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moda

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Adam and Eve expelled from Paradise (1887)
Auguste Rodin
Musée Rodin

Paris, França

domingo, 17 de novembro de 2023

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O Concerto de Moda de Caxias do Sul chega à sua segunda edição, remodelado, ampliado e com um novo nome: Concerto de Moda da Serra Gaúcha. Sua primeira edição, realizada em 2022, já foi um sucesso, tendo em vista que colocou a cidade no calendário de moda do país, dando visibilidade a marcas autorais.  Mas o Concerto de 2023, que aconteceu entre 08 e 11 de novembro, surpreendeu em muitos aspectos.


Pudemos conferir os quatro desfiles, cada qual representando um instrumento musical e, nesse sentido, um conceito. O primeiro dia do evento incluiu dois desfiles, e ocorreu na rua Sinimbu, em frente à praça Dante Alighieri e à Catedral Diocesana.


O Desfile Pandeiro apresentou seis marcas autorais: Rachi Vanin, Estese, Martina Cambruzi, Nuhdô, Criolada, Hera Brand.  Já o Atabaque trouxe marcas da Serra Gaúcha, que ecoam suas produções pelo mundo: Rafaela Tomazzoni, Gida, Anselmi, Biamar, Rico Bracco, Montefina, Melissa, Yang, Eberle, Dominator, UseMoni, Fig.Cool.


A Sinimbu pulsou moda, e foi o dia mais movimentado, gerando grandes comentários, inclusive na grande mídia. Na rua, o evento teve grande visibilidade e propiciou que a moda se democratizasse.


O segundo dia do CMSG teve o desfile Flauta, e ocorreu no deslumbrante Palacete Eberle, onde hoje funciona o Buffet Aristos (que nos brincou com espumantes, canapés e um delicioso risoto) e , um prédio histórico, muito conservado, com seus vitrais e espaços espetaculares. O Flauta apresentou a moda sob medida: Rico Bracco, Vivian Boff, Izabel Peteffi Basso, Lis Faria e Ana Dotto. Muita elegância foi a marca deste desfile, muitas noivas elegantemente vestidas para brincar dias felizes.


 O último dia, com o desfile Cuíca, foi revolucionário, unindo a moda das roupas de “segunda mão”, os brechós, a sustentabilidade e os espaços da sede social do Clube Juvenil, apresentando as marcas: Ratazone, Garimpo Gold, Garimpo de Ap, Eco Street Brechó, Maria Pagu e Juju’s Brechó. Ao mesmo tempo, um bazar com 50 expositores ocupou o tradicional e histórico edifício.


Caxias do Sul respirou moda nesses quatro dias de CMSG, que também propiciou quatro conferências e palestras sobre o tema. Para o futuro, a organização pretende ampliar ainda mais o evento, com duas edições anuais, Primavera/Verão e Outono/Inverno, tradição em outros centros de moda do país e do mundo.


Fotos byGuiReOli




GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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domingo, 17 de novembro de 2023

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        Quando das descobertas, viajantes europeus, em busca de riquezas, partem a novos mundos, encontram moradores com quase nada a cobrir-lhe os corpos.

     Aos poucos , as diferenças entre os excessivamente vestidos "visitantes" e os moradores quase nus vão-se desfazendo e ambos vão-se aproximando. 

     Em outras épocas , as diferenças entre as vestimentas transpareciam em quem possuía mais riquezas, através de panos mais sofisticados, de melhores design's, de jóias a adornar-lhes. 

       Nos dias de hoje, os privilégios se situam mais em cortes elaborados, em acabamentos estruturados e bem feitos, em design's distintos. 

       Mas o que realmente distingue, nos dias de hoje, é o estilo, a personalidade, a identidade de quem porta a roupa. A forma como a veste identifica o padrão de sua escolha, suas características, sua personalidade. Este é o grande diferencial, o que dá o sentido da MODA, o que distingue tempo e espaço, o que dá o SER da MODA!

     Roupas evidenciam gosto, escolha. Roupas são uma extensão da própria personalidade, jamais disfarces, imitações. Usa-se para sentir-se bem, confortáveis, belos, satisfeitos consigo mesmo! Aqui está o GOSTO, o juízo de valor  de que Kant já falava no "lá então"!  



VERA MARTA REOLON

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domingo, 12 de março de 2023

Concerto de Moda e o legado de Ênio Martins na Secretaria de Turismo de Caxias do Sul



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O trabalho de Ênio Martins à frente da Secretaria de Turismo será lembrado por "n" atividades que levaram o nome da cidade de Caxias do Sul para além da visão de cidade industrial, de pólo metal-mecânico. O legado de Ênio é a marca CAXIAS DO SUL presente desde o Setor Viti Vinícola , até a Moda, o Design que se produz aqui, passando pela valorização das etnias, do interior da cidade, mas não só, o cuidado do centro, do entorno, das vinculações com a região da uva e do vinho e também com a região das hortências. 

    

Recentemente a Prefeitura mudou o Secretário de Turismo, porém cabe destacar o trabalho do secretário anterior e lembrá-lo como um marco na história de Caxias para além das fronteiras do que sempre foi apregoado como sendo a cidade. Esperamos que seu trabalho seja continuado em todas as administrações, pois a cidade e seu povo merecem. Que repercuta em ações duradouras nos diferentes setores vinculados ao turismo, não apenas na Festa da Uva, mas também nela, é claro!  


Destacamos, em fotos um dos últimos eventos ocorridos com seu grupo à frente: o Concerto de Moda.




Fotos byGuiReOli




GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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domingo, 22 de maio de 2022

Os "bambini" e suas roupas




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Olhares sobre as vestimentas, sejam elas dos imigrantes italianos ou dos gaúchos, sempre foram a expertise de Véra Stedile Zattera, pesquisadora e ex-professora da UCS. Vestidos das soberanas da Festa da Uva são, muitas vezes, criações suas, ancoradas em pesquisa histórica. E chegou a vez dos “bambini”, das crianças.


A obra “Bambini”, que reúne fotos e textos, está fundamentada em pesquisa com os retratos encomendados pelos Médici, primeiros registros das crianças, seguidos de inúmeras fotografias, algumas de familiares da autora, muitas oriundas do Arquivo Municipal.


O lançamento da obra, no último dia 10, foi acompanhado de exposição, que fica aberta ao público até 03 de junho, na Galeria Municipal Gerd Borheim. Uma exposição para adultos e para crianças, já que mais quatro livros para colorir também foram lançados. No espaço da Galeria, Zattera inovou e expôs fotos históricas impressas em lenços (que estão à venda e cuja verba arrecadada será revertida a ONG). Para as crianças, há telas, nas paredes, para colorir, mesas e lápis coloridos. O espaço, por si, é convidativo aos pequenos, com muito papel crepon, balões pendentes do teto.


Cabe destacar também a exposição, além das fotos nos lenços, de bonecas (em uma parede inteira e no centro da galeria) – incluindo um exemplar (uma boneca) da autora, da década de 1960. Resumindo: quase uma instalação, um diálogo entre o moderno e o clássico, lúdico, histórico e artístico. Um convite para conhecer mais nossos costumes, a nós mesmos, através da análise do que vestiram os pequenos caxienses, especialmente de 1920 a 1960.



Fotos byGuiReOli




GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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domingo, 20 de fevereiro de 2022

Efeito artifício: quando a moda questiona a si mesma

 

 

 

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O que é luxo? A pergunta se torna capciosa, ainda mais nesta época de proliferação de grandes marcas estampadas em produtos made in China, fakes e falsificados. A coleção "Efeito artifício", de Renan Isoton, questiona e brinca com esse contexto, e foi agraciada com o Prêmio UCS Sultêxtil, um destaque no ramo da moda.

 

"Efeito artifício", como coleção, se transfigura em performance, como teatralização. Em termos subjacentes, tem um fundamento na sustentabilidade e na economia circular, temas que o designer atualmente pesquisa no mestrado. A coleção explora o kitsch e o camp, com tecidos provenientes do Banco do Vestuário (do município de Caxias do Sul, onde Renan foi coordenador), utilizando também de técnicas de customização e aproveito de materiais. Gastando pouco e brincando com a ilusão (tecidos populares, incluindo até mesmo de sofás, que lembram requinte, luxo, brilho).

 

Uma das inspirações da coleção foram as obras História da Beleza e História da Feiura, ambos de Humberto Eco. Destes escritos, extrai que o gosto muda com o tempo. Nesse sentido, Isoton partiu da história da arte (pretendia, inicialmente, cursar Artes Visuais) rumo à moda. Filho de agricultores, natural de Farroupilha, sempre ouviu que devia estudar para não sofrer como os pais. Com o desejo de lecionar, após concluir a graduação (em que foi bolsista de Iniciação Científica, monitor de disciplinas), ingressou no mestrado, passando por intercâmbio de seis meses na Universidade do Porto.

 

Da moda, Renan gosta da dinâmica, do desenvolvimento das roupas, da pesquisa envolvida, do planejamento, pensar como ela interfere na vida das pessoas, no comportamento. O designer se interessa pela convergência que a moda proporciona: entre os campos criativo, comportamental, social, tecnológico, científico, técnico.

 

Nas roupas, a simplicidade da linha, em contraste com a sobreposição de peças nos looks completos, também remete à artificialidade, explorada, algumas vezes, pela indústria cultural e pela cultura pop (neste quesito, como não lembrar de Madonna, em seu início de carreira).

 

Um tecido destinado à estofaria só serve a sofás, ou pode "ficcionalizar" um veludo? Quais as barreiras entre as aplicações de um tecido? Quais os fatores que determinam a que um tecido serve (ou pode vir a servir, mudando modelagem, corte, design)? A aparência dita a norma ou a norma dita a aparência? Tais questionamentos, que fundamentam, ontologicamente, a moda como vanguarda, estão presentes na coleção "Efeito artifício". Cabe ao designer Renan Isoton seguir em frente, com novas propostas...

 

 

 

Fotos byGuiReOli

 

 

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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domingo, 29 de agosto de 2021

Identidade e estilo na RICO BRACCO

(parte 1)

 

 

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A marca surgiu como homenagem ao avô, Henrique (por isso Rico) que trouxe um cão, quando da última leva de imigrantes italianos – Bracco era seu cão de caça. Assim, Rico Bracco. A família de Fabrício Gelain (que não se considera estilista, mas artesão) é uma constante em seu trabalho, sua grande inspiração (tios, avós), que é menos visual, mais ligada à memória e aos sentimentos que dela derivam. “Vejo as peças como auto-retrato”, destaca. Em cada criação, há uma busca por suas origens (estritamente relacionada às questões da imigração italiana, o trabalho, o escasso lazer, as diferenças de gênero, afetos e desafetos, valores e dogmas, o ”sexismo”). São propostas de reflexão, quase textos filosóficos do vestir.

 

Nova Treviso, localidade no interior de Nova Roma do Sul, onde a família de Fabrício se instalara e onde este passava os fins-de-semana, também está presente, em cada criação, em cada conceito empregado. A avó era costureira e, embora dissesse “Não mexe na máquina”, isso atraiu o neto (ou talvez mesmo por isso!). Gelain foi menor aprendiz no Senai, concluiu curso de costura e modelagem. Depois, na graduação, optou por Design de Moda. Ainda durante o curso, a convite, ministrou aulas de alfaiataria para seis professores na Universidade de Guadalajara (México). Assim que se graduou, inaugurou sua marca, inicialmente fazendo roupas de festas sob medida.

 

Não identificado com essa vertente e em busca de um estilo próprio (ligado ao conhecer-se, ao tornar-se si mesmo), e sob a influência da estética japonesa, foca em criações atemporais, mais puristas, de linhas simples, que vistam vários corpos, respeitando suas diferenças. A valorização da singularidade é evidente na produção da Rico Bracco: liberdade de movimento, conforto, apuro no design (da concepção ao produto final) são transmitidos em cada detalhe. O apuro do olhar e do fazer, ou seja, o equilíbrio entre talento e técnica, que é tão caro a Fabrício, tornam suas criações obras de arte. Em cada peça, há um preciosismo e o objetivo do artesão, que é fugir da coisificação, atento mais ao fator simbólico da roupa (como expressão, comunicação), é atingido pelo corte bem executado e o acabamento impecável. Costuras quase imperceptíveis, cuja face usável da peça e seu verso são muito semelhantes. O linho é a matéria-prima, com fibras mais longas, teares com menos mão-de-obra, importado da China, da Bélgica e da França (cuja qualidade é indiscutível). Nada é aleatório, tudo é fruto do trabalho, seja ele manual, técnico ou intelectual, juntos, sempre!

 

 

REMANESCER

 

A coleção 2020, intitulada Remanescer lançada em evento restrito a alguns convidados (devido à situação pandêmica), em 19 de outubro de 2020, na Galeria Municipal de Arte Gerd Borheim, remete ao feminino colonial. No lançamento, em que as roupas permaneceram suspensas, sempre visíveis, enquanto uma performer “deu vida” ao conceito, percebeu-se o primor pelo significante em detrimento ao significado. O gesto da/na interpretação é original, logo individual.

 

A atmosfera do evento era vermelha, porque visceral, contrastando com as peças fluidas, leves e brancas (e a ligação conceitual com o trigo). O linho-seda e o linho-puro, com ou sem bordados, contrastando com o pesado da foice, presente na performance/dança.

 

O artesão fala de renascimento e repetição. De leveza, tão necessária aos nossos tempos sombrios. Por isso, alfaiataria tradicional (o clássico) e desconstruída (o novo). A performance, porque “pela forma”, permite conteúdos diversos, obra aberta. Assim, o movimento da bailarina pode remeter ao trigo, de início semente, dura, depois crescida, estruturada, leve (movida pelo vento), fonte de/da vida (na tradição católica), de alimento e do vestir. Pode remeter também à mulher, presa no mundo masculino, com desejos de libertação. Um corpo endurecido (pelo sofrer?) rumo à fluidez. Ainda que fluida, não abandona o trabalho, o embalo, o sorriso. Retorna ao princípio: equilibrada, flutua... Afinal, a foice é só trabalho, ou instrumento de artista? O trabalho que transmuta em arte.

 

 

TRANSMUTARE

 

A memória, tão presente no estilo da Rico Bracco, torna, retorna, materializa, simboliza, concretiza, representa. Porque é constitutiva. A memória é a ligação do sujeito com o Outro, com a alteridade: imagens estruturantes dizendo o que somos, de onde viemos, o que fizemos com o que fizeram de nós. Por isso, são (e ao mesmo tempo não são) retratos de acontecimentos. São o resultado de nossa interpretação, mediada por sentimentos, sensações, percepções, racionalizações, de fatos, marcas.

 

A Transmutare, nova coleção de Gelain, que surge como esperança, diante do horror pandêmico (a Remanescer era resistência, a Transmutare é memorial, é renascimento, buscar o que de bom havia antes), mas sob um olhar que nunca será o mesmo, porque aterrorizado, traumatizado. Segundo o artesão, é “renascer das cinzas”. Cinza aqui também é memória: de onde viemos, para onde iremos... remete ao trabalho, do avô, uma grande referência, desde a concepção da marca. Tabaco que também faz parte da própria vida de Gelain, de uma oralidade frente à ansiedade. A transmutação é conceito-chave não apenas dessa coleção, mas do trabalho da Rico Bracco: da pureza do linho nasce a obra de arte, impregnada de um conhecer-se, de um tornar-se si mesmo, que valoriza o passado, as origens, mas não deixa de contemporaneizá-los. Transmutação por ressignificação, através de um trabalho crítico relativo ao patriarcado, à submissão das mulheres, sofridas, calejadas. Por isso, ora peças sem gênero, ou melhor, que abarca todos os gêneros, ora peças que valorizam as especificidades daqueles que as vestem: cobrir e descobrir, modelagens amplas, limpas, sem rebuscamentos (ou com eles, porque não?).

 

A Transmutare virá a público no próximo EcoFashion, em Milão. A Rico Bracco será uma das oito marcas que representarão o Brasil no evento, depois de passar pelo crivo de duas edições nacionais, cuja exigência para participação já é alta: há critérios bem estabelecidos em sustentabilidade. Na última edição brasileira do evento, participaram 68 marcas.

 

 

ATELIER/MAISON

 

Conhecemos a Rico Bracco em julho de 2020 em espaço que Gelain dividia com a prima (consultora de estilo), uma sala comercial na Dr. Montaury. O ateliê era pequeno e não condizia com o potencial do artesão.

 

Uma alegria saber da mudança para a casa na Guia Lopes, e muito mais ao conhecê-la. O atual ateliê de Rico Bracco é amplo, arejado, com diferentes ambientes e lembra as grandes maisons europeias. Muito coerente com o trabalho e a proposta de Gelain.

 

Os detalhes – sempre! – são significantes. Não apenas nas roupas produzidas pela marca. A recepção apresenta icônicos chapéus de palha e um show room. Em uma sala anexa, um espaço de convivência, com cadeiras idealizadas pelo artesão e uma mesa onde Gelain, carinhosamente, oferece chá para o visitante/cliente, servido nas cerâmicas, também criadas em parceria por ele.

 

Há ainda a sala de provas, a sala de tingimento, e até o banheiro foi pensado de modo a congregar os conceitos/ideias da marca. No andar superior, um sótão que congrega o escritório do artesão e o ateliê propriamente dito. A casa, como as maisons, tem tudo, inclusive, para abrigar desfiles, lançamentos de novas coleções.

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domingo, 29 de agosto de 2021

Identidade e estilo na RICO BRACCO

(parte 2)

 

 

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TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

 

Não podíamos deixar de retornar à Rico Bracco depois de saber de sua icônica criação e produção do vestido da então candidata à rainha da Festa da Uva 2022, Bruna Mallmann, eleita princesa em evento recente (comentado por nós na editoria Eventos).

 

Nossa surpresa maior é que o vestido foi criticado por pesquisadora de vestimenta, acusado de ignorar a história dos vestidos das soberanas, a tradição. Quanto equívoco! Tradição não pode ser algo estanque, “mumuficado” , ou incorre em contrariedade às suas origens, como dizia Husserl: “a tradição é o esquecimento das origens”(sic). Qual o propósito da Festa da Uva, e especificamente do vestido referido? A mulher, a colona, o cerne referencial das soberanas (e de todas as candidatas, desde sempre!) não vestia brilho, saias de armação, mangas bufantes, cetim e lamê.

 

A tradição não pode afirmar-se numa destemporização, mantendo-se sem um auto-questionar-se constante, cerne da busca por um estilo singularizado. Concordamos com Vitor Ramil: “para estar viva, a tradição deve estrar justificada na expressão contemporânea – e ela estará justificada mesmo que o novo represente uma ruptura”(sic). A tradição não deve ser um peso a ser suportado, nem um amontoado de fórmulas a ser repetida. O compositor destaca que “assumir um personagem para afirmar a própria identidade é, na verdade, fragiliza-la” (sic). Orientar a tradição, desapropriando o popular é uma violência.

 

A criação de Gelain é o oposto disso. Valoriza o passado, a mulher imigrante, a mulher colona, visibiliza suas dores, suas marcas, suas verdades. Retoma suas roupas originais, seu vestir/desvestir. E o mais importante, funda-se no passado, mas o atualiza, para o contemporâneo (suas preocupações, seus temas, o empoderamento do feminino) e para a realidade daquela que o veste, não incorrendo em estereotipia e personagem (com a muito vem se fazendo com os vestidos das candidatas).

 

Vestido de Rico Bracco foi produzido com tecidos biodegradáveis, tingidos com pinhão (araucária como a árvore nativa da região!). Complementam a criação, o trabalho da bordadeira local Catelini Padilha, a tela de seda-linho da Casulo Feliz e o macramê de Ana Casara. O abotoamento orgânico, com detalhes da vida de Bruna, as pregas, os bordados, o design (que lembra também o desnudamento), tudo está em harmonia, em equilíbrio criativo.

 

A inovação, sem ignorar a tradição (as origens, incluindo a vestimenta, por exemplo, de Adélia Eberle, a primeira rainha da Festa) é a chave para práticas alinhadas ao contemporâneo. Gelain o fez brilhantemente nesta criação e a Festa da Uva acertaria – e muito! – se solicitasse ao artesão a idealização e a produção dos vestidos oficiais das soberanas.

 

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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Fotos by@GuiReOli

Fotos de Bruna fornecidos pelo Designer de Moda

 

 

Segunda, 14 de setembro de 2020

O tradicional e o retrô na CASA BRANCA

 

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Localizada na icônica casa onde, por muitos anos, funcionou a produtora de formaturas GOLLO FECIT, casa essa de proprietárias ligadas às artes (aqui incluímos a arte do vestuário), está instalada a CASA BRANCA ALFAIATARIA E BOUTIQUE. O simbólico nome, que evoca a sede do governo dos EUA e, consequentemente, poder e prestígio, dá o tom da loja especializada em roupas masculinas e sua alfaiataria.

 

Contrariando o senso comum, a proprietária considera o público masculino mais versátil, diferente e mais fácil de agradar, uma moda com mais amplitude. Isso porque, no contemporâneo, os homens estão mais preocupados consigo, cuidando mais de sua imagem, sem deixar de lado a praticidade.

 

A CASA BRANCA alia o clássico com o moderno, especialmente em roupas alto-esporte e social, congregando gostos mais conservadores (por exemplo, ternos escuros) com mais progressistas (que investem em peças de tendências, com cortes, cores e combinações alinhados aos últimos desfiles internacionais). Por isso, embora a loja atenda mais advogados e empresários, oferece consultoria de moda, atendendo a diferentes públicos, o que se reflete também no serviço "sob medida", que quase não se encontra mais em cidades como Caxias do Sul (cabe destacar que a proprietária realizou curso especializado na área, em fábrica de ternos e costumes).

 

Há um certo tom aconchegante no ambiente da loja, como se entrássemos realmente em uma casa, tendo em vista o design intimista, como o uso de cores mais sóbrias. Prova disso, é que clientes aproveitam o ambiente para Happy hours.

 

A qualidade, sem dúvida, começa pela compra dos produtos. E a CASA BRANCA investe neste quesito, não só adquirindo grandes marcas, mas pensando nos detalhes: peças exclusivas, tecidos de alta qualidade, cortes e acabamentos impecáveis, diversificação de cores (por favoooor, mais cor para o masculino!!) e para consequente maior possibilidade de combinações, conforme o estilo do cliente.

 

Aliás, diferentes estilos (e novas combinações inusitadas) ali podem ser encontrados: o tradicional, a tendência e o retrô (forte na atualidade - os "vintage" que o digam). Nesse sentido, destacam-se cores claras, xadrez, risca de giz, e mesmo o duplo abotoamento (ou trespassado) em ternos e costumes. Destaque maior para itens que eram moda em certo tempo, sumiram das prateleiras e hoje são de uso de homens alinhados ao que há de mais moderno: o colete - que era parte do terno, hoje é usado com ou sem ele - , a gravata borboleta e o suspensório. A onda retrô, que abarca também o lenço no bolso do costume, o corte mais slim (forte nos anos 50 do século passado), se faz presente em objetos de decoração da loja (como uma lambreta exposta nas dependências- linda!!) e no encontro anual de carros antigos promovidos pela CASA BRANCA.

 

 

 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241


VERA MARTA REOLON

MTb 16. 069


Fotos by@GuiReOli

 

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