teatro
O êxtase de Santa Teresa (1652)
G.L.Bernini
Santa Maria della Vitoria
Roma, Itália
Segunda- feira, 28 de janeiro de 2019
Triângulo Rosa – Uma História pouco Conhecida
Uma das principais funções do teatro, e da arte em geral, é a produção de SENTIDO, proporcionada pela Presença, que só acontece pela união de um roteiro inovador e/ou bem construído com uma boa interpretação dos atores. Se baseado em fatos reais, a presença e o sentido acontecem quando há fidedignidade ao fato histórico aliado a uma ficcionalidade sem exageros. Isso se viu em Os Homens do Triângulo Rosa, apresentado no último dia 24, no Teatro Renascença.
O ponto negativo, certamente, foi a duração do espetáculo (duas horas). Além de uma pesquisa histórica, que poderia ter sido melhor explorada, focando pontos sabidos sobre a Segunda Guerra e os horrores nazistas. A narrativa não seria prejudicada se reduzida a pouco mais de uma hora, dado seu conteúdo pesado e sofrido. Ademais cabe destacar o cenário (ainda que minimalista, focado no essencial), o figurino (condizente com os diferentes com textos da narrativa), a iluminação (uso de recursos cênicos que só colaboraram para o enriquecimento do texto) e a temática (a perseguição dos homossexuais pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, parte dessa pouco conhecida e divulgada).
Espetáculo e atuação da Cia merecidamente premiados.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
Segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Riobaldo em Monólogo
O Porto Verão Alegre sempre traz um mix de espetáculos inéditos e de muitas temporadas. Não havíamos assistido ao Sertão em Mim, apresentado no último dia 09, no Instituto Ling.
Livremente inspirado em Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, a peça procura interiorizar o texto, apresentando Riobaldo em diálogo interno, com seus medos e desejos, anseios e temores. De maneira minimalista, o espetáculo parece um resumo do texto original, destacando a relação do personagem com Diadorim e com o próprio sertão – o do espaço exterior e o do interior.
Cabe ressaltar que quase não houve mudança de figurino e o espetáculo não fez uso de cenário e pouquíssimo de elementos cênicos. Com duração curta, o destaque foi a iluminação – caracterizando transição de cena e de comportamentos do personagem .
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Quando a violência é o próprio cotidiano
A Cia Stravaganza, que sempre apresenta espetáculos muito bons, bem encenados e com excelente interpretação, subiu novamente aos palcos, desta vez com “Pequenas violências silenciosas e cotidianas”, apresentada no último dia 07, na Sala Álvaro Moreyra, em Porto Alegre.
A interpretação dos atores manteve o nível das demais encenações, coesa enquanto grupo. O decréscimo, se houve, foi nos demais quesitos cênicos: figurino, iluminação, cenário, até mesmo roteiro. Sabe-se, a proposta era diferente, mais alinhada às propostas pós-modernas, que esbanjam nos festivais de artes cênicas – e aqui pós-moderno é sinônimo de ausência (ausência de figurino, ausência de iluminação, ausência de cenário) e deficiência de roteiro. Claro, todos afirmarão que o teatro contemporâneo é “desconstruído”, é “minimalista” ou é a quebra da narrativa e da linearidade, etc etc. É uma pena que Stravaganza tenha se embrenhado nesse terreno.
Mas, no final das contas, o espetáculo não se reduz a isso – e o roteiro de “Pequenas violências...” supera os demais que se vê por aí. A Cia optou pela apresentação no escuro (nossa época é de trevas?) e pelo uso de lanternas para iluminar seus rostos ou corpos (nosso olhar? Pelo buraco da fechadura? Será que todos somos voyeurs? Será que todos “queremos” ser “Brothers”?).
A violência encenada é generalizada. E isso é bem verdade. Nosso tempo é violento. E a violência aqui, que parece pequena (pequenos atos?), se mascara com a pequenez, já que é grande demais (atingindo e ferindo mais que violências físicas e materiais). Tudo é violento: o desemprego, o trânsito, as relações amorosas (?!?), as relações entre os conhecidos. O discurso é violento. E isso se agiganta nos seus desdobramentos: a fila dos desempregados, a entrevista para o novo emprego, os formulários, a burocracia, a indiferença. E nos juízos: pensar que todos são inúteis (“90% da população”), detestar o cão do vizinho (porque é amado mais um ser humano), amar mais o cão (já que ele é o único que fica feliz com sua presença), embriagar-se, oferecer-se como objeto, planejar atentado (para assim ser visto!), ignorar o outro, ofender, julgar a aparência, fazer conjecturas sem qualquer fundamento. E, o pior, a violência do olhar (demonstrada no olhar para a plateia – que também é violentada!). Realmente, a violência é silenciosa e cotidiana!
OBS: A “violência” das filas e atrasos no Centro Municipal de Cultura permanece. Até quando?
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
domingo, 21 de maio de 2017
CAIO FERNANDO ABREU E MÁRIO QUINTANA NO PALCO
Dois dias marcaram o intervalo de aparecimento de Caio Fernando Abreu e Mário Quintana nos palcos de Porto Alegre, em pleno ano de 2017. Isso só foi possível pela destacada atuação de D.F. em Caio do Céu e Sobre Anjos e Grilos , respectivamente, apresentadas nos dias 07 (Teatro Renacença) e 08 (Teatro São Pedro).
Em Caio do Céu, a atriz esteve acompanhada por F.S. em atuação musical sem erros.
Afirmar, contudo, que tais espetáculos foram conduzidos de maneira precisa é tão pouco que os desmerece. Espetáculos na acepção mesma da palavra, Caio do Céu e Sobre Anjos e Grilos fugiram da habitual narrativa que caracteriza a arte cênica, incorrendo talvez em performance. Mas caracterizá-los como performance, em comparação a tudo que se apresenta sob tal nomenclatura, seria quase jogá-los no lixo. Os espetáculos constituíram-se como forma e conteúdo tão indissociáveis que se tornaram realmente obras de arte belas (assim mesmo – redundante!), algo tão raro num contemporâneo marcado pelo afastamento dos princípios norteadores da (est)ética* e desnorteado, ao mesmo tempo de como questioná-los ou superá-los.
Talvez incorram em performance, pois a excelente atuação de F.(conhecida pelo humor cáustico e hilariante de Pois é, Vizinha..., há vinte anos em cartaz) não deixa dúvidas que os escritores homenageados parecem estar realmente Presentes (e não só representados) no palco. Ambas as peças caracterizaram-se por uma reunião b em articulada de encenações – orações - apresentações de textos de Caio F. e Mário Quintana, gaúchos tão esquecidos, marginalizados e por vezes ignorados por gaúchos. Aliás, esse também é o mérito da Cia de Solos e Bem Acompanhados: dar visibilidade ao pensamento desses escritores, cortantes e certeiros em seus curtos, porém grandes textos. Nas duas montagens, há um mix de linguagens, bem apropriadas ao universo dos literatos citados: projeções visuais (aqui não cansativas e despropositais), música, uma espécie de contação de histórias, trechos de entrevistas.
Nesse sentido, Caio do Céu, cuja montagem é mais recente (e talvez, com isso, a Cia tenha aprendido com os resultados anteriores), tem mais méritos e merece uma avaliação pouco superior, já que soube transpor o mundo de Caio F. com mais fidedignidade, trazendo-o também como imagem (vídeos de entrevistas) e como imaginário (a música meditativa, os lenços encobridores / descobridores, o vestir-se / desvestir-se, a conversa com um terceiro ator à distância, a astrologia – característica da crença de Caio F.). Essa tal superioridade transparece no uso de elementos cênicos, mais presentes em Caio do Céu e numa escolha de edição textual, que parece mais apurada que Sobre Anjos e Grilos. Deste, porém, nada há que mereça reprovação, muito pelo contrário.
Os autores foram homenageados à altura de seus marcantes e belos trabalhos.
*est(ética) => assim mesmo com a estética deve ser...SEMPRE ÉTICA!.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
Segunda-feira, 23 de maio de 2016
BRECHT – desvendado! – DESVELADO????
Então.......fomos ver uma peça do Palco Giratório “Diga que você está de acordo! MáquinaFatzer” – do Teatro Máquina de Fortaleza – CE.
A peça se baseia em fragmentos achados de Brecht, desconhecidos do grande público, inicialmente não traduzidos e, após encontrá-los, traduzem o texto na USP e uma aluna de Pós Graduação resolve trabalhar um fragmento do “fragmento-texto original” em apresentação teatral com o grupo Teatro Máquina.
O fragmento:
Uma mulher e inicialmente três homens (um vestido de mulher) cheios de hematomas e bandagens, aparentam ter estado na guerra, vivem em um ambiente,em princípio, com certo equilíbrio.
Chega um quarto homem e inicia-se certo conflito, inicialmente para entrar na casa, depois para apossar-se do ambiente e da mulher.
O que se veste de mulher questiona a entrada do outro mostrando sua saia – “falta mulher para ti aqui dentro!” (sic) – ((sic) porque se precisa deduzir o que é dito, a linguagem é incompreensível). As palavras não são compreensíveis. Nada do que é verbalizado tem linguagem construída e constituída. A única coisa compreensível , lingüisticamente, é a frase da mulher, em desespero, dizendo “esta casa é minha” (sic).
A platéia então fica sabendo que a casa é dela, que estão ainda sob fogo da guerra e que os homens são atendidos por ela em seus ferimentos e alimentos (poucos!).
Quando o último introduzido na casa ataca a mulher, ela então ataca um, é atacada pelo que estava com saia, que então aparece sem saia, isto tudo enquanto o quartto (marido dela- segundo o grupo) come um fruto achado no chão, embaixo do assoalho.
O cenário - casa é destruído. O homem que foi “atacado” pela mulher aparenta ter morrido (tuberculose?). A mulher o prepara para enterro?!, enquanto os outros estão em uma aparente catarse.
Escurece o teatro. Silêncio!
Alguns, depois de segundos, aplaudem.
Acende-se as luzes e os atores se apresentam para “agradecer”.
Interessante notar que, nos últimos tempos todos têm aplaudido em pé, os diferentes espetáculos. Neste não aconteceu. E nota mais grave ainda – foi um dos melhores espetáculos de muito tempo.
Discussão sobre a peça:
Os poucos da platéia que ficam para a discussão ouvem que a peça é resultado dos estudos de doutorado da “diretora” que, para tornar peça, trabalha “alunos”, o texto com diretor argentino e traz a peça ao público do Palco Giratório.
O que é apresentado sabe-se que é o fragmento do fragmento encontrado de Brecht. Que a peça é um despedaçamento, inclusive lingüístico, com o fim de “chocar” o público.
As grandes questões não são discutidas nem nas perguntas do interlocutor, nem pela parca platéia que permanece. Falam de atitudes “animalescas” dos personagens. Mas quê animal ataca sua espécie se não for apenas para saciar sua fome?
Só o “humano”.
O quê é Humano???
A tradição cristã da qual nossa cultura ocidental descende nos ensinou que ser humano é ser BOM, bondoso, compreensivo.....
Mas isso não é o homo sapiens - os assim denominados não são bons, são predadores em tudo, nos negócios dos outros, na administração de seus subordinados, na administração de verbas e negócios públicos, que deveriam defender com responsabilidade (cobrada – inclusive por magistrados públicos – pagos com dinheiro do POVO!), na condução das famílias que decidem- escolhem ter (inclusive os animais que adotam e deveriam proteger e não usurpar suas vidas!), nas crianças que geram e não deveriam abusar, sexual, financeira, educativa e moralmente.
Os animais??????
Animais não fazem isso, não roubam o semelhante, não matam, não estupram, não invadem, não torturam.
Só o “homem” o faz!
O que é Humano?
O que é animalesco?
Alguém deveria “ensinar”, inclusive à “diretora” e ao “diretor” argentino.
Claro que a “diretora” irá dizer “atingimos o objetivo que nos propomos, sob o prisma acadêmico do teatro” (sic) para “parecer” inteligente mas, se assim o fosse não o seria!
Como dizia um amigo antigo meu do teatro: teatro/atuação de verdade não se aprende na academia!
O que fica é o que Deleuze chamou de non-sense – não o sem sentido algum que alguns desavisados traduzem – mas o pleno de sentido – o sentido em sua potência máxima!!!
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Da identidade em cena (e fora dela)
O que é? A pergunta ontológica, que nos persegue enquanto indivíduos, sujeitos, grupos ou instituições é a marca do humano: questionar-se sobre a identidade dos seres e das coisas. Essência e aparência, identidade e diferença, assim, mais que palavras, são conceitos imbricados, que não permitem desvinculação.
O espetáculo “A comédia dos erros” (de Shakespeare), encenada, no último fim-de-semana, pela Cia Stravaganza, traz em seu bojo o questionamento sobre a identidade. Apelando ao cômico, mais para agregar o público à proposta (nos parece) que para divertir propriamente dito, a Cia apresentou um pré-show interessante e cativante: Laurita recebia o público com boas-vindas, enquanto no palco e na platéia outros personagens vendiam água com ou sem “gases”, cachaça, cerveja e amendoim (este “para dar energia”), “tiravam” a sorte (“para depois devolvê-la”).
O pré-show acabou, Laurita sobe ao palco, tira peruca, cílios postiços e maquiagem: o ator “sai” do personagem e transforma-se em outro (ou em si mesmo?). E a introdução ganha fôlego: você é o que você é: japonês, freira, mercador, prostituta: como você é visto, como você se vê.
A peça acontece: da confusão entre duas duplas de gêmeos e os que os circundam, inclusive os desconhecidos pai e mãe, nascem os erros da comédia que leva o espectador para além do riso: à reflexão e ao questionamento.
Atuações muito boas, com atores versáteis (que “trocam” de personagem mesmo no palco), cenário bem construído (para a conjugação de texto e contexto sem quebras), figurinos característicos e uma sonoplastia excelente (que conferiu agilidade e dinâmica). Tudo isso tornou o espetáculo um ótimo espetáculo.
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
O QUE É IDENTIDADE??????
O que identifica o ser???????
O que identifica um ator, um personagem, um intérprete??????
Neste Porto Verão Alegre....duas peças abordaram a questão de gêmeos que, em princípio, seriam idênticos, confundíveis, daí a comédia que adviria da confusão gerada pela presença dos dois em um ambiente, sem que eles saibam do outro e nem seus interlocutores..
As duas peças;
OS DOIS GÊMEOS VENEZIANOS.........do GRUPO CATARSE....... que já no nome dava a indicação do que viria e, a ótima........
A COMÉDIA DOS ERROS, baseada em texto de Shakespeare, encenada pela COMPANHIA STRAVAGANZA.............
Então, sobre esta última:
Já na entrada da peça se percebeu que o que viria não seria comum, com uma feira turca de venda de produtos à platéia.
Registre-se que, diferente de sempre, no Teatro Renascença, as portas do teatro foram abertas quinze minutos antes do horário, tempo necessário à acomodação da platéia e ao desligar das maquininhas viciantes, - OS QUE CONSEGUEM FAZÊ-LO, pois mesmo que peçam que o façam, os mais viciados NÃO O CONSEGUEM.......(note-se que sempre que se critica o uso das maquininhas viciantes, as companhias telefônicas dão brindes aos dependentes - sim, já percebemos isso - as multas a nos pagar SÃO MUITO ALTAS???!!!!)................ permitindo assim, que o espetáculo inicie no horário proposto......
Diferentemente da OS DOIS GÊMEOS VENEZIANOS, que parecia mais uma peça destinada ao público infantil - inclusive com crianças pequenas na platéia - a COMPANHIA STRAVAGANZA apresentou um espetáculo digno do nome de Shakespeare.
O cenário criado propiciava que se entrevisse por entre os panos a troca de figurino com mudança do personagem e, mesmo assim, o ator, no processo, ia incorporando o novo personagem, fazendo assim com que o público participasse do processo.
As diferentes personagens conduzem uma platéia razoavelmente inteligente que siga com os personagens na busca de uma explicação à questão inicial - O que é identidade, enfim...
Sim, conseguimos entender o recado!!!!!!!!!!!!!!!
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069