performance
A casa de andorinha (1983)
Salvador Dalí
73x92,2cm
Doação de Dalí ao Estado espanhol
Aqueles que conhecem nosso trabalho sabem que dedicamos pouco às performances. Pouquíssimas são as que consideramos. Intitulada VINCENT, a performance da Cubo 1 Cia de Arte, apresentada nesta quinta (07), durante o 10º Caxias em Movimento, surpreendeu. Principalmente porque materializa o conceito "performance": presentifica pela forma.
Pela forma, pelos significantes expressos em movimento, em pequenas frases proferidas, o universo de Vincent Van Gogh é transfigurado. Gestos, olhares, sons, objetos remetem à vida pessoal e às obras mais representativas do icônico pintor holandês.
As lutas internas, a religiosidade, as cartas ao seu irmão Theo, o fato de não conseguir retratar sua orelha na tela. Os girassóis (sementes), os corvos, o quarto, a penumbra do claro-escuro. Os excessos, os elementos repetitivos. Até mesmo uma irônica descrição da obra "Os Comedores de Batatas", numa clara demonstração da frieza dos historiadores de arte que, por vezes, se afastam da fruição e da expressividade.
Excelente execução, delicada e sem exageros. Uma amostra de todo o simbolismo de Van Gogh (até mesmo nos figurinos - roupas e calçados (botas). Assim como os singelos livros-arte entregues à platéia durante a apresentação: emblemáticos.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
Terça-feira, 14 de maio de 2019
R.A.L.E. questiona o habitat contemporâneo
Comecemos por uma crítica pontual: não cabe classificar apresentações de performance como arte visual, teatro ou dança. Este foi o caso de R.A.L.E., apresentado na quinta (09.05), na sala Álvaro Moreira, integrante da programação do Palco Giratório 2019, promovido pelo SESC. Construída para questionar o tratamento destinado a um terço da população brasileira como apenas um mero corpo, construído como um dispêndio de energia muscular, em meio à cidade desigual, a performance procurou mostrar que um dos maiores desafios é se sustentar perante o próprio corpo.
Assim, o que se viu foi um feixe de sentidos: desde a solidão (mesmo diante do convite a percorrer caminhos juntos) até o auto-flagelo (sem reação daqueles que observam), passando pela abstração que se converte em concreto: a dança urbana aparece no movimento cotidiano do andar, do fugir, do esconder-se, do pular, ultrapassar, em um processo dialético entre a vivência e o artificar, entre a vida e a arte.
A platéia, por outro lado, neste (e em outros casos), fica sem posição (contempla, passivamente, ou age?), tanto ao ver o performer traçar caminhos no chão (mesmo convidada fecha caminhos e não segue na construção) quanto ao assisti-lo na vida (ele olha para que o olhem, mas não tem esse retorno), no sofrimento (ele se joga no chão e, mesmo chocados, ninguém o acolhe) e na arte (só com um olhar-outro, ele faz uma conexão, e o espetáculo acaba).
Reflexo dos tempos contemporâneos?
Guilherme Reolon de Oliveira
MTb 15.241