na dança

A Argentina esteve mais próxima de Porto Alegre na última quarta-feira (02/12). Em um belíssimo espetáculo, que trouxe aos palcos do Teatro Renascença o folclore hermano, a Cia La Marrupeña mostrou, na música e na dança, que gaúchos, argentinos e uruguaios são um só povo (os chamados gauchos).

 

O espetáculo “Acá estamos – além das fronteiras” expôs uma faceta argentina tão pouco explorada, porém tão próxima às nossas tradições riograndenses. O tango, dança-símbolo daquele país – também se fez presente, inclusive com a clássica La Cumparsita, ponto máximo da apresentação. No entanto, o folclore, com malambos e milongas, embora parecido com o nosso, encenado com tamanha perfeição, foi o destaque da noite.

 

A Companhia soube equilibrar, com precisão, doses de dança popular argentina com “jogos” tradicionais, também do folclore, como a chula e a dança dos facões, e apresentação musical de gaita e do próprio grupo musical La Marrupeña.

 

O figurino foi muito escolhido, com diversificação adequada aos diferentes “atos” do espetáculo, conferindo heterogeneidade na unidade – alguns pequenos exageros nas roupas do tango.

 

 

Uma pena que a iluminação não foi tão bem planejada, bem como a passagem entre-atos, quando instrumentos precisavam ser instalados. Nada disso, porém, comprometeu a obra, bem articulada pela Presença dos bailarinos e músicos. 

 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ESPETÁCULO!!!!!!!!!

Temos visto diversos espetáculos......todas as semanas.............

poucos dignos de nota.............


Nesta semana ....SURPRESA!!!!!!!!!!!!

 

Dois espetáculos que valeram sentar em uma cadeira , assistir e se deliciar..........

Falo especificamente da CIA LA MARRUPEÑA......................excelente...........beira à perfeição.........


Outro..e deste quero falar um pouco mais.........a CIA (?) BALLET DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL....................

 

O BALLET DA UFRGS................


Oito membros............seis moças e dois rapazes............um dos rapazes coreografou......este espetáculo.........ensaiou com o grupo e apresentou-se com eles...........é um deles........


Estes oito bailarinos merecem o título de bailarinos.........não apenas dançarinos..........

dançaram BALLET CLÁSSICO..........BALLET MODERNO...............


ESFORÇARAM-SE e..........chegam perto de um grande grupo..........o que podemos chamar COMPANHIA...........


AGORA..........perguntas que não querem calar............


por quê a frequência de público é tão baixa??????????

 

praticamente só os familiares e alguns amigos???????




PORQUE NÃO DIVULGAM...........só no meio da própria academia.........e nem ali...........pois nem o jornal da UNIVERSIDADE o divulga.........não falam dele...........e é o grupo da própria academia............


por quê não recebem "verba" de bailarinos que mostram seu trab alho e divulgam a universidade?????


por quê recebem verba de "bolsistas"???????????


por quê será que nem mesmo as grandes empresas jornalísticas do país não divulgam GRUPOS DE DANÇA?????????


porquê será que os críticos só conseguem fazer crítica de cinema????????

não estou falando de dança dentro dos filmes...........

 

estou dizendo que só sabem falar sobre filmes e seus protagonistas..........dança............nem pensar!!!!!!!!!!!!!!


VERA MARTA REOLON

MTb 16.069  

 

 

sábado, 24 de outubro de 2015

As formas (das músicas) do amor

Em sua primeira produção original, a Macarenando Dance Concept mostra a que veio. O conceito da tão lembrada Macarena é o ponto de partida para a montagem do espetáculo “100 formas para o amor”. Mas o repertório musical – nacional e internacional – que versa sobre o tema é vasto, e a direção soube usá-lo muito bem em sua concepção: 30 músicas compõem a trilha sonora.

 

Dos últimos espetáculos de dança apresentados em Porto Alegre, “100 formas para o amor” foi dos melhores. E sua qualidade está justamente na simplicidade. Os oito bailarinos executaram os passos com mestria – embora os movimento pudessem ser compostos mais com o tronco: permaneceram nos membros.

 

Não havia cenário, mas a inexistência deste não comprometeu o espetáculo – a direção sequer recorreu às projeções, ainda bem! A iluminação foi muito bem utilizada, dando visibilidade, por exemplo, ao conteúdo de caráter etéreo de certas músicas. O figurino, uma mescla de arcaico e moderno, um pouco festa, um pouco não, também casou muito bem com a proposta.

 

A coreografia, por fim, otimizou o espaço do palco em sua singularidades e traduziu as músicas em movimentos muito precisos – no entanto, a proposta do libreto não foi alcançada: “100 formas para o amor” não apresenta “formas de dançar o amor”, mas formas de dançar as músicas que versam sobre o amor. Há uma diferença aí, mas ok! Cabe destacar também o encadeamento das músicas em seqüência, sem paradas – embora isso possa cansar os bailarinos, ficou ótimo!

 

 

A Presença dos bailarinos é o que marca o espetáculo: a expressividade dos rostos e corpos é o seu ponto alto. Todos parecem gostar, efetivamente, do que estão ali fazendo: dançar. Aliás, é justamente essa Presença que contribuiu, e muito, para a produção de sentido, alcançada também porque os bailarinos acompanhavam cantando certas partes das músicas – claro que ficou com cara de musical, mas não: foi dança mesmo! Algo, enfim, que não se vê muito por aí!



GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

 

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

 Ballet Concerto apresenta Les Sylphides e Carmina Burana

Entidades do ar na mitologia céltica e germânica, as Sílfides - também sinônimos de mulheres franzinas ou delicadas (porquê delicadas devem ser franzinas?) - parecem não estar presentes no espetáculo encenado pelo Ballet Concerto. Com um Corpo de Baile muito estático e alguns solistas pouco "entregues" ao papel, a encenação deixou a desejar, embora a execução dos passos tenha ocorrido sem erros. Mais uma vez, a técnica se sobressaiu em detrimento ao estilo dos bailarinos, evidenciada pelo adiantamento ou retardamento dos passos, não acompanhando o compasso da música  - cadê sentimento , imprescindível para a produção de sentido?


Ok, o figurino estava impecável, mas o cenário não havia. Seguiu a maré dos espetáculos que fazem um cenário com apenas um pano pintado, e sem muito cuidado. Infelizmente, os atos, na montagem de Ballet Concerto, transformaram-se em cenas, cortadas - e a platéia, desatenta, continua a aplaudir qualquer pausa na música, às vezes, mesmo com essa em andamento.

 

A música tradicional de Fréderic Chopin, obviamente foi mantida; todavia, dada a sua natureza, porquâ os bailarinos não procuraram  dar mais vida ao som que se propõe exatamente à "vivificar" uma divindade ligada à fluidez , à soltura?


Após Les Sylphides, chegou a vez de Carmina Burana  (C.Orff),  com versão da Nona Sinfonia de Bethoven, revitalizada no início e no fim da apresentação. Nesta, a platéia parece ter-se anim ado um pouco mais - porque os bailarinos também o fizeram, dançando com mais Presença, também porque o Coro- composto pelo Coral Frederico Gerling Jr - se fez presente , literalmente.  Mas ainda assim, muito a melhorar. Não exatamente a técnica, mas a própria coreografia, muito repetitiva, com passos que iam e vinham da mesma forma.


Mais uma vez, o sentido não ACONTECEU, a poética se perdeu, a técnica se repetiu. De um espetáculo de dança espera-se mais que movimentação e execução de passos. As Companhias parecem não entender isso! Talvez por este motivo, a formação de público em dança seja tão deficitária e a própria valorização desta arte tão desprezada. Os espetáculos, com isso, se impregnam de familiares e amigos dos bailarinos (claro que necessários - mas não só!), e tão só que aplaudem e gritam BRAVO diante de qualquer ação. U ma infelicidade!



GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

MTb 15.241

 

 

domingo, 2 de agosto de 2015

Artes divorciadas (?): um desencontro

 

George Balanchine, coreógrafo neoclássico, afirmara que a dança é a necessidade que temos de exprimir o que sentimos ao escutar música. Não há dança sem musica. O espetáculo “Duas artes em sinfonia azul”, talvez, ansiou expressar esta indissociação música-dança. Talvez. Talvez, ainda, o grupo Emkanto e o duo A corda em si tenham buscado transmitir com a apresentação o que o psicanalista Alain Didier-Weil entendeu por “nota azul”, a voz invocante, a voz materna que transmite desejo à criança, aquela voz-olhar indizível.


Não creio em nenhuma dessas hipóteses.

 

Mas um espetáculo deve ser avaliado por sua proposta ou por sua apresentação? Se a proposta foi a mencionada, ou outra, não se sabe; a apresentação, infelizmente, não teve êxito em seu casamento (se é que houve um) música-dança, ponto-chave: não havia conexão entre as artes, apenas em poucos instantes fugidios, o que faz com que uma pudesse ser acompanhada sem a outra.

Houve falta de timing; no estalar inicial, no qual houve projeção do poema-tema (projetado de forma a que os espectadores das laterais não pudessem lê-lo por completo), no entre-atos e no final, quando também houve projeção, desta vez dos créditos (como em um filme – créditos demais, já dispostos no programa e também não visíveis a toda a platéia).

No quesito técnico: muitos pontos a melhorar, em uma temática que poderia render muitas aberturas poéticas, a coreografia pecou por um minimalismo sem expressividade. Alguns bailarinos ainda estão muito “duros”, sem maleabilidade, o que compromete a obra, ainda mais uma que trata de fluidez, mar (?), o ninar de um bêbê (?)...


Infelizmente, muitas expectativas frustradas.


Uma dica: para assuntos simples, obras complexas; obras simples para assuntos completos. Um tema tão delicado, jamais deve ser abordado simploriamente.



Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

 

 

OBS: Parece que o público anda aprendendo que não se aplaude nos entre-atos, apenas no final, o que já é um ganho, porém os espetáculos devem começar no horário proposto (ultimamente, são as portas que estão sendo abertas neste).

domingo, 12 de julho de 2015

Os cisnes também se modernizam

 

Depois de ser levada às telas de cinema, reinterpretada na excelente atuação que rendeu o Oscar de melhor atriz a Natalie Portman, a fábula “O Lago dos Cisnes”, com música de Tchaikovsky, se modernizou na coreografia encenada, em Porto Alegre, pela Essence Companhia de Dança. O feitiço que transforma uma garota em um cisne, e tudo que disso advém, passou de uma peça de ballet clássico para um espetáculo de ballet moderno.

 Quem sai de casa esperando o tradicional se sente enganado: onde estão os passos clássicos?. Mas a excelente execução compensa a decepção inicial e envolve o espectador no mundo da fantasia propiciado pela trama, inclusive tirando-o de sua zona de conforto: afinal, os personagens são realmente o que apresentam ou também se trata de uma releitura?. A música, entretanto, permanece inalterada.

Quanto à execução dos movimentos, os bailarinos foram muito bons, ganhando destaque o que interpretou o amante do cisne recém nascido. Havia sincronia  entre o grupo, no entanto, alguns bailarinos, em alguns momentos, pareciam adiantados em relação à música, o que passa desapercebido àqueles que não estão tão atentos aos detalhes da composição. Porém, muitos deles, percebeu-se, não estavam conectados à música, atentos somente à seqüência de passos, o que compromete e diminui a expressividade, a emoção e o sentido da obra. Ainda mais em uma narrativa carregada de momentos de intensa  carga emocional. Infelizmente, esperava mais da protagonista; esta ganhou mais vizibilidade na presença de seu companheiro. Os bailarinos homens estavam melhores, embora o adiantado de uns. As bailarinas no entanto, deixaram um pouco a desejar: faltou mais maleabilidade, mais soltura, mais ritmicidade.        

Vale destacar, ainda, dois pontos: cenário e figurino. A troca dos elementos que compõem a cena (estes bem elaborados) foi surpreendente, afinal o palco se modificava por completo em cada ato.

Quanto ao figurino: roupas “de época” muito  bonitas, embora pesadas para movimentos tais quais os executados, dando mais graça e motivos interpretativos em relação aos tradicionais collants e tules, porém menos leveza; e roupas características aos cisnes, de modo a dar consistência na figuração dos personagens – no entanto, dos homens poderiam ser retirados o equivalente aos espartilhos, deixando-os apenas  com as saias que caracterizavam as penas dos animais.

Adaptação muito boa de “O Lago dos Cisnes”, propiciada por uma construção original que não corrompe, nem adultera a identidade do tradicional ballet de Tchaikowski.

Ou não. Em que consiste “O Lago dos Cisnes”?. Apenas da música que é mantida pela Companhia? E todo o trabalho coreográfico original, não faz parte da obra, da narrativa? Talvez, quem sabe, o que Essence encenou foi algo apenas inspirado em “O Lago dos Cisnes”, e não o próprio. Talvez!

 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Em busca de identidade

Salão Grená, da Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre, apresenta, em sua sinopse, o problema da identidade porto-alegrense, partindo de uma poética retratada nos salões de baile do século XIX. No entanto, o que se vê é uma angústia frente à outra identidade, ainda em formação: a da própria Companhia. Isso não é bom, nem ruim. O grupo é relativamente novo e, tal como uma criança, ainda não sabe muito de si, nem o que deseja.

Discorrer sobre o cenário (um “salão”), a iluminação (“escura e inebriada”) ou o figurino (vestidos soltos para elas, e roupas de alfaiataria para eles, em sua maioria) poderia ser uma saída: os elementos não são tão definidos, transparecem também uma indefinição do grupo. Carece, entretanto, pensar no que a Companhia almeja como unidade. E se falo em unidade, não confundam como homogeneidade. Fica claro que o grupo apresenta uma multiplicidade de formações ou, ao menos, de gêneros de dança. Ou melhor: de movimentos. Isso porque a dança é uma arte e, como tal, universal.

Essa universalidade foi buscada, me parece, por Salão Grená, porém com outro viés. “Enquanto o particular e o universal divergirem, não há liberdade”, disse Adorno. É isso mesmo. A Companhia Municipal de Porto Alegre arriscou colocar, numa mesma narrativa, ao mesmo tempo, todos os seus bailarinos, em sua heterogeneidade, “homogeneizando-os” – fica evidente, por exemplo, que a coreografia foi pensada de modo a “dar voz” (presença) a todos os gêneros. Todavia, fica mais evidente ainda, que de alguns bailarinos foi cobrada uma adaptação maior, contemplando, numa unidade, quase que só passos de dança contemporânea. Esse é o caminho que a Companhia deseja seguir? Há que se pensar... A diversidade não merece desaparecer (mesmo que parcialmente) em favor de uma suposta, ou forçada, identidade.

Ficam, ainda, alguns pensamentos. Os bailarinos – não todos – têm presença. Mas alguns têm uma formação de anos, e isso não transparece. Não se “doaram” por inteiro em favor do grupo? E, ainda: por que uma música, uma única, durante quase a totalidade do espetáculo? Mais uma vez, a diversidade, a diversificação, seriam mais interessantes. Na execução dos movimentos, os bailarinos, individualmente, beiraram à perfeição. Na expressividade, no sentido e na presença, resultados da relação grupal, a Companhia deixou um pouco a desejar.

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

 

 

Segunda-feira, 06 de julho de 2015

 Das pistas ao showbusiness

“Dance bem, dance mal, dance sem parar; dance bem, dance até sem saber dançar” ecoavam as Frenéticas nas danceterias dos anos 70. Dança: talvez a arte mais executada e, por isso, a menos apreciada como tal. Afinal, quanto de nós não fervemos nas pistas, mas nunca sequer ousamos tocar um instrumento, esculpir um mármore ou colorir uma tela em branco? O que é a dança senão a matiz do movimento, cujo instrumental é o corpo e cujo estilo é alma, o ritmo, que, segundo Elvis Presley, ou se tem ou não se tem, e aqueles que têm tem muito?

Estilo é individual, disso não temos dúvida. E o que faz da dança uma arte, uma arte portanto universalizável? Será que a técnica, essa coisa que os gregos nos legaram: o “saber fazer”, o “como fazer”? Nesse ponto, o cinema, o vídeo, nos permite parar e refletir, já que eterniza uma coreografia, uma escrita da afecção que se manifesta nos movimentos. Nos filmes, a dança, por vezes, é só um ponto de nexo. Quem não se recorda do tango executado por Al Pacino, cego, em Perfume de Mulher? Em outras obras da 7ª arte, a dança é o próprio mote, senão o clímax da narrativa. Esses são os casos, na minha opinião, respectivamente, de “Be cool – O outro nome do jogo” e “Nine”.

No primeiro, Jonh Travolta (interpretando Chili Palmer) e Uma Thurman (no papel de herdeira de uma gravadora musical), dirigidos por Gary Gray, executam um “pás de deux”, embalados por Sexy, música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, interpretada pelo grupo de hip hop Black Eyed Peas, que também está em cena, juntamente com o pianista brasileiro Sérgio Mendes. A música remete à sexualidade, é uma declaração de fanatismo e excitação, e a dança, embora pareça não coreografada, feita de improviso, é executada com extremo cuidado e rigor. O figurino, a iluminação e o cenário remetem a uma boate ou bar intimista. A música, sendo ao vivo, requer uma dança também única; e Travolta e Uma o fazem com precisão, materializando o ritmo e o conteúdo da canção em seus corpos. O sentido é produzido pela própria tradução “música-dança”. Há presença: os atores-bailarinos parecem enamorados, em um momento de conquista, mostrando seus “dotes”. Travolta e Uma trabalharam juntos, também em um duo, no já clássico Pulp Fiction, de Quentim Tarantino, mas em Be Cool, o que antes era fruto de entorpecentes, é êxtase quase místico.

Kate Hudson, por sua vez, em seu número intitulado “Cinema Italiano”, de Nine, é uma editora de Vogue, buscando uma entrevista exclusiva com o cineasta Guido Contini. Vogue: Madonna já cantou o universo da moda em música homônima à revista-ícone, mas Kate o faz com mestria, unindo moda e cinema. O cenário é uma passarela, em diversos níveis. O figurino, da protagonista e de seus bailarinos remete aos anos 50 – algumas franjas e botas, e ternos justos e gravatas fininhas, além de óculos escuros. A iluminação é de show business. A música tem muito swing, um pop rock ritmado, com toques de jazz – e a coreografia é em stileto, tal como desejada pelo diretor do filme, Rob Marshall, um “solto controlado”. Os bailarinos estão em despojamento corporal que anima muito a quem vê; a sincronia entre eles é radical: parecem estar em uma sala de espelhos. Tudo contribui para um clima de glamour cinematográfico (cabe destacar que Kate é jornalista e deseja conquistar a atenção do diretor de filmes, que está em crise criativa). Os holofotes, a música, o troca-troca entre as lentes “preto-e-branco” e “colorido” remetem à temática e agregam valor à coreografia de intensos movimentos marcados. Excelente dança que contribui para um enriquecimento da narrativa: “Cinema Italiano” é mais que um número musical: destaca e dá brilho a toda obra fílmica.

Be Cool – O outro nome do jogo e Nine, explorando a dança de maneiras tão díspares e tão singulares, sem dúvida, conduzem para uma resposta aberta à questão colocada no início: a técnica é um passo, mas o estilo é um espetáculo. Um passo, sozinho, nada é. Mas um espetáculo só acontece com passos; estes muito bem fusionados e matizados.

 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

 

 

Segunda-feira, 06 de julho de 2015

Deveria ter dado um anel! - Cadê o Anel?

Senhoras Solteiras - Single Ladies - Put a Ring on IT - Ponha um Anel - Beyoncé (tradução livre)

 

Todas as Senhoras solteiras

Na boate

Nós acabamos de terminar

Estou fazendo do meu próprio jeito

Você decidiu sair fora

E agora quer surtar

Porque outro cara reparou em mim

Eu estou na dele

Ele está na minha

Não preste atenção nele

Porque chorei as minhas lágrimas

Por três bons anos

Você não pode ficar bravo comigo

Porque se você gostava

Então devia ter me dado um anel....

 

 

Três situações: infantil - adulto- o quê?

 

Desde as proposições da infância, universo adolescente, o sexualizado quase explícito do adulto e a transposição para o universo homossexual ( com uma "performer" ilustre e "superstar").

Mas nem o desenho se presta apenas ao público infantil, nem os shows espetaculares são destinados apenas ao público adulto.

 

O ambiente é uma escola americana: pequenas esquilas cantam.

O ambiente é festivo, todos adoram, dançam, querem ver, batem palmas acompanhando o ritmo da música.

Mas, a música, qual é?

É um hit de uma cantora superstar do momento - Beyoncé, ou melhor Sasha (assim ela se nomeia). A música Single Ladies - Garotas Desacompanhadas - Garotas Solteiras - Garotas Sózinhas. Que tipo de solidão?

A solidão da solteirice, não da falta de amor. Aqui, não se fala em sentimento, fala-se em estar solteira e não ter anel de noivado.

A moça foi "largada" na boate, o "sujeito" resolveu "cair fora" e a tal, sem perda de tempo, parte para outra. O sujeito então surta, porque queria que ela ficasse na melancolia, aguardando e/ou chorando seu retorno.

Mas as garotas desacompanhadas querem compromisso!. Não necessariamente amor, aliança no dedo, um homem para dizer seu.

Com este mote, Beyoncé, Sasha de maiô preto, sapatos pretos, com duas bailarinhas grita, canta, dança o seu "não estou nem aí".

Coreografia de abertura de pernas, movimentos sinuosos, muita sensualidade e sexualidade latentes.

 

Já as pequeninas esquiletes - Alvin e os Esquilos 2, vestidas com saiotinhas e blusinhas coloridinhas, estilo uniforme colegial, movimentam-se "batendo cadeiras", rebolando, erguem braços, pernas quase nada, apenas para pequenos deslocamentos.

 

O terceiro momento da mesma música, em que todos, tanto esquiletes, quanto estas (as terceiras), buscam uma releitura do show-clip de Beyoncé.

Aqui o contexto é um festa de casamento gay, em Nova York. Tudo é grandioso, o noivo (a) é organizador de festas, tudo é excessivo, o casal está a comprometer-se um com o outro, mas já combinaram a possibilidade de outras relações fora do casamento.

Lisa Minelli é a condutora do casamento, mas fará também o espetáculo com duas bailarinas. Todas as três com micro vestidinhos pretos, botas e meias pretas. Como convém a uma "senhora" quase centenária, os movimentos de pernas são mínimos. Há mais braços, indicações da mão e a possibilidade do anel no dedo.  A festa, a festividade é máxima. Todos acompanham cantando, dançando, olhando, se maravilhando.

 

Enquanto o original é clip-show, as esquiletes apresentação escolar, aqui o show é adulto participativo.

 

 

Com Beyoncé os movimentos são máximos, poder-se-ia dizer que aqui é mais dança, performance, movimento, deslocamentos, abertura de ginastas, mais do que performance vocal (já que o som é "back") - embora música e letra sejam dela, junto a outros.

 

Com as esquiletes o centro está no rebolado, em movimentos harmônicos, mas curtos.

 

Beyoncé, em sua melhor forma, ao deixar as Destiny Childs e se lançar em carreira solo, o faz com maestria, divulga no mínimo três hits de sucesso, emplaca-os de saída, Single Ladies, If I were a  boy e Hallo, neste disco pré Jay-Z e sua "pasteurização" eletrônica.

 

No clip de divulgação da música há jogos de claro-escuro, Beyoncé opta por duas bailarinas negras, os movimentos das três beiram a perfeição em sincronia, harmonia, visualização.  A cor dos maiôs só faz ressaltar ainda mais o claro-escuro, luz e sombra, aparição-desaparição.

 

As esquiletes, como apresentação escolar, dá-se o espetáculo, mas o que fica é a graça, a leveza, o "engraçadinho", mais do que momento performático, embora a presença seja marcante.

 

No filme Sex and the Citty 2, onde se insere Lisa e seu grupo, também de duas bailarinas e ela, é o ponto alto do filme, pois aí, a música e seu sentido, são o mote roteiral do filme. Como tal a luz é máxima, como convém a uma diva da música e de Hollywood de todos os tempos.

 

As três performances estão em filmes, também em número de três, o de Beyoncè clip-show, não há roteiro, a não ser do show, performance.

Nas esquiletes o ambiente é escolar, filme adolescente, família.

 

Já a apresentação de Lisa é o ponto alto de um roteiro que questiona exatamente o que a letra da música explora, os relacionamentos.

 

O que queremos - queremos amor, ou um anel no dedo e uma relação de fachada?

 

Fica a questão!!!!

 

 

"se abandonamos nossos sonhos não somos nada!" -(sic) - in Flashdance.

 

Vera Marta Reolon

MTb 16.069

   

segunda-feira, 8 de junho de 2015

 Todo menor que a soma das partes

 

Mezcla ousa na metanarrativa e encena a própria produção

 

O primeiro espetáculo do grupo Mezcla, especializado em dança de salão, já na segunda apresentação de sua “turnê”, mostrou com preparo técnico a que veio. A companhia é nova: criada a partir de uma reunião de 12 dançarinos – seis casais – em dezembro de 2014, apresentou-se pela primeira vez em 15 de março de 2015. Nesses insipientes seis meses, o objetivo do grupo – “a mescla de movimentos e corpos”, segundo uma de suas integrantes – começa a ser traçado.

A dança de salão é o foco do grupo, ainda que nesse espetáculo – não nomeado (porquê?) – elementos de ballet moderno ou jazz possam ser percebidos. Outro ponto a ser destacado é a ousadia do grupo (que é constituído de casais premiados individualmente) em apresentar uma “mescla” de espetáculo de dança com teatro.

A ousadia levou o grupo para um campo sem domínio técnico – a arte dramática – comprometendo o espetáculo. Ainda mais porque a companhia optou pela metanarrativa, contando o “por trás”, o antes do espetáculo, a preparação, espécie de making off, tendência contemporânea para chamar a atenção do espectador, ávido pela fofoca e pelo mundo das celebridades. Isso é eficaz quando o próprio espetáculo está muito amadurecido. O grupo poderia ter esperado para lançar essa proposta num futuro com mais história coletiva. Faltou dinâmica na “parte dramática”, que puxou para o cômico. Os diálogos poderiam ser mais naturais (devido à temática): faltou, por exemplo, os conflitos dos bastidores – fica a impressão que por trás tudo corre bem, sem erros e sem brigas (?) – e houve repetição de falas/cenas (o “comer” – seria um merchandising, tendência moderna a inserir comerciais durante a programação ? – e o “passar uma coreografia”).

Em outro quesito, o grupo teve mais êxito: na técnica coreográfica. A mescla de ritmos, com uma “atualização” dos gêneros, não tão marcados: o tango não era tão tango, por exemplo. Por isso, talvez, o grupo também optou por uma mescla de figurinos, não tão definidos, conforme os gêneros musicais. Contudo, o excesso de franjas, fendas e outros elementos poderiam ser eliminados: a moderação aqui seria mais adequada.

Os movimentos foram muito bem executados, sem erros, quase perfeitos – os bailarinos tinham presença. Faltou apenas um “olhar” mais apurado, uma alegria, entre alguns casais – outros estavam mais “sintonizados”. O grupo apenas “pecou”, novamente pelo excesso (repetição) de “ganchos” e a alguns “passos-padrão”. Faltou um encadeamento entre as músicas – faltou, aí sim, mescla; nesse sentido, super-importante para dar ritmo e dinâmica.

O espaço – o palco e além – foi bem utilizado. O cenário foi mínimo – cadeiras e mesas que entravam e saíam conforme a necessidade teatral, além de projeções. Aliás, o elemento tecnológico foi muito presente, também aqui o grupo “pecando” pelo excesso: muitas cenas com o celular como protagonista, o que causou lentidão na narrativa.

Em resumo: o grupo se saiu bem, mas haja visto seu potencial, poderia ter apresentado um espetáculo muito melhor, se optasse só pela dança. Mesclou onde não precisava; faltou mescla onde seria importante: a narrativa ficou fragmentada. Ok, foi bom, foi legal, foi bonito, mas o espectador saiu sem aquele sentimento de “impressionante!”. Parece até que o grupo estava sob um recalque coletivo, cujo momento de extravasar seria exatamente como “Footloose”, após os aplausos. Mas, mesmo aí, a energia não foi liberada. 

 

Guilherme Reolon de Oliveira

MTb 15.241

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