enoturismo & afins
Jovem Baco (1595)
Caravaggio
Galeria Degli Uffizzi
Florença, Itália
Um pedacinho da Toscana, com suas árvores tão características, encrustada na Serra Gaúcha, especificamente em Pinto Bandeira: eis a vinícola Valmarino. No dia em que a visitamos, um céu aberto, azul, possibilitava uma apreciação dos vinhos ao ar livre, em mesas com guarda-sóis, espaço projetado para a experiência estética (experimentação).
Embora a Valmarino não tenha um roteiro turístico específico ainda, como comumente se vê nas vinícolas da região, a construção original, antiga, de quando a família adquiriu as terras na década de 1970, foi mantida e serve como local também de degustação.
A Valmarino, hoje, é comandada por três irmãos - sendo que dois estão a frente do negócio: um enólogo e agrônomo, outro responsável pela área comercial - TRE FRADEI. Mas foi fundada pelo pai, em 1992, com plantio de videiras e venda de uvas para terceiros. Originário da família Salton e tendo trabalhado na destacada vinícola do mesmo nome, o fundador da Valmarino foi o primeiro enólogo gaúcho a se formar em Mendoza , Argentina. Pioneiros nos vinhos em caixas, que substituíram os garrafões, começaram a produção da bebida em 1997.
São vinte vinhedos espalhados em 24 hectares. A Valmarino se destaca na excelência de seus vinhos, especialmente em quatro variedades: Cabernet Franc, SanGiovesi, Petit Verdaux e Shiraz. Mas cultiva quinze variedades, ou seja, a vinícola opta pela qualidade em baixas produções. Seu outro diferencial é a bebida Basílio Mejolaro, inspirada no tradicional drinque italiano Bellini., Pinto Bandeira é a capital estadual do pêssego, e a Valmarino soube aproveitar tal deferência: o Basílio Mejolaro é uma combinação de espumante prosecco (80%) e suco de pêssego (20%).
Na visitação acompanhada com o enólogo, há degustação de dois , quatro ou seis rótulos. Pudemos conferir, além do mencionado, os espumantes Valmarino Nature (safra 2015, considerado o melhor nature do Brasil) e o Valmarino Nature Tinto (um diferencial espumante tinto!), ambos produzidos pelo método tradicional, o primeiro com 61 meses nas barricas de carvalho. Degustamos também o vinho Valmarino Cabernet Franc, da elogiada safra 2020.
A vinícola se destaca ainda por utilizar cinco tanques do método italiano Ganimede (que possibilita contato 20% maior das cascas com o mosto da uva), pela prensa pneumática (última aquisição para o amassamento das uvas) e por mais de 300 barricas de carvalho, com madeiras secas por 36 e 48 meses. O lugar é lindo (lembra mesmo a Toscana - romanticamente visitada por casais do país inteiro), os vinhos excelentes: vale a pena conferir.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
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domingo, 01 de agosto de 2021
BASSO: Paixão por Vinhos
A Basso Vinhos e Espumantes, de Farroupilha - RS, é uma vinícola estritamente familiar. Fundada em 1940, na localidade de Mato Perso, inaugurou as atuais instalações em 1985, em Monte Bérico. São dois os selos da vinícola: Del Grano (de uvas americanas) e Monte Paschoal (de vinhos finos).
Embora com uma estrutura enxuta (segundo um de seus proprietários - mas não tão enxuta assim!), com parque fabril relativamente pequeno (?) e parreirais sem grandes extensões (?), a Basso produz, anualmente, um milhão de garrafas de espumantes, trezentas mil de vinhos finos e quase oito milhões de vinhos de mesa (de uvas americanas). Exporta para Noruega, Alemanha, Estados Unidos.
Na propriedade localizada em Monte Bérico, a vinícola concentra videiras de chardonnay, merlot, cabernet, e de três variedades de moscato. Mas tem parreiras na região da campanha, em Santana do Livramento, Bagé, Dom Pedrito e Quarai.
A qualidade excepcional dos vinhos e espumantes está no foco nos moscatéis - cujo terroir da Basso é propício. Cabe ressaltar que Farroupilha é a capital brasileira do moscatel. U ma produção focada cujo cuidado é expresso desde a chegada das uvas (em recipientes adequados) à escolha de maquinários, passando pelos métodos de produção (inclusive o champenoise no espumante moscato, e o uso de barricas de carvalho).
Mais que isso, o que destaca e singulariza a Basso é a paixão pelos vinhos. Quem nos recebeu e foi um ótimo guia enoturístico foi Magnos Basso, enólogo e um dos proprietários da vinícola. Magnos não é apenas (?) um enólogo, mas um enófilo, um amigo, um apaixonado pela produção e desenvolvimento da bebida de Bacco. Isso fica evidente em sua exposição dos diferentes setores da vinícola e, principalmente, dos vinhos produzidos lá.
Pudemos degustar seis rótulos de ótima qualidade: o espumante Brut Champenoise (a estrela da Basso), o espumante Brut Rosé, o espumante Moscatel Rosé, o Pinot Noir Rosé, o Merlot (esses últimos da linha Reserva) e o Cabernet Sauvignon (da linha Dedicato). Vinhsos e espumantes equilibrados, interessantes: os tintos com tanino marcante e persistência de boca, os espumantes com bom perlage. Destaque também para os aromas e, uma surpresa, para a coloração do Pinot Noir Rosé (alaranjada).
Já conhecíamos outras estrelas da Basso: os frisantes branco e rosé Monte Paschoal, sucessos e adequados tanto em harmonizações, quanto para apreciações sem acompanhamentos, seja na beira da piscina ou num coquetel, ou final de tarde.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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domingo, 27 de setembro de 2020
VIVANT WINES: Primeiro Vinho Fino em lata do Brasil
Seguindo uma novidade do exterior - surgida despretensiosamente em 2004 com o cineasta Francis Ford Coppola, e com os pioneiros em seu consumo em 2008 - a VIVANT WINES lançou em janeiro de 2019 o primeiro vinho em lata no Brasil.
Pudemos conversar com um dos três sócios fundadores, que nos apresentou a proposta inovadora. Direto do sudeste do país, a marca buscou na serra gaúcha os vinhos que enlataria. Depois de muitas negativas, foi a vinícola caxiense Don Bonifácio que topou a parceria.
Com quase dois anos de existência e meio milhão de latas vendidas, a VIVANT lançou três rótulos: branco, tinto e rosé. Em novembro virão mais dois, ambos frisantes (branco e rosé). Atualmente, está presente em 24 estados e 500 cidades brasileiras, atingindo 20% do território nacional. São trinta mil litros de vinhos por mês, ou 130 mil latas.
O proprietário nos apresentou o sistema produtivo que, embora simples, o enlatamento envolve um encadeamento cujo maior objetivo é a entrega do produto limpo e seguro. A máquina de enlatamento inclui expedição de nitrogênio e luz ultravioleta, além da higienização com água. A perda de produção que no início atingia 8%, aprimorada e qualificada, reduziu para 0,5%.
Degustamos os três rótulos: leves, equilibrados e descomplicados, jovens e de fácil assimilação, os vinhos em lata da VIVANT seguem a proposta da empresa e do formato inovador. O público alvo são os jovens, o consumo em piscinas e praias, sem o ar de "frescura" que o vinho em garrafa remete. Um churrasco e - por quê não? - um jantar em um restaurante também podem ser públicos em potencial, ainda mais se o consumidor bebe pouco (e, assim, deve sê-lo nos dias de hoje) e/ou não é acompanhado em sua apreciação.
Além do conteúdo e seguindo tendência de mercado (a preocupação com a inclusão e o combate aos diferentes preconceitos, o que também remete a um dos objetivos da empresa, ampliar e desmitificar o consumo de vinhos), a VIVANT lançou os três produtos em duas linhas de produção em lata. Interessante inclusive para colecionadores de latas. A primeira o cerne foi gênero e a segunda raça. A linha de frisantes que logo vem aí remeterá à diversidade de corpos (gordos, deficientes).
Proposta contemporânea na forma e conteúdo que vale a pena ser conferida!.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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segunda-feira, 14 de setembro de 2020
MIOLO: Forte no Enoturismo
Inserida no caminho Vale dos Vinhedos, um dos grandes trunfos turísticos na Serra Gaúcha (que impulsionou a visitação de Bento Gonçalves), a MIOLO é uma das vinícolas com maior movimento de turistas (mesmo durante a pandemia) em que já estivemos. São diversos grupos que passam em suas instalações todos os dias. A MIOLO se insere no MIOLO WINE GROUP que congrega outras três vinícolas: ALMADEN, TERRANOVA e SEIDAL.
O terreno adquirido pela família que detém a maioria das ações do grupo, de 84 hectares, abriga videiras de 45 variedades (que o visitante pode inclusive visitar na safra e degustar), sendo que dessas 30 são usadas pelo grupo e apenas 4 na própria MIOLO: chardonnay, pinot noir, cabernet sauvignon e merlot (essa última sendo a que melhor se adaptou ao Vale dos Vinhedos e, em composição com a cabernet, configura a linha Lote43, considerada a de melhor qualidade da MIOLO).
Como vinícola independente - antes vendia sua produção para cooperativa - a MIOLO iniciou seus trabalhos em 1988, o que é considerado recente. Sua primeira colheita aconteceu em 1990, seu primeiro vinho foi lançado em 1992 e, até o ano de 2000, utilizava pipas de madeira de araucária, hoje presentes no roteiro enoturístico como parte histórica. Nesse sentido, cabe lembrar que, enquanto o processo de vinificação demorava oito meses nesse tipo de material, nos atuais tonéis de inox se reduz para 20 ou 30 dias.
O terreno da MIOLO produz 800 mil litros, ao passo que o grupo totaliza 12 milhões de litros por ano. Pudemos participar de dois roteiros enoturísticos na vinícola, o mais comum (com a técnica em vitivnicultura a nos acompanhar) e o DENOMINAÇÃO DE ORIGEM (DO - com sommelier em formação), que pouco se diferenciam: apenas na degustação de rótulos diferentes e em locais distintos. Em ambos, trata-se de roteiro simples em relação a outras vinícolas: não há provas intermediárias nos tanques, não se conhece diretamente os processos de vinificação, não há harmonização, o que se viu aqui e ali. Conhece-se as pipas antigas, os atuais tanques, as barricas de carvalho (que são fabricadas pelo único tanoeiro ainda vivo no Brasil, utilizadas por 20 a 25 anos e que totalizam 1.500, sendo mil francesas e 500 americanas), degusta-se quatro rótulos.
No roteiro DO o destaque é para os rótulos mais qualificados, para o local de degustação - a cave do proprietário - e, principalmente, a possibilidade de poder acessar o último andar do prédio projetado para o enoturismo, cuja vista panorâmica é espetacular.
Dois outros destaques: para o projeto WINE MAKER, iniciado em 2008, cujo participante acompanha de perto os processos de vinificação durante quatro encontros em um ano, e para os 450 hectares dos vinhedos da ALMADEN, a mais antiga vinícola da Califórnia, desde 1852 lá e desde 1973 no Brasil, adquirida pela WINE GROUP recentemente.
Fomos presenteados com espumantes demi-sec da ALMADEN que, embora apreciemos (desde antes, e há muuuuito tempo), são considerados de linha inferior pelo grupo - por quê será??... E, pergunta que não quer calar: por quê presentear críticos com o que consideramos menos?
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Panizzon: Intimismo e Grandiosidade
Uma vinícola estritamente familiar e um faturamento que chegou aos R$ 175 milhões no ano passado. Parece contraditório, mas não. A Vinícola Panizzon, de Flores da Cunha, congrega um estilo intimista, que dá impressão de pequenez, com uma larga produção, e uma média anual de 40 milhões de litros de sucos, vinhos e espumantes.
Com uma equipe de seis enólogos, surgiu em 1960, a partir de uma dificuldade financeira na família: sua produção inteira daquele ano não foi comprada pela empresa que a adquiria anualmente. O fundador, da terceira geração de uma família de imigrantes italianos, deu início ao seu próprio empreendimento. Hoje, tem sessenta hectares de videiras em Campestre da Serra, que funcionam quase como um laboratório de qualidade de seus vinhos finos. Além de mil famílias, assistidas pela Panizzon, que fornecem suas produções. Desde 2006, destaca-se também pelos sucos concentrados e sucos integrais (uva, pêssego, maracujá, abacaxi, maçã, laranja).
A valorização de sua história, "importante para pensar onde se quer chegar" (sic), segundo um de seus nove sócios, está presente principalmente em dois ambientes aos quais o visitante tem acesso nos primeiros momentos. Um primeiro espaço com fotos que retratam a evolução da Vinícola, de 1960 aos dias atuais. E outro, o memorial, com espaços destinados a cada membro da duas primeiras gerações (hoje, a terceira já está na direção), fotos desses, objetos significativos para a família e os principais produtos que saíram de linha ou mudaram de rótulo, por exemplo.
A história é ainda mais valorizada com a preservação da casa antiga, primeira sede da Panizzon, hoje destinada a Vinagraria, um dos destaques da empresa, que sabiamente, não desperdiça os vinhos cuja qualidade foi duvidosa, fabricando vinagres e, com isso, aumentando seu capital.
Na visita, ainda tivemos acesso, às instalações dos locais que recebem as uvas, os tanques de vinificação e fermentação, ao maquinário de engarrafamento e encaixotamento, ao estoque (todo vendido até o final do ano, que chama atenção pela dimensão - quatro mil porta pallets). Cabe o destaque para a técnica empregada nos vinhos: a inserção de estacas de carvalho nos tanques, com tostagem alta nos tintos e baixa nos brancos, uma estaca a cada 100 litros de vinho. Também para o fato de todos os espumantes serem produzidos no método charmat, desmistificando falsos preconceitos, tendo em vista a excepcional qualidade da Panizzon.
Pudemos ainda degustar de cinco produtos da Vinícola: O espumante prosseco Brut (muito equilibrado, com frescor); os vinhos chardonnay branco (com seis meses de carvalho) e o Maximus (doze meses de carvalho e corte de cabernet franc, ancelota, e merlot), excelentes, aroma significativo, boa persistência e tanino bem equilibrado; o espumante San Martim, moscatel rosé (típico como: "quase sobremesa", leve). Por fim, um dos sucos, o de maracujá e maçã, cuja combinação merece destaque. Fomos presenteados com vinhos de variedades que raramente são encontradas, especialmente nas vinícolas brasileiras (Ancelota e Montepulciano), que merecem conferidos e saboreados. Ótimos!!!!!.
E, parece, segundo dados, que o consumo durante a pandemia aumentou significativamente. A PANIZZON comprova este dado!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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sábado, 21 de março de 2020
FANTE: Sucesso na diversidade de rótulos e produtos
Nos meios universitários, é comum a superespecialização, cada vez mais focada em micro segmentos. Nossa posição é diferente, consideramos isso um contrassenso - a noção do todo é perdida - e procuramos, ainda que tenhamos nos aprofundado em determinadas teorias, estudar e relacionar outras áreas de forma inter e transdisciplinar. Assim, métodos e modelos se auxiliam, ampliam espectros de abordagem, entendimento, complexidade. Essa parece ser também a posição da Fante, produtora de vinhos, sucos e destilados, de Flores da Cunha.
A empresa é um exemplo de sucesso. E ele não veio com a superespecialização, adotada por muitas vinícolas da região, que concentram sua produção em poucos rótulos e, por vezes, em pequena escala, o que encarece os procutos e não dá ao cliente muita escolha, se não buscar a concorrência. Com a aquisição de uma empresa tradicional de destilados, em 1998, o catálogo da Fante aumentou consideravelmente e hoje, além dos vinhos e espumantes, se destaca com o suco de uva, os refrigerantes Dushy (pioneira na produção de "espumantes sem álcool"), vodca, whisky, gim, absinto, cachaça e coquetéis, todos em diferentes versões e rótulos.
Numa "produção integrada", trezentas famílias fornecem uvas para a Fante, que conta com mais de duzentos empregados diretos. Surgida como uma pequena vinícola, por necessidade familiar, é gerida pela segunda geração. Apostando na pulverização de mercados e na troca de know-how entre os diferentes produtos (aí está a chave do sucesso, segundo seu presidente: o compartilhamento de modelos de produção e comercialização), além de estar sempre à frente (graças às pesquisas de tendências que projetam de cinco a oito anos), a Fante está presente em mais de trezentos mil pontos de venda, com mais de cento e vinte produtos, exporta para quinze países (há mais de vinte anos), sendo o maior exportador de destilados do estado e o segundo maior exportador de vinhos do Brasil. A cadeia produtiva de vinhos e destilados é muito semelhante e, o mercado de destilados, sendo muito profissional, ensina ao de vinhos: associando-se o crescimento do consumo de vinhos e gim entre os jovens tudo acontece.
Pudemos conhecer o parque fabril da Fante, inclusive a destinação de resíduos sem desperdício, diferentemente do que acontece em outras vinícolas (que instituíram roteiros fixos e muito parecidos - já denunciado por nós), com a secretária da presidência. No fim, pudemos conversar com o presidente da empresa. E comprovamos: a excelência da empresa se reflete na humildade (jamais humilhação), no conhecimento e na segurança de seus dirigentes. Brindemos a isso!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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domingo, 9 de fevereiro de 2020
ZANELLA: Arte do Processo à Obra Final
São muitas as qualidades da Vinícola Zanella, de Antônio Prado. Qualidades que se destacam por seus diferenciais em relação a outras vinícolas. É, nas palavras de um de seus proprietários, que nos recebeu numa tarde ensolarada de sábado, "uma vinícola de vinhos de boutique" , ao que concordamos e acrescentamos: um oásis de quatorze hectares. Na Zanella, foge-se da convencional visitação, em que há muita explicação, alguma degustação, uma ou outra harmonização. Há, isso sim, vivência: lado a lado estão tanto os maquinários modernos, com tecnologia de ponta, como a natureza, os vinhedos. Aliás, comprova-se que este é o diferencial da Zanella pelo singular e excepcional que ela oferece: uma vez por ano, durante uma semana, um grupo de doze a dezoito pessoas, de diferentes estados do Brasil, vivencia a fabricação do vinho, desde a colheita até o depósito nas barricas de carvalho especialmente destinadas ao grupo, passando por cursos e jantares harmonizados. Esta é a Settimana in Cantina . Já tem vinícola copiando....Mas a Zanella começou a Settimana em 2013. Nessa semana, são 3500 quilos de uvas colhidas, que são convertidos em 2000 litros de vinhos, distribuídos (depois de 18 meses nas barricas) em 2700 garrafas.
Os vinhedos da Zanella são montados em espaldeiras retas, de variedades internacionais: Tannat (2600 pés), Merlot e Cabernet Sauvignon (para vinhos), Chardonnay e Pinot Noir (para espumantes). Sem contar as variedades de teste, como a Alicante Bouchet (1600 pés). São 100.000 garrafas por ano: 70% de espumantes, 30% de vinhos; 17 rótulos de cinco linhas/marcas que se diferenciam pela evolução e maturação.
A partir de um amplo estudo de clima e terreno com vinhedos controlados (sol e sombra adequados), a Zanella iniciou suas atividades, de forma mais profissional, em 2005. O objetivo não é a expansão em grande escala, mas permanecer com a qualidade alcançada, premiada e - pudemos comprovar - excepcional: fazer vinhos para o consumidor, ao gosto do consumidor.
Na visitação, conhece-se o espaço de 600 metros quadrados, dividido em dois pisos para a fabricação de seus vinhos, o varejo, a cave de vinhos, os tanques de fermentação, as barricas de carvalho e o maquinário para engarrafamento, rotulagem e degorgement. A cave de espumantes, isolada e climatizada, também pode ser contemplada. Cabe destacar que todos os espumantes são produzidos pelo método tradicional.
Para chegar à Vinícola, o turista passa pela cidade de Antônio Prado, cruzando a área urbana (auto intitulada "a cidade mais italiana do Brasil"(sic)), percorre trecho de estrada asfaltada, mas 6 quilômetros são de estrada de chão. São pedregulhos, há uma secura evidente nos cactus que ora ladeiam a estrada, dividindo o espaço com os parreirais, parece que o carro vai se desmontar. Mas, quando se chega à Vinícola, esquece de tudo: é um verdadeiro oásis, quase um spa. Sem contar os próprios vinhos e espumantes , de qualidade (sabor e aroma) superiores a muitos. Muitas novidades ainda vêm por aí, novos espaços de degustação e varejo, novos roteiros de visitação... Fique atento!!!
E, na volta (caminho pouco menos pedregoso) , pode-se conhecer a igrejinha construída em 1892, uma das primeiras da região., além da beleza da paisagem.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
LIMONCELLO: De hobby a obra de arte
Tradicional no sul da Itália, na região de Sorrento, Capri, Nápoli, que se destacam pela agricultura, o limoncello não era por nós conhecido. Tivemos o prazer de degustá-lo no Arte in Távola, restaurante aberto em Farroupilha, pelo chef Mauro Cingolani, atual diretor técnico da Escola de Gastronomia da UCS.
O licor, feito de cascas de limão siciliano, caldo de açúcar e álcool de cereais (há também uma versão "crema di limoncello", com leite), é, ou pelo menos surgiu, como hobby do chef, sempre produzido de forma artesanal.
O limoncello de Cingolani, atualmente com marca LA BASSA (provavelmente trocará seu nome no início de 2020, quando registrará a delícia), é consequência de uma história familiar. A mãe é expert em conservas, o pai, da segunda geração de restauranteur, já que o avô atendia aristrocratas numa época que a população das classes média e baixa não tinha condições de frequentar restaurantes. O avô de Cingolani marcava um horário da refeição e todos tinham de estar ali, irritando-se com atrasos. O nome dado é o mesmo do restaurante do avô à época. O pai de Cingolani é a grande referência na produção de limoncello (produzido artesanalmente- Cingolani não queria que se perdesse a receita, então passa a produzi-lo ele mesmo).
O LA BASSA surge também do desejo do chef de abrir uma agroindústria, dando vazão a uma prática que não consegue atingir nem em sala de aula (em que a transmissão do conhecimento é o foco), nem no restaurante-escola (cujo dia-a-dia exige uma rotina e uma supervisão diferenciada). O limoncello acaba sendo um escape, evolução de um caminho rumo à arte.
E é mesmo uma obra de artista. Os níveis de doce, ácido e amargo estão em perfeito equilíbrio. Uma ótima pedida como acompanhamento de sobremesa, ou até mesmo como drinque, a versão crema nos surpreendeu ainda mais, já que a harmonia de sabores está perfeita!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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Caxias é a terceira cidade do país com maior número de fabricantes de cervejas artesanais. Ainda assim, as cervejas representam apenas 3% do mercado nacional, o que é pouco se comparado aos Estados Unidos, cujas cervejas representam mais de 20 % do mercado. T ais números foram os impulsionadores dos atuais proprietários da Cervejaria Felsen a investir nesse negócio. Saídos do ramo de pneus, em que eram empregados, começaram a planejar a aquisição do novo negócio em 2015, adquirindo, no ano seguinte, a incipiente cervejaria, cujo nome remete ao basalto, icônica rocha (felsen, em alemão) que caracteriza o solo da serra gaúcha. O símbolo da Felsen também lembra a serra na sua vegetação: a araucária.
Diante do recém lançado Concurso das Melhores Cervejas, não poderíamos ficar sem conhecer, a Felsen, onde aconteceu a cerimônia de lançamento. Recebidos pelo proprietário Leonel Lorenzi, conhecemos sua produção. Tudo começa pelo recebimento das matérias primas(vale lembrar que a cerveja, essencialmente é produzida com malte, lúpulo, água e levedura). Em seguida, fomos levados aos três tanques que produzem as cervejas. O primeiro, que resulta em caldo doce de água mais malte. O segundo, onde é acrescentado o lúpulo. O terceiro, onde são acrescentadas as leveduras.
No andar inferior, se têm acesso à filtragem da água, que acontece para "drink hability", nas palavras de Lorenzi para que a bebida desça na garganta com maior facilidade. A água é a que todos temos acesso na cidade, não há mistérios. Mas Leonel brinca que a proveniência é "o sul da Itália, num mosteiro de freiras anãs albinas" (sic), numa ironia.
Em seguida, conhece-se também a pasteurização, que transforma o chopp em cerveja, o engarrafamento e a rotulagem. A Felsen produz cinco rótulos, além de outros dois sazonais. São seis funcionários, que atendem não só na produção, mas também no pub, que abre de terça a sábado e oferece além dos rótulos, petiscos. A Felsen vende para o consumidor final, para delicatessens e eventos, de Caxias, Porto Alegre, São Paulo e Bahia.
Essa visitação está disponível para qualquer interessado ao custo de R$ 25,00, com direito a degustação de quatro rótulos. Provamos de dois de destaque: o witbier e india pale ale. E pudemos conferir in loco, a diferença entre a cervejaria industrial e uma artesanal, em seus conceitos legal (na artesanal, a obrigatoriedade do puro malte) e poético (o elemento pessoal e singularizado do cervejeiro). Vale conferir!!
Ah! e observem "il picolo mimo" que recebemos!.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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sexta-feira, 11 de outubro de 2019
TOUR MAIS VISUAL NA AURORA
Há uma disputa entre as vinícolas, não há dúvida. A Aurora, de Bento Gonçalves, se intitula a maior e mais premiada vinícola do país. Surgida em 1931, é uma cooperativa que produz 60 milhões de quilos de uvas que, por sua vez, resulta em 50 milhões de litros por ano de sucos, vinhos e espumantes. São mil e 100 famílias cooperadas - na fundação eram 16 - de 20 localidades diferentes. Para essas, a Aurora oferece assistência jurídica, financeira, social e de saúde, bem como do controle de processos.
A Aurora tem três unidades fabris e produz 50% do suco de uva consumido nacionalmente. Para a produção completa, tem 320 tanques de aço inox, comprados na década de 1990, quando as vinícolas começaram a se modernizar. Como diferencial investe em pesquisa: hoje investiga micro terroir, com testes de micro vinificações, sendo que três desses já estão mapeados (Tuiuty, Monte Belo do Sul e Lageadinho); comprou uma área em`Pinto Bandeira, também para testes; e tem projetos enológicos com novas variedades de uvas. Lançou recentemente o "espumante" zero% álcool e suco de uva gaseificado, um tipo de refrigerante mais saudável.
No roteiro turístico pela vinícola, ao qual fomos acompanhados pelo enólogo baiano William Paim, conhece-se os tanques antes mencionados, bem como 150 pipas antigas, construídas com madeiras de grapia e araucária, e o germe do enoturismo na região, já que a Aurora mantém um pequeno museu, a antiga sala de degustação (cabe destacar que foi a primeira vinícola aberta a degustação, em 1967, ano da primeira Fenavinho). Hoje são 180 mil visitas por ano, na vinícola que exporta para 20 países.
Em 2010, criou a sala de degustações técnicas, onde seus 15 enólogos discutem o que irá para comercialização. Nesta, pudemos provar, além do suco de uva gaseificado, cinco rótulos de destaque: os vinhos Aurora Riesling safra 2014 (mantido em reserva até 2019, num projeto que era torná-lo espumante), Pequenas Partilhas 2017 (de Cabernet Franc) e Millesimo 2015 (de Cabernet Sauvignon, já que a Aurora é conhecida coimo a melhor vinícola brasileira desta variedade); além dos espumantes Aurora Brut e Aurora Moscatel Rosè (de sabor bem diferenciado).
Destacamos que o tour da Aurora é menos técnico e mais visual. A vinícola tem "pontos turísticos" em seu prédio, como o corredor com as bandeiras dos países que importam seus produtos, e o chafariz de Baco, o deus do Vinho. Isso fica evidente também no vídeo institucional, que é exibido no início do passeio.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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sexta-feira, 11 de outubro de 2019
WHISKY também é destaque na Serra Gaúcha
Engana-se quem pensa que a Serra Gaúcha é terra só de vinhos. Hoje já é uma das maiores produtoras de cervejas artesanais e, desde 1948, é a responsável por whisky exportado para o mundo todo. A Union Distellery Maltwhisky é empresa com mais de setenta anos no mercado de bebidas - já produziu vinhos, mas hoje se especializa em whisky - e iniciou suas atividades em Veranópolis.
Com objetivo de expandir a produção, escolheu o Vale dos Vinhedos, conhecido por sua diversidade gastronômica, entre as cidades de Bento Gonçalves e Garibaldi, para instalar a destilaria. Segundo a sommelier que nos acompanhou pelo tour, Gislaine, também pelo motivo da região oferecer água em abundância e clima de temperaturas amenas.
Cabe o destaque para os detalhes que elevam o visitante ao sublime: a arquitetura do prédio, a decoração interna da sala de degustação, o aroma característico (que logo inebria), a oportunidade de experienciar o odor do destilado com mais de 60% de álcool. Até o vídeo institucional exibido no início da visitação, trabalha com a imaginação, procurando transmitir ideia de status e poder associados à bebida.
No tour, conhece-se o processo produtivo, quase 100% automatizado, os tanques de fermentação do malte, os icônicos destiladores (pot still), as instalações onde estão os barris de carvalho americano nos quais o whisky "amadurece" por diferentes períodos. Por fim, a degustação de cinco rótulos: o Pure Malt Whisky, o Pure Malt Turfado (com o sabor característico de defumação), o Blended Whisky, a Edição Comemorativa de Setenta Anos, e o Licor de Whisky.
Mesmo para aqueles que não são grandes apreciadores e consumidores da bebida, vale muito a pena conhecer a Union, porque aprender e experienciar sempre é algo relevante e necessário.
Quem sabe ter em casa um "barrilete" de whisky a envelhecer conosco!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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VERA MARTA REOLON
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Sexta-feira, 27 de setembro de 2019
EXPERTISE CHILENA NA CAVE GEISSE
Pinto Bandeira é outra cidade da serra gaúcha, juntamente com Bento Gonçalves e Garibaldi, que se destaca por seus vinhos e espumantes. Situada na região nominada Caminho das Pedras. Em parte pela produção da Cave Geisse, cujo proprietário, o chileno Mário Geisse, foi o primeiro técnico da Chandon, quando de sua fundação em 1976. Cinco anos mais tarde, dá início a Geisse. Mário, de família alemã, permanece a maior parte do ano no Chile, onde trabalha em uma vinícola, a Silva.
A Geisse, de Pinto Bandeira, desde seu início, produz videiras em espaldeira. Hoje, prioriza duas variedades de uva (pinot noir e chardonnay) e apenas para produção de espumantes. Todos pelo método tradicional. Na Cave, já nas garrafas, o espumante permanece por no mínimo um ano.
Quanto ao tour, conduzido pela técnica em enologia, Aline Dambros, cabe destacar que é mais curto do que o das outras vinícolas que visitamos. É mais explicativo, menos experienciado: conhece-se apenas os tanques da primeira fermentação e a cave. Por fim, a degustação, porém apenas de dois rótulos de espumantes, do mosto original e de um dos vinhos produzidos por Mário no Chile.
A Geisse inova na produção de um demi-sec da uva moscato, além de ser a vinícola que produz o único vinho brasileiro que figura na lista "1001 vinhos para beber antes de morrer". Nas instalações o visitante tem acesso a um amplo espaço de descanso em meio à natureza, mas a food-truck que oferece empanadas chilenas cobra à parte. Uma pena, já que o valor cobrado para o tour é elevado (R$ 80,00) se comparado a outras vinícolas (como mesmo a Chandon, que é gratuito) e ao que essas oferecem. Hoje, as vinícolas devem se diferenciar, com mais opções além da degustação dos vinhos - e, obviamente, a relação custo-benefício sempre é avaliada. Nesse sentido, a Geisse tem de rever sua tarifa de ingresso, ou pensar em outros atrativos que agreguem à experiência.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
VERA MARTA REOLON
MTb 16. 069
Fotos by@GuiReOli
domingo, 8 de setembro de 2019
Tour Gerações é Experiência para todos os sentidos na Salton
Visitar a Salton, em Bento Gonçalves, é conhecer de perto a primeira vinícola do Brasil, registrada oficialmente em 1910. São mais de cem anos de história da empresa que produz 40% dos espumantes produzidos no país. Além da sede visitada, cabe o destaque para o fato da Salton estar instalada também na campanha e ter a parceria de 350 famílias produtoras (a maioria já há 3 ou 4 gerações). Conhecida também pela produção de outras bebidas, como o conhaque Presidente e a vodca Vous, a vinícola que já serviu a presidentes e papas, produz 12,5 milhões de litros por ano. E, importante mencionar: é sustentável - recebeu o ISO 14001, já que os talos das uvas voltam como adubo para os próprios parreirais.
Participamos do tour Gerações, o mais completo ofertado pela vinícola. Com duas horas e meia de duração, o visitante conhece todas as etapas da produção de um vinho. O passeio é todo guiado, não só pelas explicações técnicas, mas também por meio de obras de arte, fotografias, sons, o que aguça todos os sentidos, figurando como uma experiência estética mais completa. Quem nos acompanhou foi Igor Paese, cujo conhecimento técnico provém da experiência direta com a produção vitivinícola (a família é produtora) - a didática do guia foi excelente, fruto de vivência (superando, neste caso, não ter educação formal em enologia), livre de explicações que podem soar complicadas ao visitante. Dúvidas foram sanadas, houve aprendizagem, curiosidades foram atiçadas.
De início, já na entrada do parque turístico (inaugurado em 2004, no Distrito de Tuiuty, e projetado para o enoturismo, um pioneirismo), o visitante se depara com um teto pintado por artista local - o painel , à semelhança do exemplar "Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira" , de Aldo Locatelli, descreve uma comunidade colonial de imigrantes italianos produtores de vinho. Ali estão as videiras, as gerações, o trabalho, o padre, os momentos de descontração, a mesa farta. Um resumo para quem não conhece o que foram os primórdios da colonização na serra gaúcha.
Em seguida, o visitante é levado para um grande salão, também com o teto pintado. Destra vez, é a história da Salton que é contada - seu início, marcos, altos e baixos, até a construção do parque turístico. Após , conhece-se os tanques de produção dos vinhos e espumantes e o parque fabril (engarrafamento, rotulagem, etc). Depois de passar pela sala dos principais certificados, o próximo ponto é a Cave das Bordolesas, onde mais de 1500 barricas de carvalho americano e francês guardam alguns dos vinhos da vinícola.
Mais tarde, o visitante passa pela Cave escura e, com temperatura controlada, onde cantos gregorianos tocam ininterruptamente e esculturas de anjos guardam os vinhos e acompanham o visitante (guardando-o?). Para aqueles que optam pelo tour Gerações, a próxima parada é a sala secreta. N esta, uma mesa com 12 lugares (simbolizando a Távola Redonda e os Cavaleiros do Rei Arthur), e com signo da cultura celta figura sob um emblemático vitral - essa união, por sua vez, simboliza a harmonia entre o céu e a terra. Ao lado da mesa, repousa a Vindimeira em alto relevo, significante das incertezas das safras, e garrafas históricas e raras da Salton. Já na mesa, o visitante prova de 6 rótulos de destaque da vinícola acompanhados de tábuas de frios.
Saindo da sala secreta, passa-se pelos laboratórios (de análise sensorial, microbiologia, cromatografia e eno-química), terminando o passeio na fachada da vinícola. Lá, há o relógio solar, desenvolvido pelo laboratório Nuova Expressione Artística Nel Mosaico, vindo da Itália. Por fim, parte do valor pago pelo tour é revertido para consumir no varejo da vinícola. Uma ótima opção!!!.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
Fotos by@GuiReOli
segunda-feira, 26 de agosto de 2019
Assemblage e Expertise Internacional transmutam em Arte Espumantes da Chandon
Poucos são os profissionais que compreendem que fazer com técnica e estilo, constituindo uma assinatura, torna arte seu trabalho. Frequentemente, associam um bom trabalho à quantidade - fruto das primeiras teorizações na administração. Resultado do taylorismo e do fordismo, a sociedade dissociou trabalho e arte, ciência e arte.
A Chandon é filha da tradição francesa de produção de espumantes e, como tal, valoriza a qualidade em detrimento da quantidade. São apenas "seis" rótulos, todos produzidos no método charmat, desmistificando também a persistente e equivocada ideia que espumante de qualidade é apenas o produzido no método tradicional. Quando se instalou em Garibaldi, em 1973 (está em mais seis países), a vinícola soube captar bem a peculiaridade do clima e do solo da região e não forçou a adaptação de um fazer típico de outra realidade. Compreendeu a singularidade do basalto, a amplitude térmica e aprimorou o saber do charmat.
Constituir uma identidade, fundamentada em sua diferença: esse foi o foco da Maison Möet & Chandon, um dos grandes "braços" do conglomerado empresarial LVMH, que congrega marcas de relógios (como Hublot), moda (Fendi, Bvlgari, Kenzo, Givenchy), perfumaria (como Dior) e bebidas (onde a Chandon se inclui, como a Don Perrignon e a Hennessy). A França é muito sábia nesse sentido e formou seu poder exatamente aí, desde Luis XIV: foi pioneiro em soft power, quando nem se pensava nesses termos.
O tour proporcionado na Chandon também é singular. Além de contar com a presença da tecnóloga em enologia Daniela Chisini, receptiva e hospitaleira, cabe o destaque para o domínio técnico desta. Com o auxílio de projeção digital, a apresentação fica ainda mais completa, já que ela expõe, de maneira didática, os processos químicos (inclusive as fórmulas) que acontecem nos tanques. O turista (ou quem, como nós, que esteve lá a trabalho) não só assiste a exposição, como experiencia a produção, engarrafamento, encaixotamento,.., : no paladar e no aroma (prova de etapa inicial), no visual (enxerga internamente o tanque). Depois de passar pelo laboratório técnico e pelos tanques, é levado para a fábrica, onde acompanha todos os processos de engarrafamento até a expedição (que só acontece três meses depois das garrafas estarem nas caixas). Por fim, o turista, se agendou a visita, prova de todos os rótulos da Chandon. O melhor: o tour, diferentemente de outras vinícolas, não é cobrado.
Aliada à expertise técnica, está a sensibilidade dos enólogos, transmitidas por estes aos mais de cem produtores parceiros. O terroir da Chandon também prima pela qualidade, concentrando-se em três variedades de uvas: riesling itálico, pinot noir e chardonnay. O CUIDADO, conceito empregado por Heidegger como determinante da propriedade ou não de si mesmo, é fundamental para a Chandon, o que reverbera em assinatura, estilo, identidade marcantes e singulares. Há método na plantação e na colheita: as videiras estão conduzidas verticalmente (em "espaldeira"), a poda é padronizada, a colheita é manual e seletiva.Imediatamente as uvas são separadas, classificadas conforme variedade, origem, teor de açúcar. E, o mais importante diferencial da Chandon: a técnica e a arte do assemblage, fruto do trabalho conjunto da equipe técnica.
O assemblage é a harmonização de vinhos de uma mesma região, porém de diferentes safras e variedades e se assemelha à arte da perfumaria, divergindo de uma simples mistura. É o que identifica a Chandon, já que proporciona permanente qualidade, constância de aroma, aspecto e sabor, diferentemente da maioria das vinícolas afetadas pela inconstância da safra, que resulta em inconstância de vinhos.
Isso é pouco para dizer da Chandon. O que vale é conhecer, provar, se encantar com a experiência estética.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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quinta-feira, 27 de junho de 2019
Cervejaria Leopoldina se destaca com 14 rótulos
A Valduga, além de seu complexo enoturístico, que abarca diversas empresas (para separar cada membro da família a comandar "pedaços" da empresa?) investe também no ramo das cervejas. Há três anos, criou a Cervejaria Leopoldina, e já apresenta ótimos resultados, com diversas premiações, inclusive de rótulos que ainda não são comercializados. Aliás, são quatorze rótulos, cinco deles considerados especiais, até mesmo com engarrafamento diferenciado.
Interessante, nesse sentido, conhecer o processo de elaboração das cervejas na Leopoldina. Já comentamos por aqui do tour que fizemos na DOMNO e na .NERO, braços vitícolas da empresa, no qual fomos guiados pela enóloga Regina Bittencourt. Novamente, na Leopoldina, isso aconteceu. Ser recepcionado e conduzido por profissional com conhecimento técnico é outra coisa, e um dos diferenciais também da cervejaria. Não se está ali apenas para degustar e conhecer o ambiente (além de fazermos nosso trabalho de crítica, inclusive do que nos apresentam), mas também para saber como tudo acontece.
Nesse sentido, conhece-se os três tanques iniciais (no primeiro, em que o malte é fervido; o segundo, cujo objetivo é a decantação; o terceiro onde é acrescentado o lúpulo). Após esse processo, a bebida é transferida para os grandes tonéis (semelhantes aos utilizados na produção de vinhos), em que a fermentação acontece.
Quanto aos rótulos há diversidade no que tange ao teor alcoólico, por exemplo. Isso se reflete no aspecto (cor) da cerveja, no retrogosto. Destaque para a cerveja com sabor de limão siciliano, superleve. Claro que há as especiais, com brandy, as que passam por barricas de carvalho já utilizadas na produção de vinhos chardonnay, a mesclada com espumante (70% cerveja, 30% espumante). Há rótulos para todos os gostos e bolsos. É só escolher!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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Terça-feira, 11 de junho de 2019
Surpresas Boas!
O Vale dos Vinhedos, especialmente Garibaldi e Bento Gonçalves, vale da uva e do vinho tem produzido boas experiências, que seja para fugir da crise financeira que assola o país e o mundo, que seja para nos ensinar um pouco do que a criatividade , aliada à necessidade de mudança e evolução, podem fazer com as pessoas.
De uma região que seguia os caminhos de Caxias do Sul, industrializando-se na área metal-mecânica, passa a criar na área eno-gastronômica, turística por excelência. Mas se pensamos que as experiências se atem ao que Caxias pratica, nos enganamos redondamente. A região há muito se libertou do jugo caxiense e disparou em novos vôos solo. O turismo aí disparou e trouxe novidades que nos surpreendem a cada passo que damos na região. Desde os restaurantes que já não servem somente a famosa mesa "italiana" : sopa de capeletti, polenta, galeto, massa, ., certamente mesa farta, mas sem muita diversificação. Ali servem-se pratos de nível internacional, que não deixam a dever a nenhuma cozinha francesa, japonesa, inglesa,..,o que for (e o que o sabor e o gosto pedir).
Os hotéis(esses ainda precisarão de um tempo, para que falemos um pouco mais deles - e de visitações) já não apenas hospedam, mas oferecem tour de paisagens, ordenhas, visitações, o que o olhar, o gosto e a possibilidade de gastos permitir.
Mas a última novidade (a mim ao menos) vem de algo absolutamente inusitado: os passeios às viní colas com assessoria de enólogos, experts, a nos indicar o caminho da fabricação, do trabalho, de todos aqueles que nos antecederam na vida e permitiram que chegássemos onde estamos, pois trabalharam muito para isso e de forma brutal desbravaram a terra árdua, basáltica, para obter dela o fruto de seu trabalho e o sustento da família.
Assim, visitamos, por ora, a Peterlongo e sua história de tradição, de um iniciante inovador e visionário que, com seguidores não tão visionários perderam um terreno cultivado. Hoje a empresa sob novos investidores vem recuperando o tempo perdido e avançando em novas inovações. A DOMNO, importadora de vinhos do exterior, mas fabricando para tornar-se um, ao nível internacional, e premiado entre os melhores.
Mas a grande surpresa, e boa, para o meu olhar é a Cooperativa Vinícola Garibaldi, uma cooperativa que, quando todos visam a separação e vôos solo, desmembrando-se das cooperativas, ela se mantém e cresce a olhos vistos, mostrando na visitação o apego à tradição, sem deixar de olhar para o futuro e atenta ao presente, já que de 60 cooperados, passa a 400, e segue crescendo, produz e vende toda a sua produção, pensa em um ambiente bio-sustentável. Algo a se olhar com olhos carinhosos e caridosos de um elogio amplo.
Também me agrada sobremaneira observar os criativos que, sob ventos nada favoráveis, conseguem desvencilhar-se de uma crise que assola o magistério e dar a volta por cima, com sabedoria e grande humildade, mas com máximo talento.
Grandes e maravilhosas surpresas para alguém que como eu preocupam-se com o desemprego que assola a Terra, como um todo, e arrasa talentos promissores em ópticas desagregantes.
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
Terça-feira, 11 de junho de 2019
Combinação Perfeita entre Vinho e Chocolate na Garibaldi
Setenta itens (sucos, vinhos e espumantes) de quinze marcas diferentes, vendidos para cinco mil clientes do Brasil e do exterior, esses são os números da Cooperativa Vinícola Garibaldi, uma cooperativa que surgiu em 1931, com sessenta cooperativados, e hoje conta com mais de quatrocentos desses, número que não para de crescer, já que aceitam novas associações (depois de um ano na cooperativa em "estudo" tornam-se sócios cooperados). A última vindima: 24 milhões de quilos de uva, 20 milhões de litros. Os números surpreendentes já seriam suficientes para aguçar a curiosidade e visitar a vinícola, sem contar a linha biodinâmica, lançada em janeiro, que alia os princípios da produção orgânica com o calendário astral (cuidam das fases da lua, por exemplo).
Nada comparado à experiência que o visitante vai encontrar no tour "Taça e Trufa". Antes: o contacto com os equipamentos antigos, mais rústicos, usados para fabricação de vinhos e espumantes, e com o interior da pipa de araucária, onde os cristais (o bitartarato de potássio) se depositavam nas paredes (depois extraídos para fabricação de cosméticos, creme dental e, quem sabe, até jóias - novo uso proclamado!).
O passeio continua pelas pipas antigas, em cada qual há uma frase, de pensadores, filósofos, escritores, que em algum momento dissertaram sobre o vinho. Entre atos é que acontece a experiência "Taça e Trufa", uma experiência cujas palavras são poucas para descrever e expor de uma combinação perfeita de chocolates com vinhos e espumantes, cuja harmonia é incomparável e remete a aromas, sabores e memórias.
São cinco combinações: vinho chardonay com trufa de maracujá; espumante prosecco e trufa de laranja; espumante brut rose e trufa de cereja; espumante moscatel e trufa champagne. Não bastasse a experiência inesquecível, o visitante da Garibaldi degusta a novidade da vinícola, que ainda não está sendo comercializada: o prosecco rose, o primeiro do tipo no Brasil. Uma perfeição!
Tudo acompanhado da simpática expertise da enóloga Renata Cardoso.
SALUTE!
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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Terça-feira, 11 de junho de 2019
Turismo com Conhecimento na DOMNO e .NERO
Chegar na DOMNO Importadora e ser bem acolhido pela enóloga Regina Bittencurt com um sorriso e uma alegria, mesmo diante de um nebuloso e cinzento dia , por si, já é algo. Ser levado ao diversificado, seleto e eclético varejo da importadora, também. A DOMNO se destaca pela importação de rótulos de variados países: Portugal, Itália, França, Chile, e novos produtores como África do Sul e Nova Zelândia. Cabe destaque para os vinhos deste último, sustentáveis, preocupados com a preservação do meio-ambiente, sem artificialidades que ferem a vida, inclusive a humana.
Mas isso é pouco se comparado à experiência seguinte: fica-se sabendo que Bittencurt nos acompanhará na visitação a .NERO, um dos "braços" da Famiglia Valduga, de espumantes produzidos no método Charmat, premiados nacional e internacionalmente. Não é uma visitação comum. A formação e o carisma da enóloga, aliados à formatação do passeio, são o diferencial da DOMNO.
Diferentemente de outras vinícolas, o turista não só passa por todas as etapas do processo produtivo do espumante. Na DOMNO o turista realmente experiencia a produção. Ainda que ali não haja vinhedos, "pisagem" de uva, essas coisas a experiência está na degustação da bebida desde a etapa que não passa de um suco, até o produto final (cerca de seis rótulos), passando pela máquina de engarrafamento. Tudo acompanhado de conhecimento fundamentado. A visitação deixa de ser só um passeio e passa a uma aula do "fazer espumante", experimentando, degustando, o suco, o vinho, a primeira fermentação, tanque a tanque, o engarrafamento, o espumante premiado: desde o mais frutado até o mais seco - aroma, perlage, sabor, conhecimento, tudo num equilíbrio perfeito.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
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Quarta-feira, 29 de maio de 2019
Uma Experiência Estética na Peterlongo
Para falar de uma experiência, explana-se sobre um acontecimento que é único. Diz Dewey que há arte, quando há uma experiência estética. A experiência estética, por sua vez,acontece não só diante de manifestações artísticas ortodoxas (diante dessas pode nem ocorrer), mas frente a um prato gastronômico, uma competição esportiva, etc. Mas, como dizia antes, falar de uma experiência é falar de algo que aconteceu, que pode não não acontecer mais, que é irreplicável.
Talvez por isso, dizer algo que vivenciamos na visita a Peterlongo só pode ser dito como experiência. Chegar à vinícola já é algo único, principalmente pois estamos da história vivificada - num momento, e numa região (infelizmente), em que se valoriza o futuro, mesmo o presente, tecnológico, e esquece-se, ou destroi-se o passado. A Peterlongo se mantém: o castelo que abrigou seu antigo proprietário, a Vinícola de pedras basálticas, os vinhedos, tudo ali é histórico. E tradição para a Peterlongo é sinônimo de excelência.
Na visita guiada, temos acesso aos maquinários primitivos, do fazer espumante - a casa se orgulha de poder usar o designativo champagne - , a um pequeno museu, que conta a história da vinícola- família e, o mais interessante, aos tanques por onde passam os espumantes no método charmait, depois às salas onde eles, já engarrafados, continuam a ser melhorados, se do método tradicional, ou champagnoise (frise-se - em ambiente controlado e sem iluminação). Um corredor, só possível de ser visto por trás de grades, separa e guarda garrafas históricas de mais de setenta anos. Ao final, a visita acaba na degustação do que a Peterlongo tem de melhor, sua expertise. E a experiência acontece ainda mais diante dos persistentes perlages.
Para aqueles que querem mais, a vinícola tem um projeto muito interessante: o Wine Movie, ou se quiséssemos traduzir "filme na vinícola".
No verão, os espectadores assistem ao filme nos jardins da vinícola; no inverno, no espaço interior. De presente, uma taça personalizada. e, durante o filme, pipoca a vontade. Claro que a bebida principal da viní cola está disponível para aquisição e encher as taças. Sem dúvida, uma experiência no entardecer de Garibaldi, a Capital do Espumante!.
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GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
VERA MARTA REOLON
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